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‘Acho que preciso muito do apoio da Câmara de Mauá’, sustenta Atila
Júnior Carvalho
Raphael Rocha
10/09/2019 | 07:35
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Celso Luiz/DGABC


Horas depois de ver a Justiça paulista lhe garantir, em caráter liminar, o direito de voltar ao cargo de prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB) pediu publicamente apoio à Câmara, responsável por sua cassação, em abril. Em entrevista exclusiva ao Diário, primeira após a decisão, ontem à tarde, Atila fez aceno nítido aos parlamentares, que aprovaram seu impeachment com voto de 16 dos 23 vereadores. “Acho que agora temos de trazer a cura para Mauá. E essa cura é a Câmara e o Executivo caminharem de mãos dadas. Acho que eu preciso muito do apoio da Câmara. Peço a sensibilidade, e a palavra de paz também tem de vir do Legislativo. Todos eles foram eleitos pelo povo, como eu.”

O desejo de Atila reconstruir a aliança rompida após o impeachment, sobretudo com o presidente da casa, Vanderley Cavalcante da Silva, o Neycar (SD), fiador da cassação e aliado da vice-prefeita Alaíde Damo (MDB), fica evidente em quase todas as declarações do prefeito. Durante a entrevista, o socialista repete incansavelmente as palavras “Câmara” e “diálogo”, em nítida demonstração de repactuação. Embora Atila já tenha sido cassado, com base em denúncia que o acusou de deixar vago o cargo de prefeito, a casa ainda tenta buscar na Justiça o direito de dar prosseguimento à outra denúncia, a que trata de casos de corrupção narrados no âmbito da Operação Trato Feito, que culminou com sua segunda prisão, em dezembro. “A gente volta para o cargo com tranquilidade. A nossa mensagem para Câmara é o Atila paz e amor, voltado ao povo.”

Atila critica decisões tomadas pela gestão Alaíde durante seu afastamento, como rompimento com a FUABC (Fundação do ABC) e o encaminhamento de entregar a Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) à Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Como o senhor recebeu a decisão do TJ-SP?
É momento de emoção. A cidade agora volta a sorrir. Acho que agora a palavra de ordem na cidade hoje é paz. O que a população quer é paz, tranquilidade e estabilidade para que a gente possa colocar as ações necessárias em prática.

Como será a retomada de diálogo com a Câmara?
Acho que muito tranquila, espero ser bem recebido na Câmara, por um único motivo: temos de trabalhar pela cidade e dar as mãos por Mauá, independentemente de questões políticas e do afinamento que a Câmara teve com a ex-prefeita, Alaíde Damo, que voltou a ser a minha vice. Acho que temos de voltar a trabalhar pela cidade e pelo povo mais carente. Agora temos de trazer a cura para Mauá. E essa cura é a Câmara e o Executivo caminharem de mãos dadas. Acho que eu preciso muito do apoio da Câmara. Peço a sensibilidade, e a palavra de paz também tem de vir da Câmara. Todos eles (vereadores) foram eleitos pelo povo, como eu. A decisão do TJ-SP coloca em prática a democracia, a vontade do povo.

O que diz essa decisão?
A decisão do TJ-SP nos coloca de forma imediata novamente ao cargo de prefeito. A decisão foi enfática, foi inegável, foram três votos a zero. Foi decisão unânime. Uma liminar que suspende o decreto de cassação aprovado pela Câmara. Isso nos recoloca no cargo para que a gente possa seguir o caminho ao lado do povo. Volta para Mauá o prefeito do povo. Acho que o povo estava com saudades de ter um prefeito que abria as portas do gabinete, que ouvia e que não se escondia. Um prefeito que trabalha com o coração. Tudo o que eu passei durante esse período me fez amadurecer muito, todas as orações me fortaleceram mais ainda. E é com esse sentimento que a gente volta, a gente volta com tranquilidade. A nossa mensagem para Câmara é o Atila paz e amor, voltado para o povo.

Como será a transição? Quer ser recebido pela Alaíde ?
Não poderia ser de outra forma. Tem que começar o nosso dia logo nas primeiras horas, chegando na Prefeitura cedo. Espero que haja transição.

O senhor pretende conversar com a Alaíde?
Pretendo, sim. Até porque respeito a dona Alaíde Damo. Espero que seja feita transição. Acho que não tem por que não ser. Estamos lá para trabalhar pela cidade. O que aconteceu em Mauá foi um governo que andou para trás. Nós temos de fazer o governo andar para frente. E a nossa velocidade vai ser acima dos 400 quilômetros por hora, para que a gente possa acelerar e dar à cidade o que realmente precisa.

O senhor reconhece as decisões da gestão Alaíde de romper com a FUABC e de encaminhar acordo com a Sabesp?
A própria Justiça, na questão da saúde, demonstrou a precipitação do governo Alaíde Damo no momento da retirada da Fundação e a substituição por uma nova OS (Organização de Saúde). O emergencial, em primeiro lugar, deveria ser feito com a própria Fundação. E aí sim ser aberto um processo licitatório. Atropelou, colocaram a carroça à frente dos bois. Não quero analisar os motivos, mas nos causa estranheza. Nós vamos fazer uma auditoria em todos os contratos, e ações que o governo Alaíde fez até o momento. Nós vamos conversar com a FUABC porque nós temos de ter respeito pela entidade e isso é ter respeito também com o povo e com a saúde de Mauá. Não podemos trabalhar para que amanhã ou depois tenha paralisação.

