Do sincretismo religioso à arte contemporânea, a exposição "Brasil, a herança africana", inaugurada nesta quarta-feira em Paris, oferece um extraordinário panorama da cultura mestiça brasileira, lembrando seu parentesco com a cultura africana, sem esquecer suas outras influências.
Realizada no museu Dapper da capital francesa durante o Ano do Brasil na França, a mostra "Brasil, a herança Africana" estará aberta ao público até 26 de março. Paralelamente, haverá o lançamento de um livro escrito por antropólogos, etnomusicólogos e historiadores da arte, que analisam a influência africana na cultura brasileira sob diferentes pontos de vista.
Religião, tradição e arte estão presentes nesta exposição através de uma centena de obras africanas e brasileiras: estátuas, objetos rituais, ex-votos, fotografias e obras de artistas plásticos contemporâneos, como os brasileiros Jorge dos Anjos, Chico Augusto e Marco Tulio Resende ou o beninense Cyprien Toloudagba.
"Para ilustrar o parentesco entre as artes afro-brasileiras e as da África subsaariana, privilegiamos os olhares cruzados", explicou Christiane Falgayrettes-Leveau, diretora do museu Daper e curadora da exposição.
Há "uma afinidade formal e funcional e, o que é mais evidente, uma semelhança nos sistemas de representação das divinidades", acrescentou, apresentando o exemplo da divinidade Xangô, que tem o mesmo símbolo nos dois lados do Atlântico.
Além disso, a inclusão na mostra de obras de arte sacra barroca permite marcar a influência africana na mestiçagem cultural, que confere particularidade e diversidade à arte brasileira.
Altares de culto de candomblé e instalações de arte contemporânea também fazem parte da mostra. "Percebemos os altares como instalações. De ambos se desprende uma criatividade complexa e móvel que remete à imagem do Brasil, mas também à de outras sociedades mestiças, como a de Cuba e de outros países do Caribe", comentou a respeito Falgayrette-Leveau.
Erwan Dianteill, antropólogo especialista nas culturas negras da América - ele estudou sobre Cuba, Louisiana e Brasil -, lembrou que a exposição mostra que a "África é ao mesmo tempo visível e invisível no Brasil".
"Qualquer pessoa que percorra as ruas de Salvador, Recife e Rio pode se dar conta dessa influência africana nas pessoas, na cultura e na alimentação. É algo explícito. Mas, ao mesmo tempo, por razões históricas, essa herança foi subestimada, quando não esquecida. Esta situação está mudando nos últimos anos e a exposição tenta tornar manifesta e pública essa riqueza cultural afro-brasileira", disse.