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IBGE: enquanto um casal se separa, três se casam
Luciana Sereno e
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
23/12/2004 | 11:19
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No período entre 2002 e 2003, a cada casal do Grande ABC que se divorciou ou se separou, pelo menos outros três optaram por oficializar legalmente a união. Os números são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e mostram que a região acompanha a tendência do resto do país. Os cartórios das sete cidades registraram 1.043 casamentos a mais do que entre os anos de 2001 e 2002. Um crescimento de 7,85%. Hoje, em volume de matrimônios, o Brasil volta ao mesmo patamar de 1993. Por outro lado, o total de divórcios e separações oficiais caiu de 967 para 46 casos no mesmo período.

De acordo com o coordenador-geral de estatísticas de registro civil do IBGE, Tadeu de Oliveira, o item casamento foi uma "das grandes surpresas" do levantamento. "Foi um aumento estupendo. O número de casamentos vinha caindo nos últimos dez anos e em um curto espaço de tempo voltou a crescer."

O coordenador do IBGE afirma que o instituto não tem uma avaliação comportamental que explique a mudança nas estatísticas, mas acredita que os diversos eventos para casamentos coletivos gratuitos realizados em todo o país tenham contribuído. "Serviram de incentivo para casais legalizarem uniões consensuais." O que não vale para a região, que teve poucas cerimônias coletivas em 2003.

Para a professora titular de Sociologia da Família da PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Arlete Assumpção Monteiro, é o quesito saúde um dos principais fatores de influência para a mudança comportamental da população. "O medo de doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a Aids, é fator preponderante para a decisão dos casais em oficializar a união. Não tenho dúvida de que a segurança em manter um parceiro fixo tenha motivado o aumento dos casamentos." O romantismo, para ela, não aparece no ato da decisão. Mas a presença cada vez mais forte da mulher no mercado de trabalho é decisiva, financeiramente, para levar o casal ao altar. "Dois salários tornam a união economicamente viável."

A ginecolista que coordena o Programa de Saúde do Adolescente do Estado de São Paulo, Albertina Duarte Takiuti, pensa diferente. "A mudança é decorrente da mudança comportamental da família. Hoje, os namorados dormem na casa das namoradas. O sexo e a intimidade começam mais cedo e quando ocorre o casamento, ele já havia sido planejado. Por isso que as separações não acompanham essa evolução."

Albertina afirma que esta é a década de uniões com o propósito de construir uma vida a dois e não apenas de garantir liberdade por causa da antiga repressão da família que levava a uniões precipitadas e relacionamentos clandestinos. "Além disso, por conta da revolução sexual, hoje, os jovens podem experimentar vários parceiros antes de decidir com que ficar e a quem se dedicar pelo resto da vida", acredita.

Laços de família – O casal de Santo André Ricardo Chilese e Telma Comparini faz parte das estatísticas de casamento no Grande ABC. A união aconteceu em novembro do ano passado, quando ele estava com 26 anos e ela, 27. A decisão por casar no papel e na igreja partiu de Telma. "Os dois irmãos mais velhos não seguiram a tradição e ela preferiu seguir por causa da família", conta Chilese.

Hoje, pais de Anthony, que nesta sexta completa um mês, o casal amadureceu e reavaliou a decisão de pouco mais de um ano. "Apesar de no dia-a-dia a gente ter a impressão de que a união pelos meios tradicionais é a mesma coisa de juntar as escovas de dentes, hoje a gente sabe que há sim diferenças conceituais. Não tenho dúvidas de que será importante para o meu filho saber que nos casamos na igreja e assinamos o documento no cartório", avalia o microempresário de Santo André. E o álbum do casamento é o símbolo do início do laço de família para o casal.




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