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Com a bênção de Chico
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
19/01/2011 | 07:07
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Dizer que Chico Buarque é uma das deidades da música é, no mínimo, abusar de um clichê que já começa a incomodar. Mas a frase não soa nem um pouco chavão quando sai da boca do pianista pernambucano Vitor Araújo, um dos integrantes da banda Seu Chico, conhecida por conferir uma roupagem pop ao gigantesco repertório do compositor carioca.

"É impossível para um jovem músico, caso de nós todos, se deparar com um dos maiores compositores da história e não o endeusar. Por mais que você saiba que ele é de carne e osso, você sabe também que ali está um cara que faz o mesmo que você, mas muito melhor", ri Vitor, o mais jovem do grupo, aos 21 anos, contando sobre o primeiro encontro com o cantor, durante uma partida de futebol.

Depois de rodar palcos alternativos além do Recife (onde a brincadeira começou), Rio e São Paulo, os sete músicos colocam nas lojas o primeiro DVD da curta estrada, Tem Mais Samba (R$ 34,90, em média).

A imortalização, neste momento, de um show que homenageia Chico não é por acaso: a banda cada vez mais deixa de se enxergar como uma mera repaginadora da obra buarquiana. Coisa que fugiu às primeiras expectativas.

"Não era nossa pretensão. A gente queria continuar como um grupo de tocar ao vivo, mas a banda tomou personalidade. Deixou de ser apenas uma homenagem ao Chico para ser um trabalho artístico que ganhou uma unidade estética própria, que não aparece nos nossos outros projetos", explica o pianista.

Por ‘estética própria' entende-se a mistura impressionante de três percussões, violão de sete cordas e o piano alucinado de Vitor, premiado pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 2008.

Além do jovem pianista, a banda é formada por Tibério Azul (vocal), Bruno Cupim (percussão), Negro Grilo (percussão), Rodrigo Samico (Violão sete cordas), Amendoim (percussão) e Vinícius Sarmento (violão).

A maioria formava a banda recifense Mula Manca e a Fabulosa Figura e hoje tem projetos paralelos que dividem o tempo com a Seu Chico. "Todos têm projetos em paralelo. O problema principal é o choque de agenda, mas temos conseguido evitar ao máximo", pontua Vitor.

Quem nunca assistiu a uma apresentação da banda - estiveram na Virada Cultural Paulista em São Bernardo, em 2009, e ocupam o palco do Studio SP com certa regularidade - se surpreende com a riqueza dos arranjos que os pernambucanos prepararam, muitas vezes em improvisações maravilhosas de testemunhar.

É o compromisso deles em não despir as canções da complexidade original. "O Chico é o tipo de artista incontestável. Não pelo hype ou pela quase obrigação de gostar por ser a representação do que é a boa música popular brasileira, mas sim pelo requinte melódico harmônico da mais alta estirpe e de uma qualidade poética muito rara. E que além de tudo não é difícil de digerir para o público", admira-se.

Nos extras do DVD, há trecho em que a banda encontra o compositor. Felizes qual criança, tiveram a rara oportunidade de realizar uma entrevista com ‘o homem'. Aproveitaram para perguntar minúcias dos arranjos e, claro, falar sobre futebol.

O que Chico acha da homenagem? "A gente sabe que é difícil ele ir a um show. Talvez agora com o DVD fique mais fácil. Mas ele disse que conhecia meu trabalho solo", ri Vitor.




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