Setecidades Titulo Saúde
São Bernardo terá
R$ 1 mi contra crack

Única cidade que não é capital a integrar lista de municípios
beneficiados por plano federal apresenta iniciativas modelo

Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
18/12/2011 | 07:00
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O Ministério da Saúde irá liberar nos primeiros dias de janeiro a verba de R$ 1 milhão para São Bernardo para ações imediatas de combate ao crack. A informação foi dada ao Diário com exclusividade. A cidade é a única que não é capital a compor a lista de municípios beneficiados pelo Plano Nacional de Combate ao Crack.

São R$ 14,7 milhões destinados também a Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Salvador e Recife. Segundo o coordenador de Saúde mental do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, São Bernardo foi escolhida por possuir programa inovador. "Muitas das ações aplicadas na cidade serviram de exemplo para a elaboração do Plano Nacional, como a implementação de rede integrada de serviços, com Centros de Atenção Psicossocial, consultórios de rua e casa de acolhimento."

A verba será aplicada na construção de Caps 24 horas e duas unidades de acolhimento adulto com 50 leitos. Os Caps tem leitos diurnos e noturnos para realizar o acompanhamento clínico do paciente. São divididos em diferentes modalidades, cada um com um tipo de público (adultos, crianças/adolescentes e usuários de álcool e drogas), a depender do contingente populacional a ser coberto (pequeno, médio e grande porte) e do período de funcionamento (diurno ou 24 horas).

Leitos nas enfermarias especializadas em álcool e drogas serão usados para atendimentos e internações de curta duração durante crises de abstinência e em casos de intoxicações graves. O serviço possui equipe multiprofissional para atender crianças, adolescentes e adultos. Para estimular a criação dos espaços, o valor da diária de internação aumentará de R$ 57 para até R$ 200.

Já os consultórios de rua são compostos por profissionais que fazem intervenções de Saúde para população em situação de rua, incluindo locais de uso público de drogas, as chamadas cracolândias. As unidades de acolhimento possuem equipe profissional disponível 24 horas para cuidados contínuos em regime residencial por até seis meses, além de realizar estabilização e controle da abstinência.

PLANO NACIONAL

Segundo Tykanori, o Plano Nacional está em processo de implementação no País e agora depende da articulação entre as esferas federal, estadual e municipal para definir parcerias em programas de atendimento aos usuários. "Essas redes estão se formando, mas é preciso aumentar o acesso às políticas públicas em todo o Brasil. Diadema, por exemplo, é destaque em seus esforços na Saúde, mas carece de mais recursos para projetos."

A liberação de novos recursos também está em processo de avaliação no Ministério da Saúde. Até o fim de 2012 serão investidos R$ 410 milhões para combater o consumo de crack e outras drogas no País. O enfrentamento prevê três frentes, que vão abordar prevenção, combate ao tráfico e tratamento. As ações são executadas por quatro órgãos federais inseridos no plano: ministérios da Justiça (R$ 120 milhões), do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (R$ 100 milhões), Secretaria Nacional Antidrogas (R$ 100 milhões) e Ministério da Saúde (R$ 90 milhões).

Esses recursos serão aplicados tanto na ampliação da assistência direta à saúde de usuários de crack e outras drogas como também na capacitação de profissionais de Saúde que atuam nesse segmento.

Consultórios móveis atendem nas ruas

Criado em outubro de 2010, o projeto Consultório de Rua, de São Bernardo, percorre pontos de consumo de drogas ou concentração de moradores de rua, geralmente entre 16h e 17h, diariamente. O objetivo é estabelecer vínculos e oferecer atendimento em Saúde aos usuários.

A equipe volante, constituída por dois profissionais da Saúde mental, seis redutores de danos, um médico de família, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro e técnico de enfermagem realiza rotina de atividades e intervenções psicossociais e educativas na rua. Os veículos são equipados com insumos para tratamento de situações clínicas comuns, além de preservativos, cartilhas e medicamentos de uso mais frequente.

Segundo o secretário de Saúde Arthur Chioro, "o fenômeno do uso abusivo de álcool e drogas, pelo alto grau de complexidade e magnitude, deve ser visto para além das políticas de Saúde, já que seus efeitos afetam a qualidade de vida dos usuários, familiares e a relação com o trabalho e a sociedade."

