"Não se reprima, não se reprima...", o ritmo dançante que estourava nas paradas de sucesso na década de 1980 nas vozes dos Menudos embalou um time que fez história no São Paulo.

Os adolescentes Roy Rosselló, Robby Rosa, Ricky Martin, Charlie Massó e Ray Reyes formavam um conjunto que virou fenômeno de popularidade. Na mesma época, surgia no Tricolor uma das gerações mais promissoras das categorias de base, um time que literalmente jogava por música, os chamados Menudos do Morumbi. E um representante legítimo desta equipe é o técnico Roberto Fonseca, do São Caetano.

Paranaense de Mandaguari, o então zagueiro Fonseca chegou ao São Paulo com 20 anos, no fim de 1984. Teria pela frente o maior desafio da carreira, pois estava prestes a atuar ao lado de dois monstros do futebol mundial: o brasileiro Oscar e o uruguaio Dario Pereyra - para muitos, a melhor dupla de zaga da história do São Paulo. Diante deste quadro, ser escalado era quase impossível. "Como iria jogar com uma dupla dessas como titular", brinca o treinador. "Mas ser reserva de jogadores como Oscar e Dario Pereyra era um privilégio", lembra.

De fato, Fonseca teve poucas oportunidades na equipe que reinou no futebol brasileiro. Campeã Paulista de 1985 e 1987 e Brasileiro de 1986 encantou ao misturar a habilidade adolescente e ousado de Müller e Silas com craques já consagrados como Careca, Gilmar Rinaldi e depois Falcão. A mescla deu certo e o futebol envolvente da equipe virou referência mundial. Coincidentemente, na mesma época, outro fenômeno despontava, só que na música: os Menudos, que rapidamente viravam febre entre os adolescentes. A comparação foi inevitável.

"Tivemos de deixar de jogar no Morumbi e mandar algumas partidas no Pacaembu para que os Menudos pudessem se apresentar. A partir daí todos passaram a nos chamar de Menudos do Morumbi, comparando nossa juventude com a deles", explica o treinador, ao se referir aos shows realizados em março de 1985 no estádio que atraíram cerca de 200 mil fãs de diversas partes do mundo.

Mas não eram apenas essas características que aproximavam o Tricolor do conjunto porto-riquenho. "É, não tem como esconder. Alguns jogadores do time usavam os cabelos grandes, armados, com topetes, muito comuns na época, parecidos com os dos Menudos e isso também ajudou na comparação", sorri o treinador, dizendo que seu estilo era diferente. "Eu quase não tinha cabelo", defende-se.

Fonseca geralmente entrava na equipe quando havia contusões ou nas brechas que apareciam com a convocação de Dario Pereyra para a seleção do Uruguai. Mas tirou lições daquelas temporadas. "O Oscar, por exemplo, era um exemplo de determinação. Mesmo com a Copa de 1982 nas costas e com tudo que representava no futebol, tratava todos da mesma forma, extremamente humilde. Era sempre o último a deixar os treinamentos", revela. "O Cilinho (treinador) foi meu professor. Seu estilo era inconfundível, trabalhava muito com as coisas extracampo. Muitas de suas lições uso no dia a dia aqui no São Caetano", completa.

O treinador garante que depois de Cilinho, muitas coisas mudaram na forma de conduzir uma equipe. "Ele influenciou a maioria dos técnicos. O uso do campo reduzido, por exemplo, que oito de dez treinadores usam, foi ele que introduziu. Percebi a importância dessa atividade desde a época de jogador e agora como técnico mais ainda. Sempre lembro do Cilinho quando programo esse tipo de atividade", explica.

Depois do São Paulo, Fonseca passou por vários clubes até encerrar a carreira em 1999 pelo Londrina, time da cidade paranaense onde fixou residência. Hoje, aos 46 anos, lembra com carinho de tudo que passou na carreira e tem uma certeza: pertencer aos Menudos do Morumbi foi uma das melhores coisas que lhe aconteceu na vida.