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Susto no paladar

Imagine você: com uma caixinha em mãos, canudinho já introduzido no orifício criado especificamente para tal

Carlos Ferrari
12/08/2010 | 00:00
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Imagine você: com uma caixinha em mãos, canudinho já introduzido no orifício criado especificamente para tal. Agora é só saborear aquele achocolatado gelado, popularmente conhecido pelo nome de uma marca famosa, colocada no diminutivo, bem provavelmente com o objetivo de atingir o público infantil.

Pois bem, na primeira sugada, ao invés de achocolatado vem água de côco. Um susto no paladar! E em meu caso, que isso verdadeiramente aconteceu, uma agressão à cidadania.
Há algum tempo publiquei um artigo que contava minha experiência frente a um frigobar. Só, em um quarto de hotel, eu e as latas, não podíamos nos comunicar, pois todas as embalagens foram concebidas sem qualquer diferencial tátil. Isso para uma pessoa cega impossibilita o exercício do direito de escolha. Refrigerante ou cerveja, ou quem sabe produtos da marca A ou B. Nada disso é possível devido à miopia de mercado daqueles que pensam as embalagens sem a preocupação com o quanto serão excludentes.

Felizmente essa não é uma realidade que prevalece em cem por cento do mercado. Já temos uma indústria de laticínios que traz em suas embalagens de congelados a indicação em Braille. Da mesma forma podemos verificar essa preocupação por parte de alguns fabricantes de medicamentos, cosméticos e até balas.

As caixinhas de água de côco, sucos e achocolatados, infelizmente continuam me pregando peças. E aí pergunto: a quem recorrer? Pessoalmente entendo que deveria ser ao bom senso daqueles responsáveis pela concepção e comunicação dos produtos.

O Brasil conta atualmente com mais de vinte e sete milhões de pessoas com deficiência. Trabalhadores, beneficiários do Benefício de Prestação Continuada ou mesmo pessoas sem qualquer tipo de renda, todos acabam sendo direta ou indiretamente consumidores.

Para além desse segmento ainda poderíamos falar nos idosos, analfabetos, dislexos, tantas vezes colocados de lado, quando são pensados produtos, com manuais indecifráveis, longos ou com letras microscópicas.

Sabemos que a cada dia os produtos são concebidos de forma a atender públicos específicos. Todavia, nunca nenhum princípio de marketing, trouxe a idéia que junto com a segmentação de mercado, deveria vir à exclusão sumária de consumidores.

Dois anos depois da publicação do artigo Eu e as latas, fiquei sabendo que um fabricante de cerveja vai inovar em sua embalagem. A novidade infelizmente restringe-se à mudança de cor.

Espero futuramente, escrever textos trazendo um mercado mais moderno e consciente de seus públicos. Por enquanto vou ficando por aqui, com uma caixinha em mãos para matar a sede, porém prevenido para uma pequena ou grande surpresa, já que não faço ideia do conteúdo.




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