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Governo planeja retirar moradores do Km 40 da via Anchieta
William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
05/01/2009 | 07:08
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Marina Brandão/DGABC


Quem esticar os olhos para além da pista no Km 40 da Rodovia Anchieta vai encontrar três restaurantes, duas borracharias e 13 famílias que resistem ao tempo no último vilarejo de São Bernardo antes de Cubatão. As pouco mais de 50 pessoas vivem entre pressões ambientais, abandono governamental e a falta de perspectiva no futuro. Mas uma ação do governo estadual deve remover os moradores do local. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) tem planos para retirar as famílias dali, oferecendo apartamentos populares em local ainda não definido.

Os pioneiros chegaram ainda na primeira metade do século passado, para trabalhar na construção da Anchieta. Um deles foi o marido de Maria Vieira de Almeida, 84 anos, que veio da cidade de Mercedes, em Minas Gerais, e trouxe a mulher e os filhos depois. Ela lembra do passado com nostalgia. "Chegou a ter igreja, escola e campo de futebol. Mais de mil pessoas viviam aqui. Agora, acabou tudo."

O lugarejo está dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, próximo à área de descanso da interligação Anchieta-Imigrantes, e foi condenado por órgãos ambientais. Fora isso, ainda tem sido alvo de ações da Ecovias, concessionária responsável pelo sistema, que aponta venda de bebida alcoólica nos restaurantes à beira da estrada, um descumprimento à legislação vigente.

Há cerca de dois anos, a Ecovias fechou, com um guard-rail, o pátio que recebia os caminhoneiros. Entre as motivações, além da venda de bebida alcoólica, estava o fato de o local servir de abrigo para venda irregular de combustíveis, segundo a concessionária.

Os moradores dizem que a medida sufocou economicamente a comunidade, que se vê ilhada e sem condições de manter a subsistência. "Anteriomente, servia até 30 almoços por dia. Agora, só um ou dois", diz o comerciante Roberto Antonio Francisco Ribeiro, 37.

A mulher de Roberto, Ana Paula Vieira Alves, 25, está grávida do quinto filho. Ela reclama da impossibilidade de conseguir emprego em outro lugar, caso continue morando no Km 40. "Pagaria R$ 26 por dia só de passagem. Quem vai bancar esse auxílio-transporte?"

A vida do casal não é diferente da maioria das pessoas que moram por lá. A distância de tudo e um pedágio de R$ 17 no meio do caminho atrapalham até mesmo quem pretende fazer a compra do mês no mercado mais próximo, no Riacho Grande, a 10 quilômetros dali. "Somando à gasolina, são R$ 35 só de transporte. Não é fácil", diz a dona de casa Helena Alves de Oliveira.

A proposta da CDHU não agrada os moradores. "Vão dar o lugar para morar, mas e o trabalho? Seria melhor uma indenização, porque aí conseguiríamos montar um negócio próprio", afirma Ana Paula.




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