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Reúso de água preserva meio ambiente
Márcio Silva*
24/01/2010 | 07:00
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O recurso natural mais precioso do planeta está ficando escasso, e isso tem gerado preocupações em todo o mundo. A forma como o ser humano consome a água e quanto tempo ela vai durar para saciar a sede das próximas gerações viraram assunto da maior relevância. É tão grande quanto as discussões atuais sobre o aquecimento global.

Mas o que acontece com a água que não é mais potável, que vai pelo esgoto e pelos vasos sanitários das casas? E a água que as indústrias usam nos processos produtivos? Ainda tem vida e pode ser reutilizada para outros fins.

A água de reúso é aproveitada na limpeza pública de ruas, para regar áreas verdes, no combate a incêndios, na indústria (refrigeração, alimentação de caldeiras e água de processamento) e na irrigação de áreas de plantação.

Segundo a engenheira da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Keiko Arlete Semura, o produto de reúso é visualmente parecido com a água potável, mas não é igual. "A reutilizada tem baixa carga orgânica, mas não é totalmente livre, não é pura, é quimicamente diferente. Não pode ser consumida de maneira alguma", diz.

O líquido reusado antes fazia parte do esgoto doméstico e industrial da cidade. Toda essa água imprópria é então tratada nas Etes (Estações de Tratamento de Esgoto), passando por diversos processos, como filtragem e adição de cloro. "Nós adotamos referências internacionais para tratar a água, já que, no Brasil não existe legislação específica para a água de reúso", afirma.

EXCEDENTE - Segundo dados da Sabesp, são reaproveitados mensalmente cerca de 780 milhões de litros de água, volume que poderia abastecer a população de um município do tamanho de Taubaté, cidade do interior paulista.

Existem dois tipos de reúso de água: o indireto, quando a água, que vem normalmente de esgoto, é tratada antes de ser reutilizada; e o reúso direto, quando a água sai diretamente do ponto de uso inicial para ser novamente usada.

No Grande ABC, dois municípios compram água de reúso da concessionária: Santo André e São Caetano. Até o ano passado Diadema também adquiria água da Sabesp, mas não renovou o contrato com a empresa. As cidades da região recebem a água que vem da estação de tratamento, que fica na divisa de São Caetano com São Paulo, perto de Heliópolis.

Em 2009, até o mês de novembro, as duas cidades consumiram cerca de 7.000 metros cúbicos de água de reúso. Um metro cúbico é o mesmo que 1.000 litros de água.

SÃO CAETANO - Em São Caetano, a água de reúso é usada desde maio de 2001. Segundo o DAE (Departamento de Água e Esgoto), ela é utilizada na lavagem de vias públicas, na rega complementar de áreas verdes e na limpeza de redes de esgoto e galerias pluviais. Por mês, a cidade utiliza cerca de 500 m³ de água de reúso. O município chega a economizar cerca de 3.000 m³ de água, por conta da água reciclada.

Santo André já utiliza a água há aproximadamente dez anos. Segundo o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), ela é reservada para fins considerados não nobres, como lavagem de calçadas, limpeza de redes de esgoto, feiras livres e rega de jardins. Por mês, a cidade consome 700 m³ de água de reúso, em média.

Segundo o Semasa, o importante é que o reaproveitamento da água é uma forma clara de aplicar a educação ambiental em Santo André, estimulando os moradores a aproveitar mais a água não potável, como a da chuva, por exemplo, para usos não nobres.

A cidade pretende contar com uma estação de tratamento de esgotos própria, que ainda será construída na região da Represa Billings. Ela irá produzir a água de reúso da cidade, e o excedente na produção deverá ser vendido para as outras cidades do Grande ABC. O projeto deve custar R$ 20,8 milhões.

Indústrias criam estações de tratamento

Reutilizar a água que antes seria jogada fora colabora para a preservação do meio ambiente, já que ajuda a racionalizar o uso deste recurso natural. Além das cidades, as indústrias também se interessaram pelo reúso de água. Algumas compram o produto diretamente de concessionárias estaduais, como a Sabesp. Outras resolvem montar pequenas estações de tratamento de esgoto dentro das fábricas e produzem sua própria água.

Para as indústrias é um produto caro, então é mais vantajoso tratar e reciclar. Fernando Correia, sócio da MFS/Flux, empresa que trabalha com tratamento de água e produção de água de reúso para o setor privado, afirma que o preço do metro cúbico de água tratada pelas concessionárias pode custar para as empresas de R$ 12 a R$ 20, e na indústria que possui estação de tratamento própria, o custo varia de R$ 5 a R$ 9 o metro cúbico. "Além disso, a indústria pode planejar a estação para atender as suas necessidades de água. O projeto é dimensionado para os parâmetros que a indústria vai necessitar", diz Correia.

Para ele, o diferencial da empresa que utiliza a água de reúso é o respeito ao meio ambiente, além do custo-benefício. "Cerca de 90% da água usada na indústria têxtil, por exemplo, acontece no processo industrial. Na indústria automobilística varia entre 60% e 65% o percentual da água que vai no processo de fabricação. Por isso é importante as indústrias tratarem a água que usam".

Uma estação de tratamento de pequeno porte ocupa de 1.000 a 1.500 metros quadrados de área e pode ser operada por até seis pessoas. Demora seis meses para ser construída, desde a assinatura do contrato até o início da operação.

O conteúdo editorial desta página é de inteira responsabilidade da Universidade de São Caetano do Sul, com supervisão editorial dos jornalistas Eduardo Borga e Nelson Tucci, da Comunicação da USCS.




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