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Os limites do ridículo

Existe gente que é contra a luz elétrica, a água encanada e a vacinação

Carlos Brickmann
26/09/2010 | 00:00
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Existe gente que é contra a luz elétrica, a água encanada e a vacinação. Está no seu direito - tanto de ser contra, como de fazer propaganda contrária.

Há gente que defende regimes autoritários, Bin Laden, jornais bonzinhos. Está no seu direito --tanto de ser a favor, como de fazer propaganda favorável.

Nos dois casos, existem limites éticos a ser observados. Mentir está fora dos limites éticos. Demonizar os adversários está fora dos limites éticos. Pregar a inferioridade de determinada etnias e culpá-las de tudo está fora dos limites éticos. E existem também os limites do ridículo. Pode-se ser contra a manifestação em defesa da democracia que ocorreu em São Paulo, no tradicional território livre em frente à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Mas não se pode, sob pena do ridículo, sob pena de expor-se como exemplo de idiotia, colocar em dúvida as intenções de pessoas como Dom Paulo Evaristo Arns ou Hélio Bicudo. Ambos enfrentaram a ditadura quando ditadura era um regime, não uma palavra. Dom Paulo estendeu a proteção da Igreja Católica aos perseguidos pelo regime. Hélio Bicudo combateu o Esquadrão da Morte, de sinistra memória. Dom Paulo, com o rabino Henry Sobel e o reverendo James Wright, deu condições ao jornalista Ricardo Kotscho de elaborar um dos livros mais importantes já lançados no País, o "Brasil Nunca Mais". Hélio Bicudo, de fortes raízes conservadoras, deixou-as por acreditar num líder sindical barbudo e em seu partido, o PT.

Enfrentem-se politicamente, senhores. Mas não se deixem cair no ridículo.

QUESTÃO DE LÓGICA
Curioso: no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, justo ali, houve uma manifestação contra a imprensa. Parece que querem imprensa livre - como anunciou o PCdoB, que segue a linha chinesa do comunismo. Ou a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, do mesmo Partido Socialista de Paulo Skaf, o "patrão dos patrões", presidente da Federação das Indústrias. Jornalistas? Talvez houvesse. Mas, como disse com precisão o repórter Rubens Valente, como pode um jornalista apoiar um movimento que chama de "lixeira" o lugar onde ele trabalha?

QUESTÃO DE OPÇÃO
Grande barulho na internet: uma senhora afirmou que Dilma Rousseff é lésbica e teve um longo caso com ela. Pede indenização pelo abandono. Só que: 1 - a história é falsa. O nome do advogado da referida senhora não consta na lista da OAB. E, num país como o Brasil, não dá para imaginar que uma secretária de Estado, como Dilma, tivesse uma amante e ninguém soubesse disso; 2 - se a história fosse verdadeira, ninguém teria nada com isso. Cada um tem suas opções sexuais e pronto. E daí? Daí que, além de a história ser falsa, tem forte teor de preconceito: seu objetivo é criar rejeição homofóbica à candidata do PT.

QUESTÃO DE EQUILÍBRIO
Hilariante o novo slogan de Paulo Skaf, o candidato social-socialista ao governo de São Paulo, criado por seu guru Duda Mendonça: "Nem Alckmin nem Mercadante. Vote na zebra". Seria a primeira Zebra de Nariz Comprido do País. E, em vez das listras características, a zebra seria identificada pelo Napa-Mundi.

QUESTÃO DO MAL
O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, recebe em Quito, no Equador, o título de Doutor Honoris Causa em Direito Civil. De alguma Universidade, ou do governo equatoriano? Não: de um certo Walter Crespo, que se intitula "bispo da Província Anglicana do Equador". Entre suas múltiplas atividades, o bispo Walter Crespo é acusado de fornecer armas aos narcoguerrilheiros das Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. E segue o comando da "Província Anglicana do Zimbábue", do bispo Nolbert Kunonga. E que fez Robert Mugabe para merecer o título honorário de Direito Civil? Só em dois anos, 1983 e 1984, segundo a União Africana, mandou matar 20 mil integrantes da tribo Matabelle.

QUESTÃO DE OBSESSÃO
Que é que o ministro Franklin Martins fará tão logo se fechem as urnas? Já marcou para novembro o Seminário Internacional Marco Regulatório da Radiodifusão, Comunicação Social e Telecomunicação, a realizar-se em Brasília. Martins já convidou, entre outros, o presidente da ERC, o "conselho regulador" da imprensa de Portugal. A ERC portuguesa está no endereço http://www.erc.pt




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