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Doria desiste; aliados de Bolsonaro avaliam como vitória do presidente

Ex-governador de S.Paulo, que se tornou crítico da atuação do governo federal, anunciou que está fora da corrida ao Palácio do Planalto

Das Agências
24/05/2022 | 08:44
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Divulgação/Pablo Jacob


Diante da pressão de seu partido, o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou ontem que desistiu de sua pré-candidatura à Presidência da República. A decisão é avaliada, por aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), como uma vitória do presidente no embate travado com Doria desde o ano passado, principalmente em relação às medidas de combate ao novo coronavírus, como o isolamento físico e a questão da vacina contra a Covid-19.

Não por acaso, o presidente usou as redes sociais para ironizar a decisão do tucano de concorrer ao Palácio do Planalto. Sem citar Doria, o chefe do Executivo afirmou no Twitter que está “abrindo mão” de disputar o cinturão dos pesos médios do UFC, em referência à modalidade esportiva de luta. “Comunico que estou abrindo mão da disputa do cinturão dos pesos médios no UFC. Boa tarde a todos!”, escreveu Jair Bolsonaro.

Em evento no começo de março, o presidente afirmou que o seu governo “salvou a economia e vidas” durante a pandemia e que fez o “melhor que poderia ter feito” pelo País. Ainda com relação à Covid-19, disse que “jamais” decretará o passaporte vacinal, como não decretou um lockdown nacional. “Eu sei que aquilo que mais vale entre nós é a nossa liberdade. Jamais obrigaria vocês a fazerem aquilo que eu não faço”, afirmou, em claro recado ao ex-governador, um dos primeiros a adotar o isolamento físico no Brasil.

Por outro lado, pessoas do entorno de Bolsonato entendem que a desistência do tucano deve fortalecer a polarização entre ele e o pré-candidato petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tanto que o vice-presidente do PL, deputado Capitão Augusto, afirma que o segundo turno “já está definido”, com Bolsonaro e Lula na disputa. “Não muda nada. Todo mundo sabia que Doria iria desistir.” Já um ministro que integra o QG da campanha à reeleição resumiu o efeito da desistência do ex-governador na disputa, na sua leitura política, em uma palavra: nenhum.

DESISTÊNCIA
Vencedor das prévias tucanas para disputar o Palácio do Planalto, o ex-governador de São Paulo se rendeu ontem à pressão de caciques do partido e desistiu da corrida presidencial. “Com o coração ferido e a alma leve”, ele admitiu que não é “a escolha da cúpula do PSDB”. Decisão que favorece a escolha de Simone Tebet como cabeça de chapa da terceira via.

Doria fez o anúncio rodeado de tucanos, entre eles o presidente da legenda, Bruno Araújo, com quem está rompido. “Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade”, afirmou. Com olhos marejados, o ex-governador afirmou que continuará um “observador sereno” do País. “Sempre à disposição de lutar a guerra para a qual eu for chamado. Na vida pública ou na vida privada.”

Na semana passada, os presidentes de PSDB, MDB e Cidadania rifaram Doria e endossaram o nome de Simone após pesquisa interna indicar rejeição menor à senadora na tentativa de romper a polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro. Doria chegou a falar em “golpe” e ameaçou levar o impasse no PSDB à Justiça, o que intensificou seu isolamento e culminou no abandono da pré-candidatura.


Ala do PSB vai defender nome próprio à Presidência

Uma ala do PSDB vai sugerir que o partido considere o ex-governador gaúcho Eduardo Leite e o senador cearense Tasso Jereissati como opções na disputa presidencial, criando novo impasse na sigla após a desistência de João Doria.

O pedido contraria acordo firmado pelas cúpulas do PSDB, MDB e Cidadania de apoio à senadora Simone Tebet (MDB) como cabeça de chapa, como defende o presidente da sigla tucana, Bruno Araújo. Tasso também é citado por parte do PSDB como candidato a vice da emedebista.

Uma reunião que aconteceria ontem e sacramentaria o apoio tucano ao nome de Simone foi cancelada. Pelo roteiro planejado por Araújo, a ideia seria reunir a executiva do PSDB e anunciar a aliança com Simone, que também contaria com o endosso do Cidadania.

O principal argumento do grupo que resiste a uma aliança com Simone neste momento é que a candidatura dela possa ser rifada pelo MDB no período das convenções, que vai de julho a agosto, o que deixaria o PSDB à deriva nas vésperas do início da campanha. O MDB tem alas regionais que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Temos que esperar a homologação por parte da executiva do MDB do nome da Simone. Amanhã (hoje) o MDB se reúne, delibera sobre essa questão, não deixando dúvida quanto à sua candidatura para que depois a gente faça isso diante da executiva (do PSDB)”, disse o secretário-geral do PSDB, deputado Beto Pereira. 

Mesmo com o adiamento da reunião do PSDB, a executiva do MDB vai confirmar, hoje, a pré-candidatura de Simone Tebet à Presidência da República. As alianças, porém, devem ser anunciadas mais adiante.

Simone ganhou o apoio do ex-presidente do MDB Romero Jucá. “O MDB precisa ter a condição de colocar para a sociedade brasileira o que pensa e o que defende na economia, na política, nos programas sociais. Partido que não disputa eleição não forma time”, disse Jucá. 

Deputado Aécio Neves diz que sigla ''nunca teve dono''

Adversário do ex-governador de São Paulo João Doria, o deputado mineiro Aécio Neves disse ontem que “o PSDB nunca teve dono” e defendeu a unidade do partido, hoje no centro de sua maior crise. Aécio tem feito articulações para impedir que o PSDB apoie a candidatura de Simone Tebet à sucessão de Bolsonaro.

“É hora de aproveitarmos esses últimos acontecimentos para reconstruirmos a unidade do PSDB em torno do único caminho que permitirá que o partido continue a cumprir sua trajetória em defesa do Brasil, ou seja, com uma candidatura própria à Presidência da República”, afirmou Aécio Neves.

Nos bastidores, até tucanos afirmam que os movimentos do deputado são feitos para beneficiar Bolsonaro, mas ele nega. “Continuo defendendo, como sempre fiz, que tenhamos candidatura própria”, insistiu.

Sem citar suas divergências com Doria, que já tentou expulsá-lo do partido, Aécio disse que, após a desistência do ex-governador, o PSDB está em condições de “analisar outros nomes” do próprio partido. A cúpula do PSDB cancelou a reunião que estava marcada para hoje, em Brasília, após Aécio e seu grupo fazerem pressão contra o apoio a Simone. Na semana passada, os presidentes do PSDB, MDB e Cidadania decidiram respaldar a pré-candidatura da senadora, antes mesmo da desistência de Doria, mas agora enfrentam divergências.

“Lamento que a reunião da executiva nacional tenha sido adiada”, afirmou Aécio. “Espero que possamos nos reunir o mais rapidamente possível para debatermos de forma clara e democrática os caminhos para o nosso futuro. O PSDB nunca teve dono e não será agora, nesse momento grave da vida nacional, que terá”, completou, insinuando que a queda de braço pode continuar por algum tempo.

As convenções dos partidos para homologar as candidaturas devem ser realizadas entre julho e agosto. 




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