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Volkswagen e sindicato terão de negociar
Eric Fujita
Do Diário do Grande ABC
01/07/2005 | 07:57
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Negociar e encontrar uma solução para o impasse das contratações exigidas pelos trabalhadores. Essa foi a determinação do Ministério Público do Trabalho passada à Volkswagen e ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (ligado à CUT), que estão em litígio por conta da recusa da empresa em aumentar o efetivo da linha de montagem em 350 novos empregos por conta do início da a fabricação do Fox Europa.

Em audiência realizada quinta-feira em São Paulo, as duas partes concordaram em retomar o diálogo sobre o assunto. A crise provocou a paralisação da produção na unidade de São Bernardo da Volks por cinco dias em junho, afetando mais de 10% do total produzido em um mês.

Diante da trégua acertada, os sindicalistas prometem não realizar mais interrupções na produção enquanto estiverem negociando. Apesar da boa vontade, a montadora mantém-se irredutível: reafirma que não há necessidade de novas contratações, ainda mais com a queda de 8,6% da produção de veículos no primeiro semestre, segundo o diretor de Assuntos Governamentais e Jurídicos da Volkswagen, Ricardo Carvalho, que representou a Volks.

O diálogo deverá durar até que a Procuradoria do Ministério do Trabalho analise denúncia feita pelo sindicato durante a audiência: a empresa teria infringido a legislação que permite a prática de greves, com a série de advertências e suspensões aplicadas aos funcionários, em função de várias paralisações pontuais na produção.

Com base nisso, a procuradora regional do Trabalho, Oksana Maria Dziura Boldo, deu um prazo de 15 dias para a Volkswagen apresentar seus contra argumentos, a contar de quinta-feira. A expectativa dela é de analisar toda a documentação em um período de um mês. Até lá, representantes do sindicato e da montadora se comprometeram a seguir a orientação de negociar.

Uma nova assembléia está programada para as 15h de sexta-feira, com mais de 9 mil funcionários do primeiro e segundo turnos de trabalho. Nela, o sindicato deverá orientar a categoria a manter o movimento suspenso. A mobilização foi interrompida na última segunda-feira devido à convocação feita pela Procuradoria do Ministério do Trabalho.

Clima tenso – A audiência de conciliação foi convocada para atenuar o clima de confronto gerado com as paralisações, iniciadas no dia 17 de junho. O sindicato reivindicava 350 contratações, mas quinta-feira informou que subiu a pretensão: agora pede 450 contratações, com base no levantamento feito na fábrica. A alegação é de aumento da produção motivada pela entrada dos modelos Fox Europa e CrossFox. As paradas foram pontuais e afetaram a produção.

Como retaliação, a Volks distribuiu advertências aos trabalhadores e suspendeu sindicalistas. As punições preocuparam os funcionários, que esvaziaram a mobilização.

A procuradora afirmou que o resultado da audiência ficou além de sua expectativa porque as partes se dispuseram a negociar enquanto analisa os documentos. Para ela, o clima de tensão instalado com o movimento diminuiu com a pretensão das partes conversarem e chegarem a um consenso. “Não esperava que seria tão produtiva assim”, disse. Ela adiantou que irá avaliar os autos e, só depois disso, saberá se haverá necessidade de entrar com um pedido de dissídio coletivo na Justiça do Trabalho para resolver o impasse. “Mas todo esse problema poderá acabar num possível acordo.”

Impasse – Se na audiência os ânimos se acalmaram, as próximas negociações prometem continuar tensas, pois ambas as partes não estão dispostas a recuar de suas posições. O direto Ricardo Carvalho, da Volks, reiterou que a fábrica dispõe de mão-de-obra suficiente para atender os mercados interno e externo.

Para justificar a posição, ele informou que houve queda da produção em São Bernardo no primeiro semestre deste ano. Foram 99.213 veículos fabricados, contra 108.549 no mesmo período de 2004 – uma retração de 8,6%. Ele também explicou que a unidade tem o menor índice de produtividade de todas as fábricas da montadora no país.

“O índice no Grande ABC é de 36,3 carros por empregado, bem inferior aos 49,3 em Taubaté (no Vale do Paraíba) e 49,9 em São José dos Pinhais (PR)”, ponderou. Carvalho foi além e disse que não haverá negociação, “pois não há o que negociar”, mas apenas “voltar ao diálogo”. “Não prometemos nada em relação à contratação de pessoa e muito menos sobre suspensão de punições, que nada têm a ver com a greve.”

O presidente do sindicato, José Lopez Feijóo, destacou que sempre esteve disposto a negociar. “Sempre estivemos abertos ao diálogo e nunca interrompemos isso. Se houve confronto, é por culpa da empresa ao truncar as negociações.”

Feijóo prometeu ainda manter a proposta de exigir as contratações para a fábrica e de suspender as punições aplicadas pela empresa. “Só esperamos que a empresa volte a conversar para uma solução dos problemas e não apenas estabeleça um diálogo formal só para dizer que não vai contratar mais gente.” Entretanto, a ameaça de retorno aos protestos continua, assim como a de decretação de uma greve total na Volks, segundo o sindicalista.




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