Em avanço da Barbatanas, MP apura se negociações imobiliárias ocultaram bens do prefeito de S.Bernardo
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), núcleo do Ministério Público paulista, investiga o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), por suspeita de corrupção passiva e de ocultação e lavagem de dinheiro em inquérito de desdobramento da Operação Barbatanas.
São investigadas também outras duas figuras ligadas à Barbatanas, deflagrada pelo MP em outubro de 2017: o vereador afastado e ex-secretário de Gestão Ambiental Mario de Abreu (ex-PSDB, atual PDT) e o empresário Clóvis Rueda.
A apuração dos promotores teve início a partir da quebra do sigilo telefônico de Mario – acusado na Barbatanas de vender licenças ambientais e cargos na pasta, o que ele nega. Nas conversas, conforme o Gaeco, constatou-se que Mario, Rueda e Morando mantiveram inúmeros diálogos.
Em alguns deles, Mario e Rueda tratam sobre “doações (eleitorais à campanha de Morando e de Mario) e eventuais benefícios decorrentes da vitória de Orlando Morando Júnior, bem como sobre quem e como seria feito para ‘esquentar’ o dinheiro deste (Morando)”, de acordo com trecho do PIC (Procedimento Investigatório Criminal) instaurado em 29 de agosto de 2018, assinado pelo procurador João Antônio Bastos Garreta Prats e pelo promotor Cleber Takashi Murakawa.
Advogado e ex-assessor de Morando, Mario de Abreu foi candidato a vereador em 2016 pelo PSDB, se elegendo com 3.014 votos. Rueda, dono da empresa Cydak do Brasil, doou R$ 5.000 para campanha a vereador do então tucano. Ao projeto eleitoral de Morando, a doação foi de R$ 100 mil – a maior contribuição de pessoa física depois da própria colaboração de Morando.
Segundo trecho do PIC, o compartilhamento de provas da Barbatanas indicou que “os fatos podem configurar, em tese, lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, bem como os crimes de associação criminosa e corrupção passiva”.
A investigação, ainda em curso, segue a linha de que a suspeita de lavagem de dinheiro foi feita via transações imobiliárias. O Gaeco mapeou dezenas de imóveis no nome de Morando e de sua empresa Ponto Bom Participações (atualmente OAC Participações). Nesta lista, há propriedades que estavam em nome de Mario e foram repassadas para a firma do prefeito de São Bernardo.
Os promotores decidiram também levantar a matrícula de imóveis em nome de José Carlos Vinturini, sócio de Morando na Ponto Bom; Carla Morando (PSDB), deputada estadual e mulher do prefeito de São Bernardo; Rueda e Mario de Abreu, bem como das empresas dos investigados.
Como o Diário mostrou no dia 19, a movimentação imobiliária de Morando já resultou em denúncia apresentada à PF (Polícia Federal) – 17 imóveis ou terrenos foram apresentados à instituição, sendo que a maioria foi adquirida por preço abaixo do valor venal, prática inusual no mercado.
Em nota, Morando disse que “desconhece qualquer investigação em andamento relativa a imóveis”. “O único procedimento a que teve conhecimento, o qual tramitava no âmbito do Tribunal de Justiça de São Paulo, foi devidamente arquivado após exaustiva e rigorosa análise do Ministério Público, que concluiu pela inexistência de qualquer irregularidade.” Tal procedimento, entretanto, determinou arquivamento só da parte que envolve Carla, sendo o restante ainda alvo de apuração do Gaeco e da Justiça Eleitoral, por ordem judicial.
Mario alegou inocência e afirmou que irá prová-la no curso do processo. Rueda não foi localizado pelo Diário.
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