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Automóveis: comprei um Lada e sou feliz
Sérgio Vinícius
Da Redaçao
18/07/2000 | 19:29
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  Quando se pensa na Rússia, logo vem à mente um local gelado, em que os habitantes passam dias e noites bebendo vodka, enquanto assistem às apresentaçoes do balé Bolshoi. Dificilmente imagina-se o país como abrigo de grandes montadoras, fabricantes de carros possantes e velozes. Mas, a despeito disso, a Rússia possui um grande parque industrial que desenvolve a marca Lada. No Brasil, os modelos chegaram no início da década de 90 e venderam como água. Ou como vodka na sua pátria natal. Mesmo com um design ultrapassado para a época, com linhas quadradas que imediatamente remetiam aos anos 80, os modelos, em menos de dois anos, tornaram-se a coqueluche do mercado automotivo. Passados quase dez anos da invasao russa, os veículos Lada caíram no esquecimento do consumidor.

A própria importadora quase que dizimou as remessas ao Brasil - hoje, só o utilitário esportivo Niva continua sendo importado -, e as concessionárias, que já foram mais de 100, hoje nao passam de 20 espalhadas pelo Brasil. Mesmo assim, e algumas vezes virando até motivo de piada, sempre pode-se encontrar seguidores fiéis da marca russa. No Grande ABC, que possui uma única concessionária da marca, eles nao sao tao difíceis de se encontrar. Na regiao, ainda pode-se achar quem diga: "Tenho um Lada e sou feliz!"

O 1º Lada - Em dezembro de 1990, foi iniciada a operaçao que permitia a importaçao dos automóveis Lada para o Brasil. Assim, chegaram ao país modelos como Niva, Samara e Laika. E, junto com eles, a promessa de que, em um automóvel, o mais importante é sua relaçao custo-benefício, e nao necessariamente sua estética.

Na época, uma boa campanha de marketing ajudou a alavancar as vendas da marca. Cerca de 7 mil empregos foram criados em razao das importaçoes. No ápice da invasao russa, 140 concessionárias atendiam à marca. Sabendo que os modelos nao seduziriam o consumidor pela beleza, frases como "depois de você saber quanto custa, vai achar ele lindo" eram utilizadas na campanha.

Atualmente, após quase uma década da entrada da Lada no Brasil, a situaçao mudou da vodka para a água, quase indo mesmo para o vinagre. A maioria das concessionárias fechou e até a importadora passa por um momento de reformulaçao. Mas, mesmo assim, há quem aposte no potencial russo automobilístico e continue feliz com seu Lada.

"Há um ano tenho um Niva 91. Estou tao satisfeita que nao o troco por carro nenhum", afirma a oficial de escola Vania de Godoi Vertemati, de Sao Bernardo. "O Niva é um carro perfeito para mulheres, pois, no trânsito, transmite um certo respeito. Depois que eu o adquiri, ninguém mais jogou o carro para cima de mim."

Além da robustez, outra característica positiva do Niva é seu torque. "A diferença para os carros tradicionais é total. Por ser uma 4x4, o câmbio é um pouco mais duro, mas vale a pena. Espero nunca ter de vender o Niva", explica Vania, que antes possuía um Fiat Uno.

O professor Vagner Guedes de Castro, de Santo André, é o que se pode chamar de fa de carteirinha da montadora. Por suas maos já passaram três modelos Lada - um Laika Station Wagon 91, um Niva e, agora, um Laika Seda 95. "Há seis anos, por falta de dinheiro para investir em algum modelo mais caro, comprei, desconfiado, o automóvel russo. Gostei tanto que hoje nao o troco por nada", admira-se.

De acordo com Castro, a relaçao custo-benefício é uma das principais qualidades dos modelos russos. "Além do baixo valor na manutençao, nao é muito visado por marginais. Com o Lada, eu dispenso até o seguro."

Mas, apesar de estar contente com seu modelo, o professor, que possui outros três automóveis de marcas diferentes, pensa que há uma certa conspiraçao contra a montadora. "Quando vendia bem, no início da década, era extremamente fácil encontrar peças, que tinham etiquetas que indicavam a compatibilidade com os carros da Lada, além de outras marcas", denuncia Castro. "Após o furor com os modelos russos, é difícil encontrar esses produtos multifuncionais, pois os adesivos que indicavam a utilizaçao mútua foram retirados, provavelmente por pressao das montadoras".

Alexandre Alferes Actis, empresário de Sao Bernardo, também possui um Lada e se diz extremamente satisfeito com o modelo, o terceiro em seis anos. "Como constantemente tenho de encarar terrenos acidentados, resolvi apelar para um utilitário esportivo. Mas, ao me deparar com o preço dos outros automóveis, tomei um susto", relembra. "Assim, minha esposa sugeriu o Niva. Imediatamente, rejeitei a idéia. Mas, acabei me rendendo aos russos e estou apostando na marca até hoje".

Além disso, Actis acredita que, ao investir na marca Lada, teve somente lucros. "O primeiro modelo, comprei por R$ 5 mil e vendi por R$ 5,5 mil. Com o segundo Niva, lucrei cerca de R$ 1 mil na venda. Assim, só tenho a agradecer à Lada."

Pelo menos para Actis, a piada que diz: "para dobrar o valor de um Lada basta encher o tanque", nao tem graça. Aliás, com o Lada, o empresário consegue rir sozinho, pelo menos com relaçao à economia.




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