E quanto à Sabesp?
Nosso mandato tivemos vários diálogos com a Sabesp. Inclusive, foi sob nosso governo que Mauá ganhou alguns precatórios, através de decisões do TJ, questionando valores da dívida com a Sabesp. Agora nós vamos tomar conhecimento de quais foram os encaminhamentos para tomar decisão por Mauá. O que Mauá não pode é continuar tendo é a falta de água, é o povo pagando o esgoto mais caro que a água e pagando caro e não tendo água nas suas torneiras. Podemos discutir, pode ser colocado novo modelo.

Existe alternativa a não ser entregar à Sabesp a concessão do serviço, como ocorreu em Santo André?
Mauá é diferente de Santo André porque o município controlava a água e o esgoto, e nós só temos a água. Temos que discutir com a parceira, a BRK (Ambiental, concessionária do esgoto), e aí vamos sentar com eles, com a Sabesp e apresentar novo modelo. Por que não criar uma empresa tripartite? Eu sugeri isso lá atrás.

Como o senhor vai manter a relação com a Câmara sem o toma lá dá cá?
A gente sabe muito bem que é necessário o diálogo com a Câmara. Naquele momento os vereadores tomaram uma decisão, não quero julgar ninguém. Acho que os atos que foram noticiados pelo Diário, em que supostamente possa ter havido a troca e o favorecimento pela aprovação do impeachment, isso tem de ser apurado pelo Ministério Público e pela Justiça. Não serei eu quem vai analisar. Agora, como prefeito, vamos dialogar com a Câmara. Esses pontos que foram denunciados têm de ser apurados para retomar com muita cautela e transparência o diálogo com a Câmara. Não está aqui um homem para acusar. Se um dia me acusaram, não vou acusar ninguém. Eu estou aqui para governar para o povo.

O senhor já decidiu quem vai compor seu secretariado?
Hoje (ontem) foi um dia de muita alegria para a cidade. Agora vamos respirar. Tem um filme que se chama Comer, Rezar e Amar. Agora a intenção é de ‘ouvir, refletir e rezar’. Esse é o lema do Atila e o próximo filme da cidade de Mauá. Vamos tomar as decisões com muita calma e chamar grandes profissionais. Acho que durante esta semana, até domingo, vamos ter todo o nosso secretariado definido.

É possível fazer isso com a Câmara?
Temos de respeitar a Câmara. Lá tem 23 vereadores eleitos pelo povo. O povo de Mauá gritou alto, rezou e orou querendo prefeito eleito de volta. Não seria eu quem estaria na contramão. Nos temos que dialogar com a Câmara e dar voz para a Câmara. E ouvir os vereadores. Aí vamos fazer um governo democrático e colocar a cidade no lugar. Tem que ter tranquilidade e estabilidade. É dessa forma que nós vamos governar.

Como o senhor avalia o fato de aliados antigos terem mudado e lado?
Neste momento venho com o coração aberto. Acho que quem vai julgar tudo isso é Deus, não sou eu. Não vou julgar ninguém. Vamos dialogar, buscando os melhores nomes. Alguns pessoas que estiveram no nosso governo e fizermos a análise que devem permanecer, vão permanecer. Se não, vamos agradecer. Não vamos fazer uma política de caça às bruxas, o povo de Mauá não quer isso, quer trabalho.

É possível falar de reeleição em 2020?
O povo pediu a nossa volta. Vamos voltar, trabalhar muito, cumprir a missão que Deus e o povo nos deram. O povo nos deu a missão de governar por quatro anos. Minha obrigação agora é com o povo da cidade, é cumprir o que eu prometi. E depois disso nós vamos analisar o futuro.

Como o senhor vê a possibilidade de a Câmara dar andamento a um outro pedido de impeachment?
Acho que temos de dar um passo de cada vez. Estamos muito focados em devolver o orgulho para o povo da cidade, de reabrir o diálogo com a Câmara. Estou olhando aqui, de mãos dadas com o povo, dizer para a Câmara que Mauá precisa de paz, precisa de tranquilidade. Os interesses político-partidários e eleitorais de 2020 não podem estar à frente dos interesses do povo hoje. Acho que a Câmara tem de ter esse mesmo espírito. Vou estar amanhã (hoje) na Câmara, às 14h (durante a sessão), me reapresentando aos vereadores, e dizer que o nosso governo está aberto ao diálogo. Quem for de bem vai caminhar com o nosso governo.

Como o povo de Mauá pode ter a segurança que a estabilidade vai voltar e que não vai haver nova mudança?
Total segurança. A decisão da desembargadora (Ana Liarte) e os três a zero falam mais que as minhas palavras. Mauá precisa disso e vai ter a estabilidade. E isso passa pela Câmara, pelo Executivo, passa pelo povo. Mauá não aguenta mais.  




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