A primeira mudança que o novo presidente da Volkswagem, Thomas Schmall, fez ao chegar na fábrica da Anchieta, em São Bernardo, foi colocar um relógio de cuco na parede. Como ele mesmo diz, “o cuco é quem manda”, já que é o relógio que avisa quando começa e termina as reuniões de, no máximo, uma hora de duração. “Se você não conseguiu falar em uma hora, nunca vai conseguir falar. Tenho trabalhado de forma bem clara”, afirma o alemão, de 43 anos.

Schmall assumiu a presidência em janeiro, com a saída de Hans-Christian Maergner, cujos objetivos foram reestruturar a empresa e deixá-la no azul. Com as bases definidas, agora, Thomas Schmall, terá que erguer as novas estruturas para tornar a Volkswagen do Brasil a líder no mercado automotivo nacional. Para o novo presidente a meta só poderá ser atingida com produtos. E o ano já começa com a nova versão do Golf. lançada nesta segunda-feira.

O Golf é o é o segundo carro mais vendido no mundo e está próximo de alcançar o volume de 25 milhões de unidades produzidas. No Brasil, já foram comercializadas 240 mil unidades. No País, o modelo é produzido em São José dos Pinhais (Paraná).

“Nenhuma empresa foi criada para cortar custo, mas sim, para criar produtos”, ressalta Schmall, durante entrevista, em português, concedida à imprensa nacional, cujos principais pontos são destacados a seguir.

Metas - “Construímos bases nos últimos anos aqui. Agora Estamos em um ponto de decisão e nós podemos fazer a casa. Depende de nós se a casa vai ser grande, menor, mais bonita ou não. Mas meu objetivo é bem claro aqui, vou arrumar a casa mais bonita que tem no mundo. Primeira coisa que faremos é trazer mais produtos. Nossa pretensão é mostrar mais valor, mais conteúdo para o cliente. Como todos os resultados dependem de um processo, é preciso melhorar o processo, porque o resultado positivo vem automaticamente, essa é a segunda meta. A terceira, na minha opinião a única diferença entre as empresas muito boas e as outras, é a equipe com quem você trabalha. Aqui será implementada uma equipe muito forte.”

Chineses - “Os chineses começaram agora. Porém, daqui a alguns anos a China será um dos primeiros do mundo. Mas sempre haverá concorrentes. Quando entrei na Volkswagen, em 1991, todo mundo tinha medo dos japoneses na época. Superamos a concorrência com criatividade, hoje eles estão desatualizados. Outra vantagem que temos no Brasil é a criatividade, o que nos dá muita força.”

Carros baratos - “O mercado tem de tudo. Para você manter uma marca precisa ter portfólio. No Brasil é uma necessidade atender o mercado com carros baratos, pois é a maior parte do mercado. Isso vai mudar nos próximos anos, porque a economia vai crescer, as pessoas ganharão mais dinheiro e o cliente comprará carros mais caros. Até lá, vamos participar de forma agressiva na corrida por esse mercado, mas isso não significa que ele não trará valor para o cliente. Vamos trabalhar com carros bons.”

Economia - “É a segunda vez que estou aqui. Se for comparar com a primeira vez, o País está muito mais confortável em relação à situação econômica, muito mais estável. A Volkswagen espera crescer 7% neste ano. O que temos que discutir é como o País poderá atender a esse crescimento. O Brasil tem problema de energia. Não sabemos se com o crescimento da indústria, o País terá capacidade de atender a demanda de energia.”

Exportação - “Nos últimos anos o mercado está muito estressado por causa do câmbio. Ele traz prejuízos para todas as empresas. Acho que esse assunto é tarefa do governo. O que acredito é que para deixar a empresa saudável, é preciso manter a liderança no mercado nacional. É errado se apoiar no mercado externo. Vamos fazer o máximo possível para vender carros e valores para os mercados a nosso favor.”

Liderança - “É fácil ser líder em market share. Você pode ter a liderança em quatro semanas, o problema é que isso quebra a empresa. Meu objetivo é deixar a empresa sustentável em longo prazo. No ano passado fechamos em terceiro lugar, nesse ano estamos no segundo, e quero manter esse ritmo. Eu não vou sair do país, até conseguirmos liderar o mercado.”

Reestruturação - “Devemos achar soluções para os problemas. Sindicalistas e funcionários têm posições diferentes da empresa, é natural, mas chegaremos a uma solução em comum. Dentro do plano de reestruturação, o PDV já foi aderido por 1.113 trabalhadores, a meta é atingir 1,5 mil até junho. Tivemos problemas na questão dos doentes, recuamos caso por caso, pois não podemos generalizar, e resolvemos isso.”

Investimentos - “Dentro dos R$ 2,5 bilhões que serão aplicados até 2011 no Brasil, anunciado por Maergner no ano passado, antecipamos de 10% a 15% do investimento para executar os planos de 2007, pois anteciparemos os produtos. Deveremos lançar dois novos carros nos próximos dois anos.”