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Escolaridade separa duas gerações
Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
17/04/2005 | 12:30
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O peso da escolaridade é o que distingue a capacidade de colocação profissional de um metalúrgico que atuava nas indústrias automobilísticas do Grande ABC em 1975 e de um que trabalha atualmente. Se antes, com apenas o ensino fundamental completo, um trabalhador conseguia ter cargo de chefia, hoje, após completar a universidade, funcionários têm dificuldade de promoção dentro das empresas.

Lourival de Medeiros Nóbrega, 74 anos, está aposentado e hoje integra a diretoria da AMA (Associação dos Metalúrgicos Aposentados do Grande ABC). Natural do Rio Grande do Norte, veio para São Caetano em 1953. “Já cheguei e comecei a trabalhar como metalúrgico. Não fiquei desempregado um dia sequer.” Casou-se em 1959 e alguns anos depois vieram os filhos. No final dos anos 60, foi contratado pela Mercedes-Benz, em São Bernardo. Com apenas ensino fundamental completo, chegou ao cargo de chefia em poucos anos. Na década de 70, Nóbrega era encarregado do tratamento térmico de peças. Aposentou-se na mesma fábrica em 1981.

O aposentado lembra que na Mercedes de 1975, trabalhavam mais de 20 mil pessoas – hoje são aproximadamente 12,2 mil. Ele conta que antes sobrava mais dinheiro e era possível se divertir com freqüência. “Quem teve cabeça naquela época conseguiu ganhar dinheiro e comprar todas as coisas necessárias para ter uma vida tranqüila atualmente”, comenta.

Nóbrega diz que antes as fábricas não exigiam escolaridade, mas sabe que agora é necessário ter formação. “Para quem estudou, a vida atualmente é boa. As montadoras dão oportunidade”, afirma. Mas, na visão de quem trabalha nas indústrias atualmente, esse não é o retrato da realidade.

O ferramenteiro Euzimar Ricardo Bernardes, de Santo André, tem 29 anos. Aos 15, entrou na Volkswagen por meio de concurso do Senai (Serviço Nacional da Indústria). No início, ganhava uma ajuda de custo. Alguns anos depois, conseguiu bolsa de estudos da empresa. Optou então por cursar faculdade de designer industrial. Hoje, após dois anos formado, casado e pai de um filho, aguarda uma vaga para ser promovido. “Graças à Volks, tenho uma vida boa. Não esbanjo dinheiro, mas ganho razoavelmente bem para me divertir com a família.”

Já para o inspetor de qualidade da General Motors, Rogério Teixeira Manfrinato, 35 anos, a diversão não é tão freqüente e tudo é contabilizado “na ponta do lápis”. Para economizar, vendeu o carro e poupa o dinheiro que seria investido em gasolina. Casado, pai de um filho e diretor de base do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, diz que teve dificuldades de conseguir trabalho na montadora. “Entre o envio do currículo e o chamado para trabalhar, esperei um ano.”




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