A equipe do Consultório de Rua mapeou os locais onde se encontravam os moradores de rua e iniciou o estabelecimento de vínculos, verificando que a maioria deles se concentra na região central da cidade.

DIADEMA

A Prefeitura de Diadema também mantém o programa Consultório de Rua em Cena, realizado em praças e viadutos. São distribuídos preservativos e panfletos com orientações na Praça da Moça, localizada no Centro da cidade, onde há maior concentração de jovens.

São realizadas atualmente quatro saídas a campo por semana. As abordagens serão ampliadas com a entrega da unidade móvel do Consultório de Rua, que está prevista para o próximo mês.

O projeto também realiza encaminhamento para serviços sociais, que vão desde solicitação para benefícios como Bolsa Família, encaminhamento para Unidades Básicas de Saúde, Caps AD, encaminhamento para segunda via de documentos e albergue.

CRACK

O crack é uma substância derivada da cocaína, apresentada em forma de pedras, feita a partir da mistura da pasta base com diversos produtos químicos. É uma droga estimulante do sistema nervoso central, que causa o aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos.

O uso frequente pode provocar convulsões, parada cardíaca e levar à morte.

Caps 24 horas atenderam 286 usuários de crack em outubro

O Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas 3 - Adulto e o Caps 3 AD Infanto-Juvenil de São Bernardo, ambos 24 horas, atenderam 286 usuários de crack somente em outubro.

Na primeira unidade, foram 1.629 atendimentos a dependentes de álcool e outras drogas, além de auxílio a 171 familiares. A maior parte (522 atendimentos) foi direcionada a pessoas na faixa etária de 45 a 54 anos, seguida pela faixa de 35 a 44 anos (505 atendimentos). Desse total, 1.172 são dependentes de álcool, 461 de álcool e outras drogas e 91 de crack e/ou cocaína.

Já a unidade Infanto-Juvenil registrou 195 atendimentos a jovens dependentes químicos e mais 38 familiares. A totalidade dos jovens é dependente de múltiplas drogas, como crack, cocaína e álcool. A faixa etária varia entre 12 e 17 anos. As unidades ficam na Rua Pedro Jacobucci, 470, Centro, e Rua Sacramento, 191, Rudge Ramos. Cada uma conta com oito leitos.

O serviço de Saúde mental de São Bernardo só adota a internação em casos de crise do paciente e por curto período de tempo, até que ele possa retomar o atendimento ambulatorial. Além dos leitos existentes nos Caps AD, também podem ser utilizados outros no PS Central.
Quando o Hospital de Clínicas for inaugurado - as obras estão em andamento e a conclusão está prevista para março -, o município terá outros 20 leitos para desintoxicação de pacientes com dependência química.

REPÚBLICA

Em outubro começou a funcionar a República Terapêutica, localizada no bairro Taboão, para acolhimento de adolescentes em situação de vulnerabilidade social ou com perda de vínculo familiar, que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas. O serviço trabalha em articulação com o Caps AD Infanto-Juvenil, que propicia a retaguarda nos cuidados aos dez adolescentes que ficam abrigados na casa recém-inaugurada.

Em 25 de janeiro será aberta a primeira República Terapêutica destinada a adultos do sexo masculino em situação de rua que queiram se tratar da dependência de álcool e drogas. Essas pessoas ficarão abrigadas provisoriamente no local, ao mesmo tempo em que participarão de projetos terapêuticos e de geração de renda desenvolvidos pelo Caps. Uma equipe de cuidadores manterá plantão de 24 horas na casa para qualquer tipo de emergência.

Outra medida implementada em agosto deste ano foi o Conselho Municipal de Prevenção e Atenção às Pessoas em Uso Abusivo de Álcool e Outras Drogas. É formado por 23 titulares e 23 suplentes, representantes do poder público e da sociedade civil, que têm como responsabilidade formular e avaliar as políticas públicas voltadas à prevenção ao uso de drogas e ao tratamento e reinserção social dos usuários.




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