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Terra de ninguém

Estrada do Montanhão, localizada na divisa entre Santo André e São Bernardo, é alvo de impasse ambiental

Bia Moço
Especial para o Diário
26/03/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


O impasse entre as promotorias de Meio Ambiente de Santo André e de São Bernardo sobre a Estrada do Montanhão já é velho conhecido, no entanto, a área de preservação ambiental é considerada “terra de ninguém” pela população, que cobra do poder público mais atenção para o local. Sem fiscalização, a passagem de 1,8 quilômetro que liga os dois municípios pelo meio de área de vegetação – boa parte de espécies da Mata Atlântica – ainda serve como ponto de descarte de lixo e entulho.

A equipe do Diário percorreu o local na sexta-feira e flagrou morador deixando lixo reciclável na via. O cidadão estava a menos de meio metro de área tomada por descarte irregular de entulhos. Na estrada, é possível visualizar almofadas, espumas, pedaços de madeira, pedras, lajotas, sacolas de mercado e caixas de papelão.

Embora, por decisão judicial, a estrada permaneça aberta, a população do entorno teme o futuro do trecho. Morador do local há 28 anos, Nilo Resende, 37, diz que além de a situação da estrada ser precária, não há fiscalização. “Fica ‘ao Deus dará’ e a administração pública não dá importância para o espaço que tanto enchem a boca para dizer que é de preservação ambiental. Se não nos indenizarem para sair daqui, ao menos deveriam realizar melhorias no espaço e fiscalizar toda a área.”

Referência do local, o presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, Ronaldo Antônio Linares, ou apenas Pai Ronaldo, com 48 anos de atividade no Santuário Nacional da Umbanda – instalado em área de preservação –, acredita que em 2010, quando o Ministério Público entrou com ação para fechar a passagem do trecho, o objetivo era forçar o fim das atividades do santuário. “Naqueles dez dias que fecharam a passagem tivemos problema com os frequentadores que vinham de São Bernardo, pois não conseguiam chegar até aqui. Se tentarem fechar de novo, vamos brigar na Justiça. Até porque não têm fundamento nenhum as alegações do processo. A área é de preservação e, por isso, cuidamos.”

O santuário, que conta com 645 mil metros quadrados e menos de 5% de área construída, orgulha pai Ronaldo. Para ele, hoje a área está recuperada, e graças às mãos da comunidade umbandista. “Chegamos aqui em 1972 e, naquela época, era um local completamente devastado por exploração mineradora. Hoje, além de termos permissão de uso do espaço, temos uma floresta feita com as nossas próprias mãos. Nunca um promotor pisou aqui para olhar. É só ver ao redor e saberão se cuidamos ou não.”

Ele explica ainda que, se por acaso colocam oferendas na estrada, ele mesmo as recolhe. “Não tem nenhum tipo de fiscalização. Ressalva quando passa viatura do meio ambiente, de vez em quando. Se me notificam de que há oferendas na área, pego meu carro e vou pessoalmente retirar. A população do entorno é carente, mas, mesmo assim, prezam por seus lares e pela área.”


Processo para fechar a via ainda continua

Em 2010, a Justiça determinou o fechamento de trecho de 1,8 quilômetro da Estrada do Montanhão – que liga Santo André e São Bernardo – atendendo a pedido da promotoria do Meio Ambiente de Santo André. De acordo com o promotor José Luiz Saikali – que deu início à ação civil pública –, passados oito anos a situação ainda segue tramitando na Justiça e o objetivo é de preservar o parque ambiental.

O promotor ressalta que a fiscalização da área ficou a cargo do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André). “Sobre fechar novamente o trecho, isso tudo ainda está suspenso até a decisão final do recurso. O tribunal mandou reabrir o espaço. Houve recurso. Estamos aguardando, desde 2012, o resultado.”

Contrária à decisão na época, a Prefeitura de São Bernardo entrou com ação pedindo a liberação do trecho, exemplificando os transtornos que causava aos moradores de bairros próximos, como Baraldi e Jardim Silvina.

Dez dias depois do fechamento, liminar concedeu a abertura da via. Como o processo previa fazer com que a estrada passasse a ser parte da unidade de conservação ambiental, em 2013, a área foi cercada pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.). Na época, a justificativa era a de que seria forma de compensação ambiental do Trecho Sul do Rodoanel, inaugurado naquele ano.

Pai Ronaldo, no entanto, acredita que não se faz preservação ambiental quando se tira a vida de animais. “Graças à cerca colocada, uma família inteira de cachorros-do-mato morreu enforcada. Depois deles, diversos animais foram encontrados mortos no arame farpado. É lamentável.”

Questionado, o Semasa ressaltou que equipes de fiscalização percorrem a área diariamente, no entanto, afirma que os mesmos problemas que motivaram o processo ainda continuam. 




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