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S.Caetano encolhe 15% em 25 anos
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
22/05/2005 | 09:21
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São Caetano abriga hoje 137.582 cidadãos privilegiados em 15 km². Mas há 25 anos eram 163.268 que dividiam o mesmo espaço territorial, que tem o metro quadrado mais caro do Grande ABC. O município é o único da Região Metropolitana de São Paulo que passou a perder população a partir de 1991, conforme constata o censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A população de São Caetano diminuiu 15,74% entre 1980 e 2005. No mesmo período, o número de habitantes no Grande ABC dobrou, passando de pouco mais de 1,6 milhão em 1980 para 2,5 milhões neste ano. Os motivos apontados para a fuga de cerca de 1 mil habitantes por ano neste período são o alto custo de vida na cidade, falta de espaço territorial para crescer e queda na taxa de fecundidade, que influencia diretamente no aumento do IE (Índice de Envelhecimento).

Desde 1970, São Caetano já apresentava alto IE. Para cada grupo de 100 habitantes com idades entre zero e 14 anos havia 20,32 pessoas com 60 anos ou mais. Em 2000, com base nos dados apresentados pelo censo do IBGE, o IE saltou para 89,5. O cálculo é feito pelo geógrafo e demógrafo Odeibler Santo Guidugli, professor do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro. “A taxa de fecundidade sempre abaixa quando existe o crescimento do nível de escolaridade das mulheres, o que é notório em São Caetano. Além disso, é desprezível o processo migratório na cidade. As pessoas saem mais de São Caetano do que entram. E isso é por conta da alta densidade demográfica (a segunda maior da região) e o preço do metro quadrado”, explica o demógrafo.

O empresário da construção civil Milton Bigucci, presidente da Acigabc (Associação dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC), compara o metro quadrado no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo, com o Santa Paula, em São Caetano, que guarda as mesmas características, mas tem preços diferenciados. “No Rudge Ramos, o metro quadrado custa R$ 400, em média. Em São Caetano, é R$ 500 ou R$ 550. Sem contar que em São Caetano a lei de zoneamento não permite que em alguns locais se construa prédios com mais de quatro andares. Quando se paga caro pelo território e não dá para fazer um prédio com 15 andares, o preço da construção fica mais alto ainda”, afirma.

A autônoma Rosemeire Santi, 40 anos, comprovou essas diferenças na prática. Ela nasceu e foi criada no bairro Barcelona em São Caetano. Em meados da década de 90 juntou dinheiro para comprar um terreno. Mas o valor acumulado não dava para adquirir uma área em São Caetano. “Comprei um terreno no Centreville, em Santo André, onde construí uma casa. Não era o lugar que gostaria de morar, pois minha vida estava em São Caetano, mas não tive outra alternativa.”

Há três anos, tentou vender o imóvel, uma casa com térreo e mais dois andares, avaliada em R$ 80 mil. “Queria trocar por um imóvel equivalente em São Caetano. Mas uma casa do mesmo porte não sairia por menos de R$ 160 mil. No bairro Barcelona, onde está minha família, o preço chega a R$ 250 mil. Desisti de sair de Santo André, mas continuo a passar a maior parte do tempo em São Caetano, pois trabalho e tenho minha família lá”, completa.

Para a dona-de-casa Leonídia de Lima Bianco, 49 anos, a situação não foi diferente. Ela morou em diversos bairros de São Caetano sempre pagando pelo aluguel. “O preço era alto, mas compensava pela estrutura da cidade. Pagava de R$ 500 a R$ 600 por uma casa de quatro cômodos. Gastaria a metade se estivesse em Santo André ou em São Bernardo.”

A exemplo de Rosemeire, ela queria ter uma casa própria, de preferência em São Caetano. No entanto, o preço não era compatível com o seu orçamento. Comprou um apartamento em Rudge Ramos, hoje avaliado em R$ 85 mil. Com o mesmo valor, não conseguiria voltar para São Caetano e manter o mesmo padrão de moradia. Ela reclama ainda da diferença do serviço público. Ela tem um filho de 11 anos que cursa a 5ª série em escola estadual. “Quando estávamos em São Caetano, meu filho freqüentava a escola municipal, que tinha o mesmo nível de uma particular. Também tínhamos um atendimento médico decente e rápido. Depois que me mudei, tentei manter meu filho na escola e continuar a passar pelos mesmos médicos. Posso até dar um endereço de São Caetano, mas o prefixo do meu telefone denuncia a cidade onde moro.”

O demógrafo Odeibler Santo Guidugli diz que o Grande ABC é de extremos. A primeira comparação que faz de São Caetano é com São Bernardo. “Apesar de São Bernardo quase ter dobrado de tamanho no mesmo período e ter muito espaço territorial para crescer, a infra-estrutura urbana não acompanha esse crescimento. A cidade está em processo de favelização. Enquanto isso, a vizinha São Caetano diminui de tamanho e não deve perder pontos nos indicadores sociais e econômicos, pois tem maior controle do espaço que, em geral, está ocupado.”

Outra comparação feita por Guidugli é com Diadema, que tem o dobro do território – 30,7 km² – e bem mais que o dobro de habitantes. No entanto, apresenta alta densidade demográfica, a maior do Estado. “Diadema tem pouco espaço territorial para crescer, mas continua a apresentar aumento da população. O processo é inverso ao de São Caetano. Enquanto um município expulsa aqueles que não podem pagar para morar por conta da valorização do território, o outro, embora também tenha pouco espaço, não sofre a mesma valorização. A desvalorização de Diadema está diretamente ligada aos indicadores sociais e aos índices de violência. Mesmo que a cidade tenha reduzido a criminalidade, vai demorar a ver investimentos que possam valorizar o metro quadrado.”




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