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Costa Rica empata e garante liderança do grupo da morte

Sensação, equipe da América Central não
saiu do 0 a 0 com a Inglaterra, no Mineirão

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
25/06/2014 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


O que parecia improvável se transformou em uma das maiores zebras da história da Copa do Mundo. A Costa Rica, considerada figurante no Grupo D, ao lado dos campeões mundiais Itália, Uruguai e Inglaterra, classificou-se na primeira colocação ao segurar o empate por 0 a 0 com os ingleses, na tarde de ontem, no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. Já eliminado, o English Team até tentou se despedir com um triunfo, mas a má pontaria de Sturridge e a boa atuação do goleiro Navas foram fundamentais para a igualdade.

Agora, nas oitavas de final, o time latino-americano encara a Grécia, que ficou na segunda posição do Grupo C, domingo, na Arena Pernambuco.

Para os costa-riquenhos, o jogo de ontem valeu não só para confirmação da ponta da chave como também para curtir o bom momento. E a torcida que compareceu em peso foi no embalo e com um minuto de jogo já gritava olé. Tudo era festa. E Campbell quase abriu o placar aos dois minutos. Ele recebeu na área, chutou, a bola desviou e quase entrou no ângulo.

Pelo lado inglês, Roy Hodgson aproveitou um jogo sem pretensões no torneio para pensar no futuro da seleção, lançando diversos jovens. E quem chamou a responsabilidade e tornou-se o principal nome do jogo foi o atacante Sturridge. Sem Rooney, ele era a referência ofensiva e por três vezes ficou no ‘quase’, em dois chutes da entrada da área que assustaram e uma cabeçada por sobre o travessão.

Para a Costa Rica, o empate já era bom resultado. Mas depois de vencer italianos e uruguaios, a vitória era possível. E Borges bem que tentou em cobrança de falta, mas Foster desviou o suficiente para a bola tocar no travessão e sair.

Na segunda etapa, os ingleses demonstraram mais ímpeto. Aos 13, em chegada de Lallana pela esquerda, Navas apareceu bem para interceptar cruzamento rasteiro que chegaria para Sturridge empurrar à rede. 

 Pouco depois, na melhor chance da partida, Sturridge tabelou na entrada da área e tentou bater colocado, em curva, mas a bola caprichosamente saiu, rente ao poste direito. 

E foi de Rooney a última boa chance do jogo. Da entrada da área ele buscou o espaço e tentou encobrir Navas, que se esticou todo e evitou o gol.

Jogo tem duelo entre goleiro Navas e atacante Sturridge

 O duelo entre costa-riquenhos e ingleses teve dois personagens de destaque. Do lado europeu, o atacante Sturridge apareceu como principal arma, criando as mais perigosas oportunidades de gol. No entanto, sua má pontaria e a presença inspirada do goleiro Navas – eleito o melhor do jogo – atrapalharam os planos.

 Na coletiva após a partida, o arqueiro do time latino-americano não escondia a satisfação pelo prêmio conquistado, quase que um troféu após uma temporada complicada amargando a reserva no Levante, da Espanha. “A vida tem obstáculos, estava em momento difícil, mas quem me conhece sabe que nunca cruzei os braços e continuei a lutar. É preciso desfrutar, mas, ao mesmo tempo, ser consciente e seguir trabalhando”, afirmou.

Técnico exalta empenho

 Os seis títulos mundiais de Itália (quatro), Uruguai e Inglaterra (um cada) não intimidaram a Costa Rica. Apesar de ter sido tratada desde o início por grande parte da mídia como o patinho feio do Grupo D, os costa-riquenhos se prepararam desde dezembro para chegar ao Mundial da forma como o fizeram: surpreendentes. E o técnico Jorge Luis Pinto não mediu palavras para elogiar o empenho e dedicação de seus jogadores até chegarem a este momento histórico.

 “Desde o sorteio sabíamos o que tínhamos pela frente e nos preparamos para isso. A equipe foi muito constante durante todo este período, o que nos deu chances de chegar aos sete pontos. Ganhamos confiança depois dos jogos contra Uruguai e Itália”, disse o treinador ontem, durante a coletiva de imprensa.

 E ter passado por três dos principais adversários do cenário mundial já deixa o time mais bem preparado para os jogos que a seleção terá a seguir. “Pensamos que seria muito difícil este grupo da morte. Enfrentamos os três adversários com respeito e entrega total, o que nos deu resultado. Esperamos continuar com isso. Temos confiança e estes três (jogos) nos deram mostras de que podemos. Queremos e buscaremos mais e todo o grupo está convencido disso”, emendou o treinador, que teve discurso endossado pelo goleiro Navas. “Vamos seguir com a mentalidade. Acreditando no grupo, buscando os resultados e queremos chegar à próxima fase (quartas de final), algo histórico para nosso time e país.”

