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Rompimento de barragem da Vale em Minas deixa 7 mortos e 150 desaparecidos

Acidente liberou 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no Rio Paraopeba

26/01/2019 | 07:00
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Arquivo pessoal


 Barragem da mina do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, se rompeu na tarde de ontem, atingindo a área administrativa da empresa e a comunidade da Vila Ferteco. O acidente, que fez o País relembrar da tragédia em Mariana, em 2015, quando 19 pessoas morreram, pode resultar em perdas humanas maiores. Segundo o governo de Minas, há sete mortos e cerca de 150 desaparecidos; outros 279 foram resgatados com vida. Bombeiros socorreram cinco feridos ao Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. 

Construída em 1976, a barragem 1 da Vale acumulava 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério e não recebia material havia três anos. Não havia informações sobre a causa do acidente até o fechamento desta edição.

Nas ruas de Brumadinho, o desespero era visível. Parte dos moradores teve de deixar as casas, parte saiu em busca de informações de familiares e amigos. Ao lado do desespero, houve solidariedade: vizinhos abriram os lares e se ofereceram como voluntários no socorro às vítimas.

Recém-chegado de Davos, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, admitiu que, apesar de o dano ambiental ser menor do que o de Mariana, o humano será maior. Segundo ele, 300 empregados estavam no prédio administrativo e restaurante da mina Feijão no momento do acidente. “Os mais afetados serão os nossos funcionários”, afirmou, citando que a barragem fica em zona rural, com baixa densidade populacional. Após o acidente, as ações da empresa negociadas nos Estados Unidos caíram 10%.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) lamentou o rompimento da barragem em Brumadinho e determinou a formação de gabinete de crise para informar o Palácio do Planalto e acompanhar as medidas adotadas para “minorar os danos” na região. Ele sobrevoará a área na manhã de hoje, acompanhado de ministros e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente pretende retornar a Brasília no mesmo dia para que, amanhã, viaje a São Paulo, onde ficará internado para a cirurgia de retirada da bolsa de colostomia.

A estatal Furnas, do grupo Eletrobras, paralisou as operações das duas turbinas da hidrelétrica Retiro Baixo, no Rio Paraopeba, para evitar que os rejeitos comprometam a estrutura.

Três anos após o rompimento da barragem da Samarco, que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, também em Minas, a Lei de Segurança das Barragens, que endureceria a fiscalização e a punição aplicada às empresas no caso de acidentes, não foi aprovada. O promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneghin, que atuou no caso, afirmou que o novo rompimento está longe de ser surpresa. “Esse modelo de barragem está sujeito ao desastre”, disse.

FISCALIZAÇÃO

Dados do Relatório de Segurança de Barragens de 2017, publicado no ano passado, apontam que a ANM (Agência Nacional de Mineração) é responsável pela fiscalização de 790 barragens de rejeito no País. O trabalho, porém, limitou-se a 211 vistorias, o que equivale a 27% das instalações – 45 estruturas teriam situação preocupante, no entanto, a de Brumadinho não é citada no documento.

Docente da USCS fala em irresponsabilidade

A professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e especialista em recursos hídricos Marta Marcondes afirmou que o rompimento das barragens da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, foi causado por irresponsabilidade. “Total falta de planejamento, descaso com a vida de maneira geral. As pessoas estão brincando”, declarou. 

Marta esteve na cidade mineira de Mariana, em 2015, quando uma barragem da mineradora Samarco se rompeu e causou a destruição do Rio Doce, além da morte de 19 pessoas. “Já naquela época se sabia que o estado dessa barragem que se rompeu hoje (ontem) era crítica. No momento do incidente, não houve aviso, sirene, nada. Os próprios funcionários que estavam no restaurante foram surpreendidos com os rejeitos. Não se aprendeu nada com o que houve em Mariana”, desabafou.

A professora afirmou, ainda, que toda a lama com rejeito de magnésio, ferro, alumínio, seguirá por meio de cursos d’água até o Rio Doce. “Já não havia previsão para a recuperação do Rio Doce. Agora, certamente, a situação ficará ainda mais dramática”, pontuou.




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