Cultura & Lazer Titulo
ELT sacode a poeira no palco com mostra de teatro
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
18/07/2005 | 08:38
Compartilhar notícia


A Escola Livre de Teatro de Santo André decidiu veicular seu próprio manual de sobrevivência. Nada de apostilas ou brochuras. O suporte que a ELT, aos 15 anos de idade, escolheu para manifestar as necessidades de sua existência foi a Mostra Santo André de Teatro Contemporâneo, lançada nesta segunda-feira no Teatro Conchita de Moraes, a casa em que a entidade debutante mora sozinha. O evento recebe um significado outro em sua quarta edição, um significado de sobrevivência física, financeira e conceitual.

Sobrevivência física - Em 30 de junho último, a sede da ELT foi arrombada, invadida, vandalizada e furtada. Foram levados uma câmera de vídeo digital e um tripé, um CD player e um scanner, equipamentos fundamentais para o desenvolvimento das atividades da escola. Ainda mais inexplicável: as cortinas de veludo do palco do Conchita de Moraes foram rasgadas de cima a baixo. Na ocasião, do mesmo modo que atualmente, a ELT dorme sozinha, sem segurança noturna de qualquer espécie. "Há um compromisso da Prefeitura em repor as coisas da escola. Mas continuamos com a expectativa pela segurança, de conseguirmos um posto policial permanente ali na praça (Rui Barbosa, onde localiza-se o teatro) ou mesmo um segurança que pudesse cuidar do teatro à noite", diz Antônio Rogério Toscano, coordenador da ELT.

Sobrevivência financeira - É sensível, apesar de mantida a qualidade, o esvaziamento quantitativo desta quarta Mostra em relação à do ano passado, com ao menos o dobro de espetáculos e debates. A primeira edição, quatro anos atrás, configurou-se como um manifesto para sensibilizar a Prefeitura para os salários então atrasados de funcionários da ELT. Este ano, a verba miúda causou a drástica amputação da Mostra. "O custo da ELT é muito baixo se comparado ao retorno, junto à comunidade e ao público, para a cidade. É importante que isso (o financiamento da Prefeitura) se mantenha, mas, se a gente parar para pensar, às vezes um grupo sozinho de São Paulo recebe mais dinheiro na Lei de Fomento (do município de São Paulo) do que toda a ELT", afirma Toscano.

Sobrevivência conceitual - Todos os espetáculos, debates e workshops estão estreitamente ligados, organizados vértebra a vértebra pela curadoria para formar uma estrutura cervical, com foco nas novas dramaturgias - novas em formato e referenciais - e nas fronteiras da linguagem teatral, contestadas na crescente intimidade com manifestações diversas como dança e literatura. "A ELT está sempre em busca de sua especificidade e de sua autonomia como escola. E sempre procura diversificá-la, com novas formas de pensar o teatro, para continuar o nosso projeto de formação do público e dos artistas locais, e da criação e manutenção de um espaço de sofisticação sobre a reflexão da linguagem teatral", diz Toscano.

Portanto, esta Mostra de Teatro Contemporâneo funciona tal e qual a terceira lei de Newton, em que para cada ação corresponde uma reação. Por exemplo, o espetáculo de abertura, Estudo para Macabéa, às 20h30 de segunda-feira, é uma adaptação de Vera Sala sobre Hora da Estrela, ficção de Clarice Lispector, em que dança e literatura intrometem-se na encenação. Nesta terça-feira, dia seguinte ao dessa montagem que extrapola a linguagem teatral, está programada uma aula aberta com o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, cuja matéria é exatamente a exposição e o debate sobre o que é particular ao teatro enquanto manifestação, sobre o que é exclusivamente teatral.

E assim será até 1º de agosto, data de encerramento da Mostra. Até lá, estão previstos um encontro de dramaturgos como Claudia Schapira, Mario Vianna, Sérgio Roveri, Newton Moreno e Pedro Vicente; um debate e um espetáculo de Mário Bortolotto, cabeça pensante do grupo Cemitério de Automóveis; uma experiência sobre a arquitetura dramatúrgica com a Cia. Nova Dança 4; uma montagem do grupo Folias d’Arte; e um intercâmbio entre anatomia e artes visuais no espetáculo Gilberto e Jorge, entre outros. Ações e reações que pretendem concluir que encenar é preciso; e neste caso, com o perdão de Fernando Pessoa, sobreviver também.

Ao respeitável público: a entrada é franca para todas as atividades, embora a organização sugira a doação de um agasalho em troca do ingresso.

Confira a programação:

Nesta segunda-feira, às 20h30 - Estudo para Macabéa, montagem de Vera Sala (Teatro Conchita de Moraes)

Nesta terça-feira, às 18h30 - O que É Específico no Teatro, aula aberta com o dramaturgo Luís Alberto de Abreu (Teatro Conchita de Moraes)

Quarta (20), às 16h - Movimentos para Atravessar a Rua, espetáculo do grupo Tablado de Arruar (calçadão da r. Cel. Oliveira Lima)

Quarta (20), às 18h30 - Debate entre dramaturgos sobre a nova dramaturgia e a criação teatral (Teatro Conchita de Moraes)

Quinta (21), às 18h30 - Encontro com o dramaturgo Mário Bortolotto (Teatro Conchita de Moraes)

Quinta (21), às 20h30 - Homens, Santos e Desertores, espetáculo do grupo Cemitério de Automóveis (Teatro Conchita de Moraes)

Sexta (22), às 20h30 - Senhorita Danzer, espetáculo dirigido por Bernadeth Alves (Teatro Conchita de Moraes)

Sábado (23), às 16 - Pequena Falha no Sistema de Segurança, espetáculo do Núcleo de Teatro Popular Urbano da ELT (Cesa Cata Preta)

Domingo (24), às 16h - Pequena Falha no Sistema de Segurança (Cesa Parque Novo Oratório)

Sábado (23) e domingo (24), às 20h30 - Nô Caminho - 7 Passos para Dentro, espetáculo de alunos da ELT (Teatro Conchita de Moraes)

Dia 25, às 20h30 - Experimentações Inevitáveis, espetáculo da Cia. Nova Dança 4 (Teatro Conchita de Moraes)

Dia 26, às 20h30 - O Cara que Dançou Comigo, espetáculo do grupo Folias d’Arte (Teatro Conchita de Moraes)

Dia 27, às 18h30 - Debate entre dramaturgos sobre o processo coletivo na dramaturgia no Grande ABC (Casa da Palavra)

Dia 28, às 20h30 - Entrevista com Stela do Patrocínio, espetáculo de Georgette Fadel, Lincoln Antônio e Juliana Amaral (Teatro Municipal)

Dia 29, às 20h30 - Gilberto e Jorge, espetáculo de Leandro Feigenblat e Marina Caron (Teatro Conchita de Moraes)

1º de agosto, às 18h30 - O Teatro do Corpo Manifesto, aula aberta com Lúcia Romano (Teatro Conchita de Moraes)

Endereços:
Teatro Conchita de Moraes - praça Rui Barbosa, s/ nº. Tel.: 4996-2164.
Cesa Cata Preta - estrada Cata Preta, 810.
Cesa Parque Novo Oratório - r. Tanganica, 385. Tel.: 4479-0303.
Casa da Palavra - praça do Carmo, 171. Tel.: 4992-7218.
Teatro Municipal de Santo André - praça IV Centenário, s/ nº (Paço Municipal). Tel.: 4433-0789.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;