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Bonitinhas, mas larapias
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
07/07/2006 | 09:22
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Não há por que esconder a principal razão de existência de Bandidas, filme da dupla Joachim Roenning e Espen Sandberg apadrinhado pelo produtor e co-roteirista Luc Besson, o Jerry Bruckheimer francês, preservadas peculiaridades geográficas e orçamentárias. O filme é a celebração do encontro na tela de Penélope Cruz e Salma Hayek, dois dos maiores estereótipos de sensualidade latina no cinema norte-americano.

E pouco importa se a atriz Salma é mexicana e Penélope é espanhola; para a lógica da indústria do entretenimento, são todas farinhas de um saco único, esculturas do desnorteio masculino, que exalam sexo até pela sola do pé e cujo idioma natal tem umas palavras agradáveis de falar, como caliente e cabrón. O principal motivo está exposto; mas e os demais?

Em linhas gerais, o filme é uma atualização de Viva Maria! (1965), comédia de Louis Malle que também tinha entre seus propósitos reunir na tela duas beldades de sua época – no caso, as francesas Brigitte Bardot e Jeanne Moreau. O cineasta Malle, por sua vez, tecia um ensaio de caricatura das revoluções populistas ao ambientar seu filme nos primeiros anos do século XX em meio aos Estados Unidos que então procuravam assimilar imigrantes e etnias recém-chegadas.

Roenning e Sandberg não demonstram a mesma vontade de sair melhor que a encomenda. O filme da dupla, um semifaroeste pretensamente satírico, se situa numa vila mexicana que foi inteiramente arrendada por um banco de Nova York.

Nesse processo, estratégias como homicídio e ameaças a fazendeiros são bem-vindas. A camponesa Maria (Penélope) e a burguesa Sara (Salma) compram a briga do povo mexicano e decidem assaltar bancos para atacar os fundos e a credibilidade da instituição bancária. E, de quebra, dar pão a quem tem fome.

Aos poucos, percebe-se que Bandidas pretende alcançar o efeito da caricatura-homenagem obtido pelo Kill Bill de Tarantino. Um movimento natural em um filme da grife Besson, o produtor e diretor francês que volta e meia procura preencher a tela com as referências que lhe deram formação cinematográfica. Seus filmes procuram uma histeria programática, uma lisergia com prescrição médica. Sua irreverência com as imagens/memórias vai até onde permite a tolerância do público médio norte-americano (por extensão, o mundial).

Em filmes de discípulos seus, a estratégia quase sempre se repete. Portanto, por mais que Bandidas procure ironizar com os faroestes norte-americanos e existir como obra própria, não passa de uma aventura pastelão perecível, um pastiche sem elementos característicos além das caras, bocas e decotes da dupla de protagonistas e da participação especial de Sam Shepard. E quando, à moda Zorro, parece que vai aprofundar uma certa crítica ao expansionismo norte-americano, acaba fazendo um elogio a ele, ao tirá-lo do debate político e torná-lo vontade individual. Tiro pela culatra.

BANDIDAS (Idem, EUA/ França/ México, 2006). Dir.: Joachim Roenning e Espen Sandberg. Com Penélope Cruz, Salma Hayek, Steve Zahn, Sam Shepard. Estréia nesta sexta-feira no ABC Plaza 9, Extra Anchieta 8, Central Plaza 6 e circuito. Duração: 93 minutos. Censura: 12 anos.



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