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Cinema: 'O Guardiao da Floresta' discute nazismo
Do Diário do Grande ABC
06/05/1999 | 14:56
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Volker Schlondorff contou que John Malkovich nao foi sua primeira escolha para o elenco de "O Guardiao da Floresta", que estréia nesta sexta (07). Ele queria fazer o filme com Gérard Depardieu, mas o ator francês nao ficou interessado. Malkovich embarcou imediatamente no projeto. "Havíamos trabalhado juntos em "A Morte do Caixeiro Viajante" nos Estados Unidos, em 1985", lembra Schlondorff. Ele diz que com Depardieu o lado "ogro" do personagem talvez fosse favorecido, mas com Malkovich o ogro ficou mais nuançado do ponto de vista da construçao interior. "Que Gérard nao me ouça, mas John é um ator mais completo", diz Schlondorff.

"O Guardiao da Floresta" reabre a discussao sobre o nazismo. É uma produçao cara para os padroes do cinema alemao atual (US$ 10 milhoes). A entrada de capitais internacionais no projeto obrigou Schlondorff a fazer concessoes. Ele queria que o filme fosse falado em francês e alemao. Teve de rodar em inglês. É uma adaptaçao do romance "O Rei da Floresta", de Michel Tournier. Schlondorff confessa que o livro o assustou e fascinou ao mesmo tempo. Oferece uma visao extremamente francesa dos alemaes, como um conto de fadas verdadeiro. O mais difícil, segundo o diretor, foi achar este tom.

É a história de Abel, o ogro do título original (The Ogre). Abel é um gigante simples, um visionário de pouca visao que está sempre juntando as maos para fazer um berço para uma criança pequena. Abel considera-se um predestinado. Quando o filme começa, para fugir a um castigo, ele diz que gostaria que o internato religioso em que estuda pegasse fogo. É o que acontece. Pela vida afora, esse homem imaturo vai sempre achar que poderá resolver assim os seus problemas, como se houvesse uma saída mágica para tudo.

Ele se envolve diretamente com Goring e depois vai trabalhar num castelo que funciona a como centro de treinamento dos nazistas para garotos. Sua funçao é recrutar meninos nas redondezas, levando-os para o castelo. Isto cria a fama do ogro. Mas este ogro tem um coraçao. Quando a derrota é inevitável, tenta salvar suas crianças, mas choca-se com o fanatismo quase religioso que elas revelam pelo nazismo. Abel salva um garoto judeu. Carrega-o na travessia de um rio, quando recria a célebre passagem de Jesus Cristo e Sao Cristóvao.

O menino é franzino, mas Abel diz que nunca carregou um peso tao forte. O que ele carrega, na verdade, é a culpa do povo alemao durante o nazismo, que Schlondorff exorciza neste filme. O cineasta é conhecido por sua mao pesada (e isso nunca ficou tao evidente como na sua adaptaçao de Marcel Proust, Um Amor de Swann, que simplifica demais as sutilezas do escritor). "O Guardiao da Floresta" nao é o filme horrível criticado pelos "Cahiers du Cinéma", que detestam Schlondorff. Também nao é o grande filme saudado pela crítica americana. Fica num meio-termo respeitável. A curiosidade é que os interiores foram todos rodados nos Estúdios Babelsberg, sede da antiga UFA. Schlondorff atual diretor de Babelsberg, filmou sua saga antinazista nos mesmos estúdios em que Fritz Lang criou "Os Nibelungos", impregando a tela dos mitos alemaes sobre os quais o nazismo gostava de se alicerçar.




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