Se estivesse vivo, mesmo fora da política partidária, Pinotti estaria comentando os resultados da eleição de ontem
O jovem Aldino Pinotti, de São Bernardo, gostava desses tempos de eleições, não importa se municipais, estaduais ou para a escolha do presidente da República. Se estivesse vivo, mesmo fora da política partidária, Pinotti estaria comentando os resultados da eleição de ontem. Não se furtaria a palpites. E com certeza lembraria dos políticos do seu tempo - e os anteriores a ele.
Ah, os discursos do prefeito Aldino Pinotti. Gostava de dizer que São Bernardo foi percorrido pelas sandálias de jesuítas e teve lideranças republicanas, entre as quais José Luiz Flaquer, o Dr. Flaquer, que residia em Santo André mas estava sempre em São Bernardo e outros distritos.
Meninote, Pinotti gostava de espiar pela janela que dava para a Rua Marechal Deodoro os debates da Câmara Municipal, no velho prédio preservado que hoje leva o nome de Antonino Assumpção. Aqueles homens sérios, vindos de vários pontos do Grande ABC, que se digladiavam por suas posições políticas e que depois tomavam, juntos e felizes, um café no Bar Expresso - se é que o Bar Expresso já existia.
Dona Angelina Scopel, mãe de Aldino (ou Aldo, como dizia os mais chegados), orgulhava-se do filho. Nem tanto do político, mas do marceneiro, profissão nobre a um tempo em que a cidade era a Capital do Móvel.
Da sua bancada de trabalho Pinotti alcançou o mais alto cargo da sua São Bernardo. E dizia sempre que quando morresse gostaria de ter uma placa no Largo da Matriz onde estivesse escrito: "Ele ajudou a fazer esse jardim". Prefeito Marinho, esse desejo jamais foi consumado.
EM TEMPO
O velho Pinotti andava sempre com barbantes no bolso. Se passasse no Paço e visse uma roseira com galho quebrado, ele parava o carro oficial, preto e reluzente, para amarrar o galho e salvar a flor.
ELEITORES EM 1898
Pouco antes da eleição de Campos Sales à Presidência da República um fato insólito registrou-se no então jovem Município de São Bernardo - instalado em 1890. O subdelegado Arthur Queirós dos Santos invadiu o Paço da Câmara e arrebatou livros e talões de diplomas que eram distribuídos pelo funcionário Ítalo Setti aos eleitores.
O assunto gerou o ofício nº 6, de 7 de janeiro daquele ano, enviado ao secretário do Interior.
Assinam o ofício nomes conhecidos da política local: coronel Oliveira Lima (presidente da Câmara Municipal), Alfredo Flaquer (prefeito), Gustavo Rathsam, Luiz Bruno e Vicente Linguanoto (vereadores). Os políticos do futuro Grande ABC pediam providências.
Aldino Pinotti sequer havia nascido, ele que é de 1912.
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