Depois de abrir as portas para as modernas cantinas, que atendem ao paladar de crianças e adolescentes vendendo as mais variadas guloseimas, escolas particulares da regiao têm revisto o conceito sobre alimentaçao e implementado programas de reeducaçao alimentar. O objetivo é oferecer produtos mais saudáveis, que fazem bem para o desenvolvimento, e também diminuir o número de alunos com peso acima do recomendado.

Para isso, a principal medida que vem sendo tomada é a mudança do cardápio nas cantinas, com a inclusao de opçoes naturais como saladas e frutas, e em alguns casos, até a proibiçao da venda de refrigerantes e frituras. Palestras para incentivar a boa alimentaçao também fazem parte dos programas.

A medida mais radical foi adotada pelo Colégio Sapiens, em Sao Bernardo. Depois de realizar avaliaçoes e constatar que 50% dos alunos estavam com peso acima do ideal, a escola, com apoio dos pais, retomou a coordenaçao da cantina, que era terceirizada, e aboliu as `besteiras' tao apreciadas por crianças e adolescentes, como coxinhas e outros salgadinhos fritos, além de balas e chocolates com castanhas, nozes e avelas. Refrigerantes, só uma vez por semana.

Escolas como a Arbos e Pueri Domus Jardim, em Santo André, optaram por incluir nas refeiçoes alimentos mais saudáveis, como saladas, frutas e suco natural. No Colégio Arbos, por exemplo, a cantina exibe em lugar nobre saladas, incrementadas com queijo branco, sanduíches naturais (sem maionese), frutas e sucos. "Isso chama a atençao dos alunos", disse a nutricionista da escola Sílvia Helena Marangoni dos Reis.

Desde que começou a trabalhar no colégio, no início do ano passado, Sílvia tem acompanhado o desenvolvimento das crianças, principalmente daqueles que já apresentam obesidade. "Pelo menos 10% dos alunos estao com peso acima do normal, e, desses, 5% sao considerados obesos", explicou.

Segundo ela, o consumo de alimentos naturais começou a ser incentivado em sala de aula, com informaçoes sobre seus benefícios. "Nao temos ainda a adesao de todos, mas de pelo menos 60% dos alunos." O estudante Murilo César Cia, 9 anos, faz parte dos 40% que ainda nao aderiram à alimentaçao light. "Aproveito para comer coxinha e tomar refrigerante na escola. Em casa, coca-cola só no fim de semana", disse.

O trabalho de reeducaçao alimentar na Pueri Domus, unidade Jardim, em Santo André, ainda está no início, segundo o diretor geral, Daniel Contro. "Sabemos que é um trabalho longo e por isso resolvemos começar pela informaçao em sala de aula." Na cantina do colégio, na hora do almoço, ainda é comum ver crianças que, longe dos pais, preferem comer um prato cheio de batatas fritas que dividi-lo com outros alimentos necessários para um bom crescimento, como um pouco de alface e tomate.

Esse é o caso do estudante Rodolfo Barreto Mariano de Sá, 8 anos. No seu prato, no almoço da última sexta-feira, muita batata frita, coxinha e arroz. "Gostaria de comer isso todo dia", disse.

Apesar de alguma resistência, o trabalho desenvolvido pela escola já pode ser observado. A refeiçao do estudante Samir Machado Marques Sampaio, 8 anos, na última sexta-feira, era composta de um pouco de arroz, frango grelhado e bastante alface e tomate. "Gosto da salada daqui."

Os alunos do período integral sao mais controlados pela coordenaçao dos dois colégios. "Como passam o dia inteiro na escola, temos de garantir que façam uma alimentaçao saudável", justificou a nutricionista do Colégio Arbos. Victor Springmann, 9 anos, e Vanessa Urbinatti Teixeira, 8, do Arbos, disseram que aprenderam a comer legumes e verduras na escola. "Nunca tinha experimentado agriao e beterraba. Hoje, gosto dos dois", afirmou Vanessa.