Política Titulo
Quatorze vereadores de Cariacica, no ES, sao presos
Do Diário do Grande ABC
29/03/2000 | 16:30
Compartilhar notícia


O presidente da Câmara Municipal de Cariacica (Grande Vitória), Rogério Santório (PMDB), e mais 13 dos 21 vereadores da Casa foram presos nesta quarta-feira à tarde a pedido do Ministério Público do Estado. Eles foram denunciados por corrupçao passiva, lavagem de dinheiro e formaçao de quadrilha. Segundo a denúncia, o grupo montou sofisticado esquema de desvio de verba pública da Câmara para benefício próprio.

Somente Santório teria desviado nos últimos três anos mais de R$ 2 milhoes.

Foram detidas ainda a mulher de Santório, Daise Coelho, sua cunhada Maria Isabel Coelho Vieira, e Helena Pereira do Nascimento - todas lotadas no gabinete da presidência. A prisao foi decretada pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Cariacica, Adroaldo Monte Alto Filho. Todos os 17 acusados foram levados para a Chefia da Polícia Civil, em Vitória.

Entre os vereadores que tiveram a prisao preventiva decretada estao Milton Lopes Rubim (PSB), Adeilson dos Santos Cabral (PPS) e Aldo Resende (PDT). Os três fazem parte do Grupo dos Sete, que fazia oposiçao ao prefeito Dejair Cabo Camata, morto em acidente de carro no domingo. Há 10 dias, o grupo havia pedido o afastamento de Camata e da Mesa Diretora da Casa por improbidade administrativa.

O esquema de corrupçao na Câmara, denominado de "Rachid", utilizava-se de assessores fantasmas e laranjas, numa intricada rede controlada por Santório, segundo o MP. Com base em auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE), de novembro de 1998, os promotores descobriram que dos 206 servidores da Câmara de Cariacica apenas 34 estavam registrados. Os outros 172 ficavam "à disposiçao" dos vereadores, sem nenhum tipo de controle.

A auditoria verificou ainda que a Casa nao tinha folha de pagamento, mas apenas uma planilha preenchida a lápis, com apenas o primeiro nome dos servidores, sem valor legal. A fraude permitia a ausência de qualquer fiscalizaçao sobre as despesas com pessoal, dando margem à existência dos servidores fantasmas.

"A prova maior que os 'assessores parlamentares' nao prestavam qualquer serviço ao Poder Legislativo Municipal é que eles nao recebiam", conclui o MP na denúncia. Isto porque, após a nomeaçao, os funcionários eram obrigados a abrir uma conta na agência da Caixa Econômica Federal (CEF), em Campo Grande, Cariacica, e, em seguida, assinar uma Autorizaçao para Débito em Conta (ADC), no qual seus vencimentos eram transferidos automaticamente para a conta corrente dos parlamentares. O MP nao conseguiu descobrir ainda quanto era a parte dos falsos servidores.

"Eles (os vereadores) votam na forma sinalizada pelo chefe do Legislativo, independentemente de haver interesse público municipal ou nao, sob pena de verem reduzido o número de seus 'assessores', ou sustado o pagamento dos vencimentos dos mesmos, diminuindo em conseqüência o lucro dos edis", afirmam os cincos promotores que assinam a denúncia - Gilberto Toscano, Angela Abranches, Leonardo Barreto, Marcelo Zenkner e Rogério Silveira.

O grupo de promotores faz parte de uma comissao de investigaçao conjunta do Ministério Público Estadual e da Procuradoria Geral da República no Espírito Santo, criada a pedido do governo estadual, para apurar a corrupçao, o crime organizado e o narcotráfico no Estado. A comissao vem municiando os deputados da CPI do Narcotráfico, que voltará à Vitória na segunda semana de abril.

Com o controle do esquema de corrupçao nas maos, Rogério Santório usava laranjas para evitar que seu nome aparecesse diretamente ligado ao desvio de verba. Em seu gabinete, estavam lotados 57 servidores comissionados - a maioria, fantasmas. Os principais laranjas do parlamentar eram a cunhada Maria Isabel Coelho Vieira, que mora nos Estados Unidos, e Helena Pereira Nascimento, sua funcionária de confiança.

Por procuraçao, Maria Isabel autorizava que a mulher do presidente da Câmara movimentasse sua conta bancária, que recebia, além de seus vencimentos, os de mais seis assessores. Entre fevereiro de 1997 e maio de 1999, os créditos autorizados na conta corrente de Maria Isabel em favor de Daise Coelho Santório e de seu marido chegaram a R$ 1,34 milhao.

"Todo o dinheiro proveniente dos vencimentos dos 'assessores parlamentares' do chefe do Poder Legislativo era utilizado para pagamento de contas pessoais do casal", afirmam os promotores. Com a laranja Helena, a movimentaçao bancária chegou a quase R$ 700 mil, entre março de 1999 e março desse ano. Na conta da assessora eram depositados os salários das fantasmas Ernestina Chiabai Silva, Luzia Chiabai Trento e Nelcina Rita da Silva.

Ernestina é tia da mulher do presidente da Câmara, tem 82 anos e, por motivos de doença, nao sai de casa há anos. Luzia, também tia de Daise, foi nomeada assessora da bancada do PPR, mesmo sem o partido ter representaçao na Casa. Já Nelcina é empregada doméstica de Santório e ocupa cargo de 'encarregada de zeladoria' da Câmara de Cariacica.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;