O Diário teve acesso a fotos que comprovam abusos cometidos por veteranos da Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André, contra calouros dentro do campus da instituição. Nas imagens, uma grande fileira de rapazes que são coagidos (ou obrigados) a ficar de cuecas, ao lado das garotas. Diálogos de veteranos no site de relacionamentos Orkut também expõem explicitamente as humilhações sofridas por calouros nos trotes.

Na semana passada, a Polícia Civil abriu inquérito para averiguar as denúncias. O delegado Roberto Von Haydin Júnior, do 4ºDP, afirma que ainda nessa semana a polícia fará diligências e convocará os veteranos suspeitos responsáveis pelas agressões. O diretor da faculdade, Luiz Henrique Pachoal, afirma que há estudantes do sexto ano de Medicina que já foram identificados como autores dos trotes violentos.

Paschoal informa que pelo menos dez calouros desistiram de estudar na Medicina do ABC por causa dos trotes. “É lamentável que eu perca alunos por causa da ação insana de alguns veteranos. Eu não entendo essa agressividade. É um castigo ao calouro que será seu futuro colega de curso”, afirma o diretor. Resultado do sindicância aberta pela instituição deve sair nesta sexta-feira. Luiz Henrique Paschoal promete “punições exemplares” para extingüir definitivamente o trote na faculdade. Em 2004, 600 alunos foram suspensos, acusados de envolvimento em trotes violentos. O diretor classificou as imagens dos trotes como semelhantes a “cenas de guerra”.

Neste ano, dezenas de parentes de calouros revoltados têm se reunido todos os dias na faculdade para tentar evitar que ocorram os abusos. As denúncias de vítimas dos veteranos incluem banhos de lama, agressões e humilhações ininterruptas durante os nove dias de pedágio, durante o qual os calouros têm de coletar dinheiro para jogos universitários de medicina. No último dia 24, um rapaz fez um boletim de ocorrência no 4ºDP, registrado como lesão corporal e injúria real. No fim de semana, outro novato registrou queixa por ameaça.

Um rapaz entrevistado pelo Diário afirma que, depois de ser obrigado a ficar só de cuecas e pagar várias cervejas aos veteranos, foi pisoteado por um aluno. O presidente da Atlética, Gabriel Teixeira, disse na semana passada que ninguém é obrigado a fazer o pedágio e que dentro do campus não eram realizados trotes. Nesta quinta-feira, a reportagem não conseguiu localizar o estudante para comentar sobre o assunto.

Durante os períodos de trote, confirma o diretor da faculdade, um rapaz ficou desidratado e uma moça teve insolação. Familiares dos calouros afirmam que eles são coagidos a fazerem pedágios por cerca de duas semanas, antes que possam assistir livremente às aulas. A mensalidade do curso é de R$ 2.080. Dinheiro que, segundo as mães dos calouros, é jogado no lixo durante o primeiro mês do curso.

Novas denúncias relatam que há trotes violentos também no curso de Farmácia. No Orkut, veteranos comentam sobre os abusos abertamente. Um usuário do site comenta as posições às quais os calouros são obrigados a ficar. Um outro rapaz lembra, em tom irônico, que determinado veterano teria ido à faculdade apenas para fazer os calouros se esfregarem pelo chão. Um dos veteranos do curso, em sua página do Orkut, tem uma foto com uma pistola (ou réplica de brinquedo), com a seguinte legenda: “Se liga na cintura, calouro”.