Economia Titulo
Brasil tem a gasolina
mais cara das Américas
Alexandre Melo
Do Diário do Grande ABC
14/04/2011 | 07:09
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Abastecer o automóvel com gasolina em Nova York é mais barato do que em São Paulo. Apesar do Brasil ser autosuficiente na produção de petróleo e do preço não ser reajustado, oficialmente, pela Petrobras desde junho de 2009. A carga tributária representa 57% valor do litro do combustível.

O litro da gasolina na Capital paulista, de US$ 1,73, é o mais caro do continente americano, aponta pesquisa realizada em março pela Airinc, consultoria norte-americana especializada em preços globais. Os novaiorquinos desembolsam em média US$ 1,01 a cada litro nas bombas dos postos.

Santiago, capital chilena, registra o segundo maior preço das Américas, valor médio de US$ 1,57 (veja arte acima). No ranking das localidades mais cara para abastecer Cuba figura no terceiro lugar (US$ 1,35), Canadá em quarto (US$ 1,31).

Os venezuelanos que moram em Caracas são os que pagam mais barato pela gasolina no mundo. O diretor de marketing da Airinc, Scott Sutton, diz que "o governo dá forte subsídio à gasolina, fazendo com que o preço caia e seja praticamente um benefício social para a população". O país também é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

IMPOSTOS - Segundo o sócio da BB Consult, José Eduardo Amato Balian, o imposto é o componente de maior peso no valor do combustível por aqui. Outro fator é que no País o preço não segue o mercado internacional, é fixado pelo governo federal. Seu aumento impacta direto a inflação.

O lado positivo é que, teoricamente, o valor não sobe quando a cotação do barril de petróleo está alta e também não cai quando ocorre o contrário. No entanto, na prática não é isso que o consumidor brasileiro sente: quando há alta na cotação internacional, a gasolina por aqui também sobe e não há redução quando o barril fica mais barato.

"A Petrobras é quem controla o preço da gasolina fornecida para as distribuidoras. Nos Estados Unidos, o consumidor paga conforme a cotação do barril", explica.

A pesquisa feita considera cotação da moeda norte-americana em R$ 1,67. Sendo assim, o preço médio do litro do combustível derivado do petróleo na Capital paulista foi de R$ 2,89.

 

Entre integrantes do Brics diferença no valor chega a 105%

O preço do litro do combustível derivado do petróleo comercializado no País é 105% mais caro que o praticado na Rússia, um dos grandes países emergentes que integram o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e, pela primeira, vez África do Sul).

Enquanto os brasileiros pagam US$ 1,73 pela gasolina, os russos - que também estão entre os maiores produtores de petróleo - desembolsam em média US$ 0,84 por litro.

O segundo maior preço do combustível no grupo econômico formado pelas nações em desenvolvimento é o da África do Sul, com US$ 1,27. O país é recém-chegado ao grupo econômico e participará da primeira reunião hoje.

A Índia tem o terceiro maior valor, US$ 1,26. Para abastecer o carro nos postos localizados em território chinês gasta-se em média US$ 1,11. O país é um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

 

Petrobras poderia segurar preço, diz analista

A queda de braço entre o governo federal e a Petrobras a respeito do aumento do valor da gasolina ganhou novo capítulo nesta semana com o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, afirmando que, se a cotação petróleo não se estabilizar, haverá alta nos preços.

A estatal fez a programação para 2011 considerando o barril de petróleo entre US$ 65 e US$ 85, mas a cotação bateu US$ 126 nos últimos dias. "Se continuar no patamar atual, vamos ter de ajustar a gasolina."

Para o sócio da BB Consult, José Eduardo Amato Balian, a elevação do barril não justificará a atitude da estatal. "Com o lucro líquido recorde de R$ 35 bilhões no ano passado, sendo R$ 10,6 bilhões apenas no último trimestre, a empresa tem como abater a alta em seus ganhos."

O especialista acrescenta que durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sequer foi cogitada esta hipótese. "Se alguém falasse em alta do combustível com o Lula perderia o emprego. Antes da crise internacional a cotação do barril bateu marca de US$ 150, mas logo depois quando houve queda não foi cogitada redução dos preços.

Em nota, a Petrobras afirma que a última alteração na gasolina em suas refinarias foi redução de 4,5%, em junho de 2009. Desde aquela data o preço da gasolina "A", vendida para as distribuidoras, sem adição de etanol, não foi alterado.

Os recentes aumentos nos postos de abastecimento se referem à alta do preço do etanol anidro, que é adquirido e adicionado à gasolina pelas distribuidoras, no percentual de 25%.

De acordo com o analista da RC Consultores, Fabio Silveira, o preço da gasolina "A" - sem adição do etanol - no País está 15% abaixo do praticado no mundo. O economista e deputado federal Arnaldo Jardim (PPS), pontua que o problema da gasolina no País é sério.

"Temos um preço artificial, que não segue o mercado internacional, e isso prejudica a economia. O ideal seria que os reajustes acompanhassem o mercado."

Jardim considera que a demora para reajustar o valor represa a inflação, prejudicando os consumidores mais para frente. "Até agora a Petrobras não ganhou nada a mais. Existe especulação no preço por parte das distribuidoras, que adicionam o etanol", observa.

 

Demanda por petróleo no Brasil vai cair neste ano

 

A AIE (Agência Internacional de Energia) reduziu a projeção para a demanda brasileira por petróleo neste ano. A entidade avalia que o consumo nacional pode estar desacelerando e considera o efeito da alta dos preços dos combustíveis e do aperto monetário e fiscal em curso no País para rebaixar suas estimativas.

A projeção de demanda foi cortada em 30 mil barris de petróleo por dia, para 2,8 milhões de barris de petróleo por dia em 2011. Ainda assim, o novo número indica aumento de 2,8% em relação ao ano passado.

O consumo de gasolina em janeiro, com alta de 4,9%, foi considerado robusto pela agência de energia. Entretanto, a entidade nota que a procura enfraqueceu na comparação com o segundo semestre do ano passado, “sugerindo que o crescimento total da demanda pode estar desacelerando”.

A agência comenta que o Brasil terá de importar gasolina em abril, além de comprar etanol dos Estados Unidos. Com a alta dos preços do biocombustível, resultado da entressafra da cana-de-açúcar, os consumidores migraram do álcool para o derivado de petróleo. Conforme a Petrobras, a importação neste mês somará 1,5 milhão de barris de gasolina, volume equivalente à metade do total comprado do exterior em todo o ano passado.

Segundo a agência de energia, as compras efetuadas pelos vizinhos Brasil, México e Canadá, estão dando suporte ao mercado de gasolina dos Estados Unidos, estimulado também pela aproximação do verão – época em que os norte-americanos mais viajam pelas estradas do país.

A redução da projeção para o Brasil contribuiu para a queda da perspectiva de consumo de petróleo do grupo de países que não fazem parte da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Nesse caso, a estimativa foi rebaixada em 90 mil barris de petróleo por dia em 2011, para 43,3 milhões de barris, seguindo também revisões feitas no Kuwait e Rússia. Se a estimativa se concretizar, representará alta de 3,5% em relação ao ano anterior. (da AE)

 




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