Intitulada 'Choro 100', coleção de livro com CD permite ao aluno tocar com grandes músicos do gênero
Que nos últimos anos vêm se renovando a legião de seguidores e praticantes do choro não há dúvida. No Grande ABC, mesmo, região onde historicamente não há tradição, cada vez mais abrimos espaço nestas páginas para os chorões. O gênero já rendeu encontros musicais memoráveis por aqui, como os concertos da Sinfônica de Santo André com o mais importante quarteto feminino do País, as Choronas, ano passado.
Existem hoje dezenas de grupos em atividade, boa parte formada por jovens ávidos por conhecimento. E falta material didático. Para suprir esta lacuna chega às livrarias e lojas especializadas a coleção Choro 100, uma realização da gravadora carioca Biscoito Fino, sempre criteriosa ao colocar produtos no mercado.
Como a maioria das idéias bacanas, o projeto é simples. O livro é um misto de songbook e dados históricos, sempre acompanhado de um CD, mixado de modo a permitir a interatividade do ouvinte/ praticante. Em um equipamento estéreo, pode-se escutar de um lado o instrumento isoladamente e no outro o restante da roda de choro. São seis volumes, cada um dedicado a um instrumento: cavaquinho, pandeiro, sopros, violão, bandolim e baixo. Os primeiros a serem lançados são pandeiro e violão, com valor sugerido de R$ 49.
É uma espécie de karaokê musical, ou "uma orquestrinha de bolso" como prefere definir no prefácio Hermínio Bello de Carvalho, agitador cultural, poeta, produtor musical, compositor e descobridor de talentos - que tocou e dirigiu ‘Deus e o mundo', de Cartola a Paulinho da Viola.
Para cada caderno bilíngüe (português/inglês) foi chamado um dos músicos do grupo Nó em Pingo d'Água, que desde os anos 1990 é referência na música instrumental. Faltava um cavaquinista e convocou-se Jayme Vignoli.
Tome-se como exemplo o volume dedicado ao pandeiro, assinado por Celsinho Silva. Na abertura Jorginho do Pandeiro louva a iniciativa. Seguem-se explicações sobre as partes do instrumento, sua história, uma lista de grandes pandeiristas e breves biografias, a técnica (movimento básico, divisão rítmica para choro, samba, polca, maxixe e baião), comentários sobre as 13 músicas do disco (cada uma apresenta uma levada diferente), as respectivas partituras e, finalmente, o CD encartado.
Trechos
"A idéia deste projeto surgiu quando percebi a quase inexistência de material didático para músicos interessados em aprofundar-se no estudo do choro. Digo quase porque quando existe algo é difícil de ser encontrado. (...) Os arranjos foram gravados na forma e no tom em que costumam ser tocados nas rodas de choro - que não é necessariamente a tonalidade escolhida pelo compositor da música.
Optamos por manter na execução, pequenas modificações e a surpresa de alguns improvisos, para dar ao resultado final a credibilidade do que se ouve em uma autêntica roda de choro. Essas variações forçam o estudante a praticar a percepção, tirando alguns detalhes ‘de ouvido'. Dessa forma, mantemos um pouco da didática intuitiva utilizada no universo do choro, pela qual todos os grandes chorões de outrora tocavam e estudavam."
- Rodrigo de Castro Lopes, produtor geral do projeto
"A gente nunca sabe quem foi o primeiro professor de música nem a identidade daquele menino, que, curioso, atravessou a sala de aula com seu instrumento debaixo do braço. E nem quando isso se deu.
Por exemplo: meu professor de violão, o açougueiro açoriano Antonio Rebello, foi discípulo de Quincas Laranjeiras, que segundo consta, foi precursor do ensino por música do nosso mais popular instrumento. Depois, Mestre Rebello e Luiz Bonfá foram estudar com Isaias Sávio, e dessa escola-matriz foram surgindo Turíbio Santos (...).
- Hermínio Bello de Carvalho, no prefácio de Choro 100
"Quando o choro surgiu, em meados do século 19, músicos encontravam-se em casas de amigos, festas, bares e em salões da cidade, ainda que naquela época a maioria dos músicos de choro não tivesse relação profissional com a música. Nascido no Rio de Janeiro, ainda com influência da música européia, o choro não utilizava instrumentos rítmicos, que viriam a ser incorporados anos mais tarde. Os grupos de músicos que se reuniam para tocar eram formados apenas por flauta, violão e cavaquinho. O conjunto de choro formado por Joaquim da Silva Callado, flautista e compositor, talvez tenha sido o primeiro dos grupos da história do choro. O pandeiro só viria a participar da formação de um grupo regional de choro por intermédio do músico Jacó Palmieri, pandeirista do conjunto Os Oito Batutas, formado em 1919 com Pixinguinha (flauta), Donga (violão) (...) o primeiro grupo de que se tem notícia a utilizar o pandeiro e o primeiro grupo de MPB a se apresentar no Exterior."
- Choro 100 - Pandeiro, por Celsinho Silva
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