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São Bernardo alfabetiza operários no canteiro
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
27/05/2010 | 08:01
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Joaquim Oliveira da Silva completou ontem 56 anos e até uma semana atrás nunca havia entrado em uma sala de aula. "Agradeço a oportunidade de sentar para aprender o alfabeto assim desse jeito como agora, letra por letra. De tanto ver, decorei algumas palavras e sei pegar ônibus, ler algumas placas", relatou Joaquim, que mora no Grande ABC desde 1979, quando começou como carpinteiro. Vindo do sertão cearense, atualmente exerce a função no canteiro de obras do Conjunto Três Marias, no bairro Cooperativa, em São Bernardo e é um dos 26 alunos da turma de alfabetização.

Outros 21 alunos da obra, em estágio mais avançado, devem se juntar à classe em breve. A sala de aula instalada no canteiro de obras da construtora OAS faz parte da política de trabalho decente do município, que assinou no dia 13 decreto que obriga empresas vencedoras de licitações pública a cumprir com legislação trabalhista e dar condições dignas aos trabalhadores. Segundo Tássia Regino, secretária de Habitação, a ideia é estender o projeto para os outros nove contratos fechados atualmente. Com isso, pode chegar a 400 o número de operários beneficiados.

A OAS, escolhida pela Prefeitura de São Bernardo para iniciar a parceria, já alfabetiza seus empregados há 10 anos.

"É importante dar condições dignas no ambiente de trabalho, mas em ir além e dar condições para que o trabalhador cresça", declarou o prefeito Luiz Marinho (PT), que participou, ontem, da aula e deu relato sobre sua experiência de vida. Nascido em Cosmorama, região de São José do Rio Preto, começou a ir a escola aos 7 anos, em Santa Rita D'Este, onde foi criado. Por causa do trabalho na roça e, depois, como metalúrgico, deixou de frequentar a sala de aula.

Aos 40, retomou os estudos no Ensino Médio e se tornou bacharel em Direito. "Fui dirigente sindical, ministro e agora prefeito. Deixo aqui uma provocação: o resultado vai depender do esforço de cada um de vocês até onde querem chegar", disse o prefeito aos alunos.

Aos 40, Wilson Joaquim da Silva começa a trilhar o mesmo caminho. Chegou a frequentar a escola aos 7 anos, em Recife, Pernambuco, mas aos 8 fugiu de casa por causa da violência que sofria do pai. "Morei na Praia de Boa Viagem e um casal acabou me dando casa e comida em troca de trabalho, no interior do estado. Sei assinar meu nome mas quero descobrir as novidades do mundo e ler direito as placas das obras que faço", contou o pernambucano, que mora em Santo André.




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