Antes que alguém torça o nariz para a bebida produzida na região, com um comentário preconceituoso do tipo: “Vinho feito aqui no ABC? Eca! Deve ser uma porcaria”, é bom que se diga que a qualidade do vinho depende basicamente da uva. Se a uva for ruim, o vinho não presta. Já uma fruta de primeira linha é um passo importante para se produzir um tinto ou um branco elegante, de paladar sugestivo.
O Grande ABC tem 43 produtores de vinho registrados na Uva (União dos Vinicultores Artesanais do ABC). A maioria é de São Bernardo e descende de italianos, mas há produtores também em Santo André, Diadema e Ribeirão Pires. A União dos Vinicultores vai às compras nas vinícolas de Bento Gonçalves, Antonio Prado, Flores da Cunha – no Rio Grande do Sul. Trazem uma matéria-prima de dar água na boca, batizada de “cabernet sauvignon”, “bordeau”, “isabel”, “niagara”, “moscatel”.
“O vinho artesanal é caseiro, gostoso, lembra aquele que era feito pelos meus avós”, observa José Roberto Ferreira, o Beto, proprietário do restaurante São Francisco, na Rota do Frango com Polenta.
“Eu tenho condições de comprar vinhos de marca, mas prefiro os artesanais. Adoro”, afirma o comerciante Valter Klein, 57 anos. Klein foi entrevistado enquanto comprava meia dúzia de litros de tinto seco na adega Stella Alpina (telefone: 4354-9819), no Riacho Grande, em São Bernardo.
O lugar é administrado por Aldo Rosa, que herdou o prazer de produzir vinhos da família (o pai e o avô eram produtores). Aos sábados e domingos, a Stella Alpina fica lotada. Em um galpão amplo, coberto com telhas francesas e rodeado de tonéis de bebida em processo de maturação, os consumidores dos tintos e brancos made in ABC fazem a degustação, enquanto comem antepastos passados no pão fresco.
Ao lado de Rosa, via-se pendurado na parede uma tela com uma pintura que mostrava uma casa de campo. “É a casa da minha família, na região de Lucca (Toscana, Itália), um lugar com muito verde, parecido com o Brasil”, ele revela, lembrando que o avô começou a produzir vinho no Riacho Grande em 1927. “Ele desceu do navio e parou aqui.”
Essa ligação emocional com os ancestrais é o que move muitos produtores da região. “Quando eu faço vinho, lembro do meu pai...”, conta Italo Antonio Meneghetti, 72 anos, que fica com os olhos cheios de lágrimas e não consegue completar as frases: “Não há dinheiro que pague...”
Italo e seu irmão Bruno Victorio aliam-se à família Rocco na hora de fazer vinho. O contador e assessor jurídico Pedro Rocco, 49 anos, também se emociona: “Tenho adoração em cozinhar e fazer vinho. O meu pai morreu há 15 anos, mas é como se ele estivesse junto comigo, aqui na adega, o tempo todo.”
Os Rocco têm uma cantina fechada (telefone: 4339-1344), que atende apenas grupos pequenos de convidados. É lá que se esgota a maior parte de sua produção anual de 13 mil litros de vinho. Enquanto manejam a bebida, os Rocco e os Meneghetti suspiram: “Madonna, esse vinho com umas polenta...Mamma mia”.
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