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Região precisa definir vocação para parque tecnológico
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
09/08/2009 | 07:18
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A principal diferença entre o parque tecnológico que se pretende implementar na região até 2011 e o visitado por comitiva liderada pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC em São José dos Campos, na semana passada, é a quantidade de prefeituras e entidades representativas envolvidas em um único processo. E é aí mesmo que residem as dificuldades.

Na avaliação do prefeito de Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira (PSDB), também presidente da Agência de Desenvolvimento do Grande ABC, o processo de implementação do parque na região pode ser mais rápido que o de São José - que demorou quatro anos (veja na reportagem abaixo) - se alguma prefeitura se apropriar disso.

"O Grande ABC reúne todas as condições necessárias para formar um parque tecnológico. O governo do Estado está nos estimulando e temos diversos pontos a nosso favor: agência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), universidades, incubadoras, APLs (Arranjos Produtivos Locais) e um mercado pujante. Porém, as prefeituras que têm disponibilidade de espaço precisam tomar frente no processo", afirmou, complementando que não é o caso de seu município e referindo-se a Santo André ou São Bernardo - cidades cotadas para sediar a iniciativa.

VONTADE POLÍTICA - Para Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo) e vice da Agência, em primeiro lugar é preciso vontade política para tirar do campo das ideias o projeto existente desde o início dos anos 2000. "É necessário também que haja união entre os participantes (governo, entidades e iniciativa privada), além de envolvimento do Poder Legislativo", pontuou.

O secretário do Desenvolvimento de Ribeirão Pires, Marcelo Menato, entende que o processo ainda esteja no início, mas defende que é necessário parar com as discussões e tratar de fazer logo uma parceria público-privada. "Vendo o parque tecnológico de São José fiquei impressionado. Eles estão muito avançados, e nós só ficamos apagando incêndio. Acho que o Grande ABC está dormindo no ponto."

O secretário de Administração de Modernização de Santo André, Jorge Luiz Guzo, concorda com Menato. "Não vamos demeritar a iniciativa de conhecer um modelo de sucesso para inspirar o nosso. Porém, isso deveria ter acontecido há mais tempo. No mundo, parques tecnológicos já existem há 20 anos."

VOCAÇÃO - Na opinião de Celso Amâncio, secretário do Desenvolvimento Econômico de São Caetano, é necessário encontrar uma vocação de inteligência e uni-la à produção da região. "Na Suíça, fabrica-se o melhor chocolate do mundo sem ter um pé de cacau. A Alemanha é a maior exportadora de café sem ter plantação. Aqui precisamos definir em que queremos ser os melhores", exemplificou.

Segundo Guzo, um ponto essencial a ser considerado no momento é qual a vocação de cada um dos sete municípios. "E precisamos analisar se elas são convergentes, complementares ou adversárias. Tudo indica que elas são complementares, mas precisamos ter certeza", ressaltou.

Para ele, é crucial identificar um foco que atenda todos os jogadores, sejam prefeituras, associações, universidades ou empresas. "Não podemos errar na escolha dos objetivos do parque tecnológico. No que será prioritário para um mas não para o outro, pois se atender mais a um do que ao outro, a motivação acaba".

E, para Guzo, é o Consórcio que tem esse papel, de conciliar as dificuldades e administrar um consenso.

Em São José, investimento já chegou a R$ 1 bilhão em 4 anos

Embora ainda não seja possível mensurar o montante a ser investido no parque tecnológico do Grande ABC, os atores envolvidos ressaltam que o problema não é o dinheiro, mas o foco.

E, de fato, eles têm razão. No parque de São José dos Campos, onde já foi investido R$ 1 bilhão em quatro anos, segundo o diretor de operações técnicas, José Raimundo Coelho, alguns dos recursos conquistados a partir de fundos voltados ao fomento de tecnologia só foram possíveis graças ao projeto focado, com os objetivos definidos. "Se não for assim, nem adianta tentar que não se consegue o incentivo". O município é referência no País em tecnologia aeronáutica.

Em 2005, quando surgiu a ideia do parque, a partir do protocolo de intenções do governo do Estado e do município, a prefeitura conseguiu comprar por US$ 7 milhões um edifício de 30 mil metros quadrados em um terreno de 188 mil metros quadrados, que demandou investimento de mais de US$ 30 milhões para sua construção. "Uma empresa havia falido e vendeu por uma bagatela o local", contou Coelho.

Hoje, o perímetro urbano do parque atinge 12,5 milhões de metros quadrados e abriga, entre outros, as universidades Unifesp, Unesp, ITA e Fatec, Senai, Centro de Desenvolvimento de Energia da Vale do Rio Doce, CTA (Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial), INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) até mesmo um condomínio de micro e pequenas empresas.

Atualmente, o parque emprega 26 mil pessoas. "Em 20 anos, aqui se formará uma cidadezinha com 100 mil habitantes", disse Coelho. Como estímulo ao crescimento, a prefeitura oferece incentivo fiscal para as empresas que desenvolvem tecnologia nesse perímetro.

Na opinião do prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, o Brasil precisa de um sistema de parques. "No Grande ABC existe um forte potencial, pois São Bernardo é o cérebro da indústria automotiva brasileira. Recomendo a vocês que conheçam também algum parque fora do País. Eu conheci e isso mudou minha visão", afirmou, durante visita de comitiva liderada pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC ao local, na quinta-feira. A próxima será ainda neste mês ao Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul.




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