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Software abre portas a deficientes visuais
Cristie Buchdid
Do Diário do Grande ABC
20/01/2003 | 18:09
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Ingressar no mercado de trabalho não é tarefa fácil e a situação se agrava quando o candidato é portador de deficiência visual. Mas a tecnologia tentou impedir que a falta de visão fosse um empecilho para usar a informática.   

Sem fechar os olhos para as dificuldades dos deficientes visuais diante do computador, a empresa MicroPower, com sede em São Caetano, criou o software Virtual Vision, que agora chega na versão 4.0. Uma parceria entre a desenvolvedora do aplicativo e a Fundação Bradesco também oferece cursos gratuitos e mantém o portal www.deficientevisual. org.br, destinado a ingressá-los no mercado de trabalho (ler reportagem nesta página). Além disso, a instituição bancária distribui o software gratuitamente para correntistas portadores de deficiência visual (Mais informações pelo telefone 0800-7010237)   

O Virtual Vision conta com um sintetizador de voz que lê para o usuário todo conteúdo da tela selecionado por meio do teclado, inclusive planilhas, textos e sites na Internet. Dessa forma, o deficiente visual consegue usar todos os recursos da plataforma Windows, sendo que a nova versão funciona inclusive com os sistemas operacionais Windows 2000 e XP.   

O analista de suporte da MicroPower, Anderson Farias, 24 anos – que perdeu a visão com sete anos de idade – diz que não consegue imaginar como seria sua vida sem computador. “Os lançamentos de livros em braile não são tão atualizados como na Internet, por isso os leio na Web. Antes eu só acompanhava os jornais por meio de televisão ou rádio, agora tenho acesso pela Internet, na qual navego como qualquer outra pessoa. Uso Excel e Word com freqüência, e-mail, ICQ e também tiro extrato de banco. O Virtual Vision também permite a criação de novos programas”, afirma Farias, que ganhou o software do Bradesco em 1998.   

Segundo o diretor de marketing da MicroPower, Daniel Musulin Soeltl, a versão mais recente do programa – que custa R$ 1,5 mil na versão para empresas e R$ 900 para usuários do software – foi reescrita com uma nova tecnologia de reconhecimento de telas e se foca na empregabilidade de deficientes visuais. “O programa torna acessível qualquer tipo de software que rode em Windows e funciona com todos os softwares do pacote Office, com Internet, Outlook, tradutor de textos, como o Delta Translator, da MicroPower, versões novas do Acrobat Reader, entre outros”, afirma Soeltl.   

A instalação pode ser feita pelo deficiente visual, pois o menu é lido. Para isso, é preciso um computador multimídia, com fone, caixas de som e teclado comum.   

Quando o usuário precisar escrever algo, o programa repete em voz alta letra por letra que estão sendo digitadas, palavra por palavra, por frase ou o texto todo. O acompanhamento serve para evitar erros de digitação e ortografia.   

O Virtual Vision tem a capacidade de fazer leitura em português ou inglês. Ao navegar pela Internet, o programa lê as palavras como estão escritas, e ao perceber que o texto está em inglês, o usuário deve configurar o programa para fazer a leitura com o sotaque norte-americano. Ao usar sintetizadores de voz padrão SAPI 5.0 é possível expadir a configuração para outros idiomas.   

Ainda na Internet, o programa avisa sobre a presença de hipertexto. Um comando leva a uma lista dos links da página, para que o usuário não precise ouvir a leitura da página toda.   

Mas para serem usados, os softwares devem oferecer acessibilidade, ou seja, ter uma descrição das propriedades dos elementos gráficos que aparecem na tela. Por exemplo, ao usar o Word, quando se coloca o mouse sobre o i, surge na tela a palavra itálico, e o Virtual Vision consegue ler tal palavra. Se o programa não oferecer acessibilidade, é preciso fazer um mapeamento da tela e incluir a descrição de cada campo, gráfico, botão ou foto. Internet banking – Não é de hoje que a MicroPower está envolvida com soluções que buscam a melhoria de vida de deficientes visuais. Em 1999, a empresa desenvolveu o Internet Banking do Bradesco para deficientes visuais. “O banco virtual foi indicado, por Bill Gates, para o prêmio norte-americano Smithsonian Awards e foi um dos cinco finalistas entre projetos de tecnologia inovadora. Todo site do banco está acessível para ser lido pelo Virtual Vision, por meio do qual deficientes visuais podem pagar contas, pegar saldos, fazer transferências, entre outros. O programa também se preocupa com segurança, pois ao preencher o campo de senha, por exemplo, esta não é lida em voz alta”, afirma Soeltl.




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