Cultura & Lazer Titulo Literatura
Escritora de Santo André lança livro de poemas

Dalila Teles Veras traz em seus poemas a força do combate e do afeto

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
29/06/2019 | 07:39
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Não é fácil enfrentar uma crise. Seja ela pessoal, profissional ou de toda uma nação. Mas, incrivelmente, é nesses momentos que a criatividade fica afiada – vide toda manifestação artística que ‘nasceu’ à época da ditadura militar (1964-1985) – e, por muitas vezes, obras de grande impacto reverberam na sociedade.

Essa realidade está impressa nas páginas do livro Tempo em Fúria (Alpharrabio Edições, R$ 25), de autoria da escritora de Santo André Dalila Teles Veras, lançado ontem na Livraria Alpharrabio. “São poemas que eu vim mexendo desde 2016, quando houve uma virada conjuntural política no Brasil muito grande. Nunca escondi meu lado e publiquei muitas coisas nas resdes sociais e, delas, foram nascendo alguns poemas.” Ao todo, são 22 deles.

Há pouco mais de um mês a escritora esteve com a publicação, em primeira mão, na Feira do Livro de Funchal, sua cidade natal, na Ilha da Madeira, em Portugal – a obra também comemora três décadas de um de seus livros publicados Madeira – do Vinho à Saudade. “Fiz essa edição especialmente para feira do livro, que é apenas uma parte de uma obra que pretendo lançar até o fim do ano. Ele chama Tempo em Fúria porque acredito que nós vivemos não só no Brasil, mas também no mundo um tempo bastante furioso, em todos os sentidos. Mas ele é também um livro afetivo”, explica. Ela cita o sentimento porque, um encarte especial, colocado ao fim da publicação, traz suas impressões sobre problema de saúde enfrentado por uma pessoa próxima. “É uma espécie de calvário. uma estação no purgatório. Falo da dor do outro. Também o tempo em fúria é uma fúria da dor mais afetiva”, explica.

Dalila diz estar preocupada com o futuro do País, sentimento compartilhado com os portugueses com quem conversou durante a feira. “Lá eu constatei que os meus espantos e as minhas aflições eram intercontinentais.” E ela concorda que é nesses momentos que os poemas e versos ganham mais força. “Revendo tudo que escrevi, o que mais gosto, que acho que me sai melhor, foi justamente no olho do furacão. Sempre em momentos de dor, de socos no estômago. Eles me provocam algo mais contundente. acredito.”

Trata-se de uma maneira que ela e outros artistas, frisa, usam para não enlouquecer. “Acho que nem na ditadura nós tivemos um desmonte tão absurdo na educação. Nem artista de rua pode se apresentar. Acredito e denunciei isso em Portugal, que o Brasil não vive mais um Estado de direito democrático, vivemos um Estado de exceção, autoritário. Estão acabando com a nossa autonomia, cidadania. Somos hoje um País que não inspira mais respeito internacional. somos objeto de chacota. Quero me unir a essas vozes com a minha poesia e dizer: ‘Eu estou vendo, você está vendo (que está tudo errado)?’ É quase um grito, é uma denúncia também”, finaliza.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;