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Passageiros enfrentam caos na região
Camila Galvez, Maíra Sanches e Renan Fonseca
02/06/2011 | 06:09
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A população que depende de transporte coletivo no Grande ABC enfrentou ontem verdadeira maratona. Com a decisão de motoristas e cobradores de ônibus de cruzar os braços, passageiros tiveram de pedir carona, pegar táxi, recorrer ao transporte clandestino ou enfrentar quilômetros a pé para chegar e voltar do trabalho. A estimativa do sindicato é que cerca de 1 milhão de pessoas foram prejudicadas.

Os táxis foram a opção de quem não podia contar com ônibus e trólebus, ontem. Assim, o trânsito entre as sete cidades ficou ainda pior. E mais uma vez faltaram agentes para orientar os motoristas.

Em Mauá, muita gente que já sabia da greve se adiantou e acordou mais cedo. A caminhada foi longa para quem morava no Jardim Zaíra e Jardim Oratório. Um aglomerado marchava ao longo das avenidas Antonia Rosa Fioravanti, Presidente Castelo Branco e Mário Covas Júnior rumo ao terminal da CPTM. Ao lado, a estação de ônibus central estava vazia e escura. Funcionários jogavam cartas. Nas catracas da CPTM, a multidão se espremia.

A auxiliar de limpeza Regini Barbosa, 48 anos, saiu a pé do Zaíra pouco antes das 5h. Às 6h30, tinha chegado à estação ferroviária, mas já sabia que perderia parte do dia de trabalho. "Em Santo André os ônibus também não estão circulando, e onde presto serviços é muito distante da estação de trem. Vou me atrasar no mínimo duas horas", avaliou.

A situação não ficou melhor na volta. Vans clandestinas tomaram conta do trânsito, e quem não quis se arriscar fez o trajeto a pé. "Vou demorar 50 minutos, e amanhã (hoje) começa tudo outra vez", lamentou o marceneiro Pedro Ferreira, 40.

Não foram poucos os que optaram pela bicicleta, caso de José Novato da Silva, 55. "Saí de casa às 4h30 e quase congelei de frio. A gente paga caro pelo transporte, e quando precisa fica na mão", reclamou. Em Santo André, o desespero das pessoas foi visível nos portões de saída na Estação Prefeito Celso Daniel. Ali, desembarcaram passageiros que dependiam dos ônibus para chegar em outros bairros.

O taxista João Souza Ribeiro, 58. trabalha no turno da noite, e às 6h repassou a veículo a um colega. "Agora, vou caminhar 13 quilômetros, mais de uma hora, até o bairro Represa", disse.

Às 18h30, a maior revolta dos passageiros era a paralisação das linhas de trólebus, que funcionaram até o fim da tarde. "Por que não pararam todos de uma vez? Agora não temos como voltar para casa", gritou o mecânico Paulo Roberto Cruzeiro, 56, que tentava seguir para Piraporinha, em Diadema.

Enquanto o aviso sonoro de que os ônibus não voltariam a circular ecoava pela estação, aos poucos a multidão começava a se dissipar. O autônomo Joel Selmo, 32, decidiu voltar a pé para o bairro São Mateus, na Zona Leste da Capital. "Demora pelo menos uma hora e meia, mas fazer o quê?"

No terminal de trólebus do Centro de São Bernardo, também parado, a auxiliar administrativa Tatiane Barbosa de Oliveira, 28, esperava a boa vontade dos amigos. "Liguei para várias pessoas pedindo carona. Agora é esperar."

 

Usuário enfrenta frio e pontos lotados

 

O dia amanheceu gelado e com pontos de ônibus lotados na região. A greve anunciada para 0h de ontem, que prometia paralisar trabalhadores de ônibus municipais, intermunicipais e do Corredor ABD, não vingou como esperavam os grevistas - uma vez que as linhas operavam com frota reduzida na maioria dos terminais -, mas causou transtorno aos trabalhadores e estudantes.

Muitos passageiros foram pegos de surpresa. Em São Bernardo, apenas 15% da frota que serve as linhas municipais estavam circulando por volta das 5h. Quem precisava ir à Capital ou a outras cidade da região ficou ‘plantado' no ponto de ônibus, como Marcelo Batista, 34 anos, que saiu de casa às 4h. Morador do Jardim da Represa, ele trabalha no Rudge Ramos, em um frigorífico. Ele aguardava próximo ao Paço. E estava disposto a voltar para casa a pé, caso o ônibus não passasse. "Caminhando, demora umas duas horas", calculou.

Por volta das 6h, uma van particular passou pelo ponto.Encostou vazia e partiu lotada. Cobrava R$ 3 (e não aceitava passe) para levar os mais desesperados até a Uniban do Rudge Ramos. A cada ônibus que raramente parava no ponto, outro empurra-empurra.

No Terminal Piraporinha, em Diadema, mensagem reproduzida pelos alto-falantes avisava que as linhas 287 (Santo André Oeste - Diadema), 287P (Santo André Oeste - Piraporinha), 288 (Ferrazópolis - Jabaquara) e 288P (Ferrazópolis - Piraporinha) circulava com frota reduzida a 70% da capacidade total. Foi o bastante para deixar as plataformas abarrotadas.

Houve quem entrasse no terminal mas não conseguisse entrar no ônibus, por conta da lotação. Foi o caso da auxiliar de escritório Laura Mendonça. "Vim de carona de São Bernardo até aqui. Quando vi que ia ser impossível entrar no ônibus, liguei para um amigo que vai me dar uma carona até o Metrô Jabaquara."

No Terminal Diadema, a situação era ainda pior. Para chegar ao Centro, os moradores não enfrentaram problemas, uma vez que as linhas municipais estavam operando normalmente. No entanto, dentro do terminal, motoristas nem paravam nos locais previstos, porque já vinham lotados de outros pontos da região. De vez em quando, aparecia um carro vazio. Era mais um corre-corre em busca de um espaço. (Camila Brunelli)

 

 

Especialistas orientam a buscar reparação por danos

 

O passageiro que se sentir lesado com a paralisação dos ônibus pode entrar na Justiça, mas especialistas lembram que os usuários precisam apresentar provas consistentes.

"Para entrar com ação contra as empresas de ônibus, é preciso comprovar que o dano causado foi exatamente decorrente da suspensão do atendimento", explicou o professor e diretor do curso de Direito da Universidade Municipal de São Caetano, Vander Ferreira de Andrade.

Andrade orientou que o passageiro pode ir até os juizados especiais, que julgam ações de pequenas causas, ou entrar com a ação por meio de advogado, caso o prejuízo exceda 20 salários-mínimos. "No primeiro caso vai acontecer prévia conciliação. Se não houver acordo, é feita audiência pública."

O presidente da Comissão de Direito e Relações de Consumo da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, José Eduardo Tavolieri de Oliveira, lembrou que a população tem o amparo do Ministério Público. "É quem vai exercer a função de fiscal da lei e intervir sempