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Reflexões no palco

Companhia de teatro de Santo André apresenta a partir de hoje adaptação de conto russo

Caroline Manchini
29/06/2018 | 07:00
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Divulgação


 A paixão pela arte, dedicação, estudo aprofundado e vontade de fazer acontecer são as principais características de um bom grupo teatral. Com esses atributos e o objetivo de levantar reflexão acerca dos problemas políticos e sociais, a Cia Estrela D’Alva, criada há 13 anos em Santo André, leva ao Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, hoje, às 21h, o espetáculo O Crocodilo, adaptação do conto inacabado do autor russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-1881). A temporada vai até 29 de julho.

Escrita em 1864, a obra discute mazelas atuais. “Acho que a escolha do texto tem a ver com os momentos político e cultural que o País enfrenta, apesar de Dostoiévski ter vivido na Rússia e em outra época”, conta a atriz e diretora da montagem, Ligia Helena. A peça narra, mesclando metáfora e ironia, a história de um homem que foi engolido por um crocodilo, mas que, mesmo dentro do estômago do animal, continua vivo. Quando o fato se torna público, as pessoas querem, cada vez mais, ver de perto o réptil que engoliu um ser humano.

Com tanta procura e filas quilométricas, o crocodilo passa a ser, para o dono, boa fonte de renda. Nesse momento da narrativa, quando o rapaz não tem voz ou chance de se manifestar sobre a própria vida, começa a discussão: abrir ou não o animal para salvá-lo? O questionamento foi um dos gatilhos para a companhia estabelecer paralelo com a sociedade contemporânea. “Hoje somos engolidos pelo crocodilo capital, já que estamos em situação política completamente catastrófica, incapazes de agir diante dela”, explica Ligia. No conto original o homem é um servidor público e, na adaptação brasileira, empreendedor. “Nossa preocupação, enquanto artistas, é conseguir, por meio da literatura, gerar debate e levantar mais perguntas do que respostas”, explica a atriz. “Queremos, também, instigar o olhar crítico”, inclui.

Esta é a sétima montagem do grupo, formado por Lígia Helena e Paulo Gircys – atores que irão se revezar nas cenas do espetáculo, narrando a trajetória do rapaz engolido – e equipe de produção. Ao longo dos 13 anos de existência, adaptaram obras de autores renomados como Clarice Lispector (1920-1977), Bertolt Brecht (1898-1956), James Joyce (1882-1941) e Fernando Pessoa (1888-1935).

O Crocodilo – Peça. No Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295, em São Paulo. Sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h. Até 29 de julho. Ingr.: R$ 20 (local).




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