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Zé Celso entra na cruzada contra a cultura de shopping
Mauro Fernando
Da Redaçao
08/07/2000 | 15:50
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  Você compraria uma briga com o Grupo Silvio Santos? O diretor teatral José Celso Martinez Corrêa comprou. O problema, iniciado há 20 anos, envolve o entorno de 300 m do Teatro Oficina, que ele dirige. "Sao duas imagens de cultura em discussao", diz Zé Celso em entrevista ao Diário. Confira trechos:

DIARIO - Como começou essa história?
ZÉ CELSO - A Lina (Bo Bardi, arquiteta) tinha certeza de que o Silvio iria se encantar com seu projeto porque via nele um Chateaubriand, que tinha construído com ela o Masp. Ela desenhou o projeto pressupondo a utilizaçao do estacionamento, que é um teatro grego natural. Um dia bateu à porta um oficial de Justiça dando um mês para comprarmos o Oficina porque o Silvio iria comprá-lo do proprietário. Houve uma mobilizaçao enorme para dar o dinheiro de entrada na compra do imóvel. Mas o banco nao quis fazer o empréstimo. Aí encaminhamos aquele movimento para o tombamento. Foi um tombamento revolucionário, porque foi tombado o processo de trabalho do grupo. O projeto da Lina permitia a continuaçao do trabalho, que tendia ao teatro de estádio.

DIARIO - Um edifício próximo da concepçao grega?
ZÉ CELSO - Um teatro grego, com caráter de praça. No momento em que o Silvio se dispoe a fazer um empreendimento que ele diz cultural, é natural que ele considere o entorno. A concepçao da Lina era nao cair num teatro sem luz própria. O Silvio foi sendo influenciado e começou a dar uma resposta cultural. É uma cultura de mercado, de shopping. Você pode erguer um templo para a cultura de entretenimento, de consumo, também. Mas no momento em que ele vai construir uma obra que tem característica cultural, contracena com um espaço que tem um projeto para o entorno tombado. Sao duas imagens de cultura em discussao. Uma metáfora urbanística.

DIARIO - Ideológica também?
ZÉ CELSO - Ideológica. Tem um lado da cultura de consumo que transforma todos os lugares em lugar indiferenciado, em que a cidade é um conjunto de fortificaçoes, guetos, apartheids. Outra tendência luta para preservar e ampliar o espaço de um lugar simbólico, onde se procura dar ar para a cidade, sem um compromisso de compra e venda. Nosso objetivo é transformar o Oficina num link entre uma praça no Minhocao e o estádio grego. Fica um oásis para o público. A tendência é fazer espetáculos cada vez mais populares e, com patrocínio, gratuitos. Quando nao tem espetáculo, fica um desenho arquitetônico valorizado. O projeto visa urbanizar o Bixiga, torná-lo habitável.

DIARIO - Houve contato recente entre o Oficina e o Grupo Silvio Santos?
ZÉ CELSO - Eles me procuraram para uma reuniao.

DIARIO - O Oficina ainda é a vanguarda do teatro nacional?
ZÉ CELSO - Essa luta é de vanguarda. É a fuga do teatro-padrao, uma caminhada para um teatro de praça, urbano.




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