Setecidades Titulo De janeiro a agosto
Registro de feminicídios cai pela metade na região

São quatro vítimas neste ano, ante oito em 2019; em todo Estado, ocorrências ficaram estáveis

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
14/10/2020 | 00:01
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Pixabay


O Grande ABC registrou quatro feminicídios de janeiro a agosto deste ano, metade dos casos observados em 2019. Considerando todo o Estado, foram 82 vítimas em 2020, apenas duas a menos do que no período anterior. Os dados são de BOs (Boletins de Ocorrência) disponibilizados no Portal de Transparência da SSP (Secretaria da Segurança Pública) e foram levantados pelo Diário.

Ainda que não entre no balanço, dado que o caso ocorreu em setembro, o assassinato da manicure Claudia Fernanda Santos Oliveira, 25 anos, de Santo André, chamou atenção na semana passada. A mulher estava desaparecida desde 20 de setembro, quando saiu de casa para visitar os filhos na casa do pai, em São Bernardo. No dia 9, o ex-marido Wagner Lima de Oliveira, 35, foi preso pelo Deic (Delegacia de Investigações Criminais) após confessar a autoria do assassinato sob a justificativa de ciúmes e desgosto com declarações da vítima.

Desde o início da quarentena, especialistas alertam para o aumento da violência doméstica. Na região, foram cerca de 21 denúncias por dia até maio, totalizando 1.406 BOs, segundo dados da SSP obtidos pela equipe de reportagem via Lei de Acesso a Informação. Apesar dos casos de 2020 apontarem redução em relação ao ano anterior. Na ocasião, especialistas foram taxativos ao afirmar que a violência contra a mulher tem crescido, mas elas tiveram menos chance de denunciar em razão do isolamento físico.

Entretanto, o feminicídio, que é uma qualificação do homicídio, é mais difícil de ser subnotificado, já que se trata de uma morte. “É possível (que haja subnotificação), mas é mais raro. Normalmente, estes crimes são revelados mais facilmente”, assinalou David Barbosa de Siena, professor de direito penal na USCS (Universidade Municipal de São Caetano).

“Muito difícil que haja subnotificação de homicídios. É um crime muito grave, que envolve várias circunstâncias, como sumir com o corpo”, exemplificou o coronel Renato Nery de Machado, comandante do CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área Região Metropolitana 6), responsável pelo Grande ABC.

Para Siena, a redução pode ser reflexo da ação pública, uma vez que houve ampla divulgação dos canais de denúncia, além da implementação da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) eletrônica, em abril, e da possibilidade de acionar a polícia por aplicativo. “Como o número de casos da nossa região é relativamente pequenos, outra hipótese é a de que quando trabalhamos com uma base da dados menor, pode haver distorções. Teremos que acompanhar se o comportamento permanece para sabermos se teremos, de fato, uma redução.”

O docente da USCS destacou que “tudo o que conhecíamos sobre a criminalidade mudou na pandemia” e que é necessário aguardar para verificar quais oscilações que ocorreram no período serão, de fato, uma tendência. Em relação à atuação da PM (Polícia Militar), o coronel Nery explicou que a corporação realiza campanhas e auxilia nas redes de proteção à mulher, além de fiscalizar o cumprimento de medidas protetivas. 




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