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Emprego formal para o mês é o maior desde 2011

Pedidos represados da indústria em janeiro contribuíram; especialistas dizem que não há retomada

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
17/03/2021 | 00:07
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Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas


A geração de emprego no Grande ABC em janeiro registrou saldo (contratações menos demissões) positivo de 2.333 postos de trabalho em meio à segunda onda do novo coronavírus. Trata-se do maior número para o primeiro mês do ano desde 2011, quando foram geradas 2.232 vagas. Na comparação com 2020, quando a pandemia ainda não tinha aportado no País, houve crescimento de 44% – à época, foram criadas 1.307 oportunidades.

Os dados integram o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, e foram tabulados pelo Diário. Em todo o País foram criadas 260.353 vagas em janeiro, o melhor resultado para o mês na série histórica iniciada em 1992, ou seja, em 30 anos.

De acordo com os números nacionais, todos os setores mais contrataram do que demitiram. No Grande ABC houve movimento semelhante, à exceção do comércio, que dispensou 596 trabalhadores. O bom desempenho de janeiro foi impulsionado pelo setor da indústria, que respondeu pela abertura de 1.855 vagas – 79,5% do total. Na sequência, vieram construção (583) e serviços (491).

“Todos os dados positivos da economia estão se dando em cima de cadáveres”, sentencia o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero. “Desde outubro vimos os casos de Covid subindo e a economia funcionando normalmente, com tudo aberto. E então se percebeu que isso era anômalo, que não poderia seguir acontecendo. Esse dado de janeiro ainda não reflete as medidas mais restritivas. Os números de fevereiro e janeiro devem trazer isso.”

Quando se analisam os 12 últimos meses, ainda existe saldo negativo de 10.907 postos de trabalho, perdidos ao longo da crise trazida pela Covid. O coordenador de estudos do Observatório Econômico da Metodista, Sandro Maskio, explica que os números não representam melhora da atividade econômica. “Pelo contrário. Em decorrência do cenário da pandemia e das restrições impostas pelo distanciamento físico, muitas vagas foram enxugadas. Não se trata de recuperação”, assinala. “A perda de quase 11 mil postos é muito expressiva, ainda mais considerando que os dados se aplicam somente ao mercado formal. Ou seja, o impacto é muito maior no mercado de trabalho como um todo.”

Maskio destaca que justamente o setor que mais criou chances em janeiro foi o que mais demitiu ao longo do ano passado, ao responder por cerca da metade deles e refletir uma forte queda na demanda ao longo de 2020. Os postos criados no primeiro mês do ano pela indústria, portanto, referem-se a uma reposição das perdas em decorrência do aumento da procura, por exemplo, de veículos, segmento que tem sofrido com a falta de insumos. Os pedidos represados começaram a crescer no fim do ano passado, mas a cadeia, que demitiu bastante na pandemia, não conseguiu recuperar a mão de obra a tempo de atender ao mercado. Além disso, muitos componentes são importados e, diante da desorganização provocada pela pandemia, também houve escassez no fornecimento de matéria-prima.

“A indústria é um setor que não funciona de porta aberta, não atende diretamente o público como serviços e comércio, e esses sim tiveram de baixar as portas e operar em horário restrito. Isso gera menor demanda à indústria também.”

Para Balistiero, o País entrará em recessão no primeiro semestre. “Tanto que a bolsa estava caindo (ontem, -0,72%) e o dólar, acima R$ 5,60. Ou seja, o mercado não está dando bola para esses dados, que de fato não refletem nossa realidade de piora da pandemia.” 




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