O presidente George W. Bush e o Congresso americano se preparam para homenagear o Dalai Lama em uma cerimônia que poderá irritar consideravelmente a China, que considera o líder espiritual tibetano um separatista.

Ignorando a postura chinesa em relação ao Dalai Lama, Bush participará na quarta-feira pela primeira vez de um evento público com o homem que simboliza no exterior a luta pelos direitos fundamentais na China. Esta será a primeira vez que um presidente americano em exercício aparecerá em público com o Dalai Lama.

E as circunstâncias em que este encontro ocorrerá têm todos os ingredientes para aborrecer o governo chinês. A presidente da Câmara de Representantes, Nanci Pelosi, concederá ao Prêmio Nobel da Paz de 1989 a mais alta distinção civil do Congresso americano durante uma cerimônia que deverá ter a presença de Bush.

No dia anterior, Bush pretende receber na Casa Branca o 14º Dalai Lama. Ele fará isso, como em ocasiões anteriores, na residência longe das câmeras e não no Salão Oval, para não aumentar ainda mais o provável descontentamento do governo chinês.

Pequim, no entanto, já expressou seu mal-estar ao Congresso, embora não à Casa Branca. A China "se opõe com veemência" a qualquer um que explore o Dalai Lama para "interferir em (seus) assuntos internos", disse o porta-voz das Relações Exteriores, Liu Jianchao.

O líder espiritual tibetano fugiu do "teto do mundo" após a violenta repressão contra a resistência do Tibet em 1959, e vive exilado na Índia desde então. Para a China, o Tibet é parte inalienável do país e o Dalai Lama trabalha por sua independência.

A Medalha de Ouro do Congresso tem motivos para aborrecer as autoridades chinesas, já que recompensa as "numerosas, duradouras e notáveis contribuições" do Dalai Lama "para a paz, a não violência, os direitos humanos e a concórdia religiosa". Este reconhecimento o coloca no panteão parlamentar ao lado de Martin Luther King, do papa João Paulo II e Nelson Mandela.

Bush deverá pronunciar algumas palavras e dizer que o Dalai Lama é "um grande líder espiritual", indicou a porta-voz da Casa Branca Dana Perino, acrescentando que o presidente americano o receberá na terça-feira por sua "luta pela liberdade e pela democracia".

O governo Bush mantém relações francas com os chineses. Não está feliz com a situação dos direitos civis nem das relações comerciais, e acompanha com atenção o aumento do poderio econômico e militar da China.

Mas os Estados Unidos também dependem em assuntos internacionais de seu sócio chinês no Conselho de Segurança da ONU, como na desnuclearização da Coréia do Norte, a crise nuclear iraniana e a repressão das manifestações em Mianmar.