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White Stripes leva o público de São Paulo ao êxtase
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
06/06/2005 | 08:13
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Um homem e uma mulher juntos podem dar em casamento, em comédia romântica das mais melosas, e até em acidentes musicais como Jane e Herondy. Mas, olhe que pode dar um rock dos diabos, emprestando a Raul Seixas a teoria de conspiração da paternidade do gênero. Sobretudo se o homem em questão for Jack White e a mulher, Meg White, a dupla que responde pelo nome The White Stripes e que encerrou no sábado à noite, no paulistano Credicard Hall, a turnê brasileira de divulgação de Get Behind Me Satan, seu quinto e mais recente álbum. Se o rock, que já teve atestado de óbito lavrado e caduquice diagnosticada, tinha de dar em algum lugar após seus 51 anos de existência. Uma dessas paradas é obrigatoriamente o som dos White Stripes.

O dueto de Detroit, Estados Unidos, fez um show para ninguém da platéia chorar as pitangas por ter se despedido dos R$ 90, R$ 120 ou R$ 200 pagos pelo ingresso. Precinho salgado, mas justificado por uma hora e 40 minutos de alta tensão, de energia conduzida por um rock ao mesmo tempo minimalista – afinal, o som dos Stripes se sustenta apenas nos combos bateria (Meg) e guitarra (Jack) ou bateria e piano (Jack) – e completo, ao buscar matrizes como o rock de garagem, o blues, o country, o folk, o punk. Stooges, Led Zeppelin, AC/DC, Aerosmith, Dylan e Creedence em convulsão harmônica.

Uma energia tal, que chegou a um momento de simbiose entre ídolo e fãs: Jack White desceu à platéia para entregar a um dos espectadores um exemplar do novo álbum, Get Behind Me Satan. O vocalista e guitarrista, vestido qual um mariachi de bodega, infringiu a imortalidade atribuída aos popstars num dos instantes mais extasiantes da noite, ao deixar o palco cuja cenografia remetia a palmeiras e a ícones de natureza religiosa, como a maçã do pecado original e imagens de santos.

Antes, já havia enfeitiçado a platéia com uma sucessão de canções levadas à base da agressividade e da simplicidade. O show abriu com Blue Orchid, single do novo trabalho, emendou com Black Math, do disco-sensação Elephant, e daí por diante equilibrou hits, covers como Jolene (de Dolly Parton) e material inédito, como Red Rain, Little Ghost e The Nurse. Alguém esmoreceu na apresentação das músicas desconhecidas? Pelo contrário. O dinamismo ao vivo dos dois músicos, cujo parentesco permanece desconhecido, impossibilita que o ânimo se apague.

Meg não toca bateria; ela espanca os tambores, pura e simplesmente, e subverte sua imagem angelical, cândida, quase vestal. Jack, comprometido ao mesmo tempo com breves solos e com a crueza, imprimia igual agressividade nas guitarras e nos violões – em pelo menos duas oportunidades, ele rompeu as judiadas cordas de seus instrumentos. Como tempero, uma intensa cumplicidade cênica da dupla, especialmente na disposição dos microfones usados por Jack, um deles colocado de frente para Meg.

A concentração maior de toda essa energia foi, evidentemente, durante a execução dos hits, Dead Leaves in the Dirty Ground e Hotel Yorba entre eles. Veio o intervalo e ainda faltavam Fell in Love with a Girl, I Just Don’t Know what to Do with Myself e o hino Seven Nation Army. A platéia, ansiosa, suplicava pela volta dos Stripes ao entoar, feito um canto gregoriano, os acordes de Seven Nation Army.

Atendendo a pedidos e à tradição do bis, Meg e Jack voltaram para uma nova sessão com cinco músicas. Foi a vez de I Just Don’t Know... e de Seven Nation Army. Foi a vez de a platéia explodir e experimentar a qualidade do piso da casa de espetáculos. Alguns queixosos notaram a ausência de Fell in Love with a Girl. Paciência! Não foi desta vez, mas Jack White prometeu: pretende voltar a São Paulo “o mais rápido possível”. Quem sabe?



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