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Pinacoteca tem nova direção
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
26/01/2002 | 15:06
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A Pinacoteca do Estado de São Paulo, um dos mais respeitados e visitados museus de arte do país, está sob cuidados de novas mãos. O artista plástico Emanoel Araujo, após competente trabalho iniciado em 1992, passou há uma semana o cargo de diretor da instituição a Marcelo Araujo, museólogo que já ocupou a diretoria do Museu Lasar Segall.

Embora com o mesmo sobrenome, os dois não são parentes. Emanoel está na Bahia, seu Estado natal, mas antes de viajar adiantou seus planos para o futuro (leia mais nesta página). Já o paulistano Marcelo se diz instigado com o desafio de administrar a Pinacoteca. Confira a seguir trechos da entrevista feita pelo Diário com o novo diretor.

DIÁRIO – Sua indicação para a direção da Pinacoteca foi feita por Emanoel Araujo?

MARCELO ARAUJO – Sim, e para mim é um mérito ser indicado por ele. É uma demonstração de reconhecimento do meu trabalho.

DIÁRIO – O senhor entra no museu em um ótimo momento da instituição. Isso lhe causa apreensão?

ARAUJO – De forma alguma. É um privilégio assumir a diretoria, e encaro isso com serenidade. Afinal, há cerca de 20 anos trabalho com museologia. A Pinacoteca ocupa um lugar de destaque no cenário cultural nacional, e mesmo internacional. Assumir é um desafio, mas é instigante.

DIÁRIO – Quais são seus projetos?

ARAUJO – Darei atenção especial à área educativa. O público já tem acesso à arte de diversas formas, como as galerias, que têm mostras gratuitas. No entanto, acredito que os museus devem fazer a mediação entre o público e a obra de arte. Isto é, para se entender uma obra existem códigos: ler uma obra demanda aprendizado. E alguém tem que transmitir esse conhecimento. A função do museu é estimular pessoas a adquirir conhecimentos. Elas precisam saber das questões técnicas para reconhecer o valor das obras. Pretendo fazer com que a Pinacoteca atue nessa mediação, por meio de visitas monitoradas, cursos de capacitação de professores e produção de material pedagógico.

DIÁRIO – O senhor tem outros planos?

ARAUJO – Muitos projetos meus continuarão o trabalho do Emanoel, como a divulgação da arte brasileira. Outra linha fundamental é a realização de exposições históricas que enfoquem questões do processo cultural da cidade de São Paulo e que tenham relação com a Pinacoteca.

DIÁRIO – Por exemplo?

ARAUJO – Sobre o Liceu de Artes e Ofícios, que foi a primeira escola de artes de São Paulo, formou muita gente e originou a Pinacoteca. Outra sobre o Pensionato Artístico (1912-1931), bancado pelo governo do Estado, que oferecia bolsas para artistas se formarem na Europa. Entre outros, Anita Malfatti e Victor Brecheret participaram. Ao voltarem, doavam uma obra à Pinacoteca.

DIÁRIO – Há diferenças entre administrar o Museu Lasar Segall e a Pinacoteca?

ARAUJO – Conceitualmente nenhuma. O processo de trabalho é o mesmo: restauração, documentação, realização de exposições etc. O que muda é a inserção no cenário, a localização e a proporção. Em relação ao Segall, os trabalhos na Pinacoteca serão potencializados.

DIÁRIO – A visitação é gratuita. Continuará dessa forma?

ARAUJO – A entrada franca continua. Acho fundamental assegurar esse direito da população, pois com ele cresce a visitação. Temos de saber que muita gente não tem como pagar para ir a museus. Estou pensando também em estratégias para trazer o público que não é cativo. Imagino, por exemplo, parcerias com escolas e sindicatos.

DIÁRIO – Qual é a sua formação?

ARAUJO – Sou graduado em Direito e minha especialização é em museologia. Sou professor convidado do curso de Especialização em Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (Universidade de São Paulo). Comecei como estagiário de museologia no Museu Lasar Segall em 1981, do qual fui diretor a partir de 1997. Já minha tese de doutorado devo defender daqui a dois meses.

DIÁRIO – Sua tese é sobre a Pinacoteca?

ARAUJO – Outra coincidência. Analiso o ingresso das quatro primeiras obras modernas no acervo da Pinacoteca: A Portadora de Perfumes (Victor Brecheret), Bananal (Lasar Segall), Tropical (Anita Malfatti) e São Paulo (Tarsila do Amaral). Elas chegaram entre os anos 20 e 30. Até então, a Pinacoteca não tinha obras modernas, só acadêmicas. Esse fato marca o reconhecimento público do valor dessas obras e é um momento importantíssimo do modernismo brasileiro: o primeiro contato dos modernistas com museus do país.




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