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Dengue: Saúde dispara sinal de alerta

A dengue é uma doença cada vez mais associada a hábitos das pessoas.

Wilson Marini
26/03/2012 | 00:00
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A dengue é uma doença cada vez mais associada a hábitos das pessoas. Os cuidados preventivos da população, de um lado, e a ação mobilizadora das equipes, de outro, são os fatores principais que determinam maior ou menor incidência da doença. Na prática, quando a dengue explode a culpa é compartilhada. Moradores são responsabilizados por descuidos na limpeza, enquanto as lideranças locais têm de se explicar por que não fizeram a lição de casa. A equação da eficiência é a soma dos cuidados domésticos com a intervenção do poder público.

Em 2012, o quadro começa surpreendentemente diferente em relação aos últimos anos, quando a dengue eclodiu de forma assustadora no Estado, especialmente na Baixada Santista, Ribeirão Preto e regiões com temperaturas mais altas.

Na guerra contra o mosquito Aedes aegypti, este começo de ano apresenta estatísticas tão favoráveis à saúde pública que mesmo técnicos mais experientes confessam-se surpresos e desconfiam de que possa haver uma reversão a qualquer momento. Por isso, decidiram dar um sinal de alerta para que a situação cômoda atual não favoreça a volta da doença em proporções epidêmicas.

"Em 2011 houve desmobilização"

O epicentro dos preparativos da campanha estadual é a Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD), na avenida Doutor Arnaldo, na capital paulista. A área é coordenada pelo médico Marcos Boulos, formado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba (1972), mestrado, doutorado e livre docência em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade de São Paulo. Foi diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2006 a 2010) e é professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Boulos tem experiência em infectologia e medicina tropical, especialmente malária, dengue, hiv, leishmaniose e doenças dos viajantes. Durante os preparativos para a Semana de Prevenção, deu a seguinte entrevista à Rede APJ:

Qual é a importância da mobilização da saúde pública na prevenção da dengue?

No ano passado, apesar de cair o número de casos em relação a 2010, o número de mortes foi maior em termos percentuais mostrando que houve uma desmobilização nos serviços de urgência. As pessoas treinadas tinham sido alocadas para outros lugares. Fizemos então um tour pelo estado com treinamento rápido dos médicos e enfermeiros para que soubessem como diagnosticar e rapidamente introduzir condutas corretas para evitar as mortes.

O despreparo então está associado ao aumento de mortes?

A única explicação para o fato de haver diminuído o número de casos e aumentado o de mortes é porque os lugares que atendem dengue tiveram as pessoas remanejadas e as que entraram no lugar não tiveram o tirocínio e o treinamento para fazer o diagnóstico rápido e a hidratação a tempo. Foram 40 e alguns casos. É indigno dizer que a pessoa morreu por dengue sem assistência, um único caso que seja no País todo.

Qual é agora o risco?

Estamos bem, mas não quer dizer que as coisas estejam resolvidas. Pode ser que no ano que vem tenhamos um "rebote". O sorotipo 2 tem dados sinais de voltar a aparecer. Estamos monitorando e alertando os municípios para manter sob controle. Se não tivermos preparados, teremos um ressurgimento da dengue em 2013.

O que realmente funciona para prevenir?

O que traz mais benefício é o alerta continuado da imprensa à população. Porque o mosquito transmissor, ao contrário da maioria dos vetores, invade a nossa casa. É não é original da casa, ao contrário do pernilonguinho. O Aedes é atraído por condições específicas, uma água parada por exemplo. Ele vem e cria um novo ninho. Como não tem autonomia de voo muito longa, se limparmos a casa, a doença não progride. Se a comunidade assumir o compromisso, não vai ter dengue. Mas quando começa a não aparecer casos, como agora, a população relaxa. Até o gestor relaxa.

E na equipe médica?

Tem que ter rapidez no diagnóstico. Se o paciente sair de circulação rápido, não contaminará outros mosquitos, que não contaminarão outras pessoas. Mais do que isso -- eventualmente o caso pode evoluir para uma forma mais grave. Temos que saber o que fazer e quando duvidar da gravidade e o que tem de fazer -- internar ou só hidratar. O que tem acontecido às vezes é que as pessoas que estão no atendimento de porta do hospital não estão treinadas. Por isso que fizemos ano passado o manual de conduta para pregar na parede, os exames e as condutas.




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