Hodgson agradece apoio da torcida em BH

 Quando o apito do árbitro Djamel Haimoudi soou pela última vez no Estádio do Mineirão, ontem à tarde, marcando o fim de Costa Rica x Inglaterra, a reação da torcida inglesa foi totalmente contrária às expectativas. Ao invés de vaiar ou xingar os atletas, preferiu cantar, ganhando aplausos de agradecimento dos jogadores e integrantes da comissão técnica.

 Na coletiva de imprensa após a partida, o técnico Roy Hodgson mais uma vez lamentou a despedida precoce do English Team, mas valorizou a postura dos torcedores. “Ainda estou triste que este foi nosso último jogo no torneio. Queríamos fazer mais. De um ponto de vista pessoal, há muito a tirar deste jogo, de muitos jovens tendo suas primeiras experiências numa Copa do Mundo. E a torcida foi fantástica, ficamos tristes por ela, mas gratos por este momento no fim, quando demonstrou seu apoio”, afirmou o comandante.

 “A gente se sente muito emocionado, porque queria passar adiante da fase de grupos. Nos últimos dois ou três dias, a única coisa que falamos é o quanto estamos tristes, mas preciso dizer que não acho que qualquer pessoa possa sugerir que a equipe não demonstrou comprometimento e os nossos torcedores reconheceram isso, nos ovacionaram”, emendou Hodgson.

 Na saída do Estádio do Mineirão, assim como ocorrera na véspera, o veterano meia Frank Lampard, 36 anos, foi questionado se a partida de ontem fora sua última pela seleção. Mas o jogador despistou. “Gosto de atuar pelo meu país. Acho que ainda estou bem, mas não sei se vou continuar”, disse.

São-bernardense leva família para experiência única no Mineirão

Milhares de camisas vermelhas e brancas de torcedores da Costa Rica e Inglaterra, e outras tantas amarelas da Seleção Brasileira coloriram as arquibancadas do Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, ontem à tarde, no duelo entre as equipes. 

 Entre tantos mantos, um, com tom um pouco diferente da Seleção canarinho, mais escuro, chamou a atenção: o do São Bernardo FC. O engenheiro Cácio Muramoto, 54 anos, levou a mulher, Cristina, 53, e os filhos Felipe, 26, e Lucas, 22, para acompanhar a partida, representando o time da cidade da família.

Apesar de ser um jogo sem tantos atrativos para o Mundial, o que valeu para o patriarca foi vivenciar o ambiente de uma Copa do Mundo. “Este jogo (Costa Rica x Inglaterra) não está valendo nada, mas, pelo menos, assistimos a um jogo da Copa no Brasil com a camisa do São Bernardo”, disse Cácio, que afirmou realmente torcer pelo Tigre.

  Independentemente do resultado ou eliminação do English Team (o que aconteceu) – para quem os irmãos Muramoto estavam torcendo, com camisas do Manchester United e tudo –, a família destacou a oportunidade de curtir a festa. 

 “Fazia muito tempo que nós quatro não viajávamos juntos. Nem me lembro da última vez”, disse Felipe. “Vim para acompanhá-los, porque minha praia é vôlei. Mas estou gostando bastante”, disse a mãe, Cristina. “Muito bacana ver pessoas diferentes”, opinou Lucas. “É uma experiência única e não sei se teremos outra chance como esta”, concluiu Cácio.

Torcedores demonstram sentimentos opostos

Com sensações diferentes. Assim ficaram torcedores costa-riquenhos e ingleses após o duelo no Mineirão. Surpresos, os centro-americanos celebraram a classificação na primeira posição do Grupo D, enquanto os europeus lamentaram a eliminação precoce, como lanternas da chave.

O engenheiro David Ugaldi, 28 anos, vindo de Heredia (província da Costa Rica), classificou a equipe como “surpreendente”, tendo em vista a tradição do time frente aos demais concorrentes do grupo. “É uma surpresa para a gente e para todas as seleções, porque estamos no tal grupo da morte. Antes da Copa, os uruguaios nos chamaram de Costa Pobre. Mas chegamos aqui e ganhamos de dois campeões do mundo.”

 Na visão do bancário costa-riquenho Rodolfo Tabash, 45, que veio de San José acompanhado dos filhos Antonio, 15, e Diego, 10, a campanha da equipe tem sido indescritível. “Tínhamos fé no professor (Jorge Luis Pinto) e no time, mas eles superaram as expectativas. Não há palavras para descrever os triunfos sobre Uruguai e Itália.”

Para os ingleses, o English Team decepcionou. “Temos bons jogadores, mas o técnico os colocou nas posições erradas. Mesmo assim hoje é um dia feliz, é só futebol”, ponderou o aposentado David Sinden, 64, ao lado da mulher, Linda, 60.




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