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Segunda-Feira, 29 de Abril de 2024

Pit bulls encalham nas filas de adoção
Evandro De Marco
Do Diário do Grande ABC
24/01/2010 | 07:00
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Ari Paleta/DGABC


A fama de violentos e, muitas vezes, mortais, faz com que os cães da raça pit bull sofram. E há quem empurre os animais à segregação. Nos CCZs (Centros de Controle de Zoonoses) do Grande ABC, eles quase predominam entre os cães de raça abandonados.

Atualmente, mais de 35 bichos aguardam por adoção no Grande ABC. "É um cachorro de grande porte, que tem o histórico ligado a agressões. É só a mídia divulgar algum acidente com pit bull que há abandonos", conta a veterinária Melissa Vautier, coordenadora do CCZ de São Caetano, que abriga um total de 39 cães, cinco deles pit bulls.

Santo André tem nove cachorros desta raça disponíveis para adoção. Mas o número maior destes cães está no CCZ de São Bernardo. Dos cerca de 50 animais abrigados no local, 17 são pit bulls. Cinco deles têm histórico de agressão e foram entregues pelos antigos proprietários.

"Eles ficam em observação por 10 dias, para verificarmos sinais de raiva. Depois analisamos o comportamento do animal. Se ele teve apenas aquele momento agressivo ou se (a violência) faz parte do seu temperamento", explica o veterinário Blonis Ariel Rossi.

A maior parte destes cães fica mais de um ano nos CCZs até conseguir um novo lar. Exceção feita aos filhotes, que encontram mais facilidade e acabam adotados em pouco tempo. "Tivemos quatro filhotes que foram escolhidos em apenas 30 dias. As pessoas não conhecem o passado do cão adulto e, então, preferem os novos para poderem educá-los", afirma Melissa.

Rossi conta que algumas adoções duram apenas poucos dias, e os cachorros acabam devolvidos ao CCZ. "Esta semana mesmo teve o caso de uma pessoa que levou um pit bull e veio devolver três dias depois porque, no início, o cão estava tranquilo e, depois, demonstrou sinais de agressividade."

Além da superlotação em todos os CCZs da região, a grande quantidade de pit bulls tem causado transtorno nos canis porque, além de dificilmente serem adotados, os cães desta raça têm convivência complicada com outros cães. "Tudo está bem e, de repente, sem nenhum motivo, o pit bull acaba agredindo outro cachorro", afirma Rossi.

SACRIFÍCIOS - A eutanásia em animais é proibida por lei estadual, que só permite a indução dele à morte em caso de agressões ou risco iminente de que a violência ocorra. "Tem que apresentar até boletim de ocorrência", salienta a veterinária Melissa Vautier.

Segundo Rossi, nestes casos, o comportamento e a capacidade de ressocialização do animal são analisados por noventa dias. "A eutanásia só acontece em último caso", conta.

Abandono de cães é crime e pode resultar em multa e detenção

O abandono de um cão do porte do pit bull e com suas características de força física e potencial agressividade pode acarretar consequências sérias ao dono: desde multa a até prisão, segundo a lei de crimes ambientais, que prevê pena de até 3 anos de detenção em caso de exposição da Saúde pública a perigo grave.

O simples fato de abandonar um cachorro é crime de maus tratos e omissão de cautela na guarda de animais, geralmente punido com multa ou penas alternativas. Se o cão agredir alguém, o dono, se for identificado, pode ser enquadrado no crime em lesão corporal, se a vítima prestar queixa. "O proprietário responde no lugar do animal", explica o delegado Nelson Caneloi Junior.

Denúncias sobre cães abandonados e informações sobre guarda de animais podem ser obtidas nos CCZs (Centros de Controle de Zoonoses) das cidades da região e nas páginas de entidades de defesa dos animais na internet.

Histórico de violência baixa os preços dos bichos

O número de pit bulls abandonados e disponíveis para adoção, aliado à fama de violência que levam os cães da raça, faz o preço dos cães despencar a cada ano e atrapalha o comércio para os criadores.

Os valores cobrados pelos cachorros variam, e um pit bull pode ser comprado por até R$ 100 informalmente, enquanto os canis especializados praticam tabela bem superior, entre R$ 1.000 e R$ 4.000 por cada animal.

Confrontando o histórico de agressividade, na maior parte dos anúncios de venda de pit bulls, o slogan menciona o suposto temperamento dócil e familiar da raça, características diferentes das destacadas pelos criadores especializados neste animal, que participam de campeonatos específicos.

"Meus cães têm porte. Algumas pessoas vendem mais o temperamento do que a própria beleza do animal", afirma Thiago Barbosa, 26 anos, proprietário de um canil com 21 pit bulls na Vila Palmares, em Santo André.

Curiosamente, Barbosa decidiu criar os animais depois de ter sido atacado por um pit bull em São Caetano há cerca de quatro anos. "Estava passando na rua, e ele estava solto. Veio e pegou meu braço. Depois, passei a pesquisar sobre os pit bulls e comprei um casal, porque minha casa tinha sido assaltada três vezes. Em um deles, campeão de 20 competições, paguei R$ 4.000", lembra.

Embora o apelo inicial seja pelo porte do animal, o criador deixa claro que o principal argumento usado para convencer os interessados em adquirir um pit bull por mais de R$ 1.000 é mesmo a confiaça no modo de agir do cão. "A pessoa sabe quem são os pais do pit bull que está levando e o temperamento que foi passado deles para o filhote. Diferente de quem pega um pit bull sem saber do histórico, quem sabe, de agressão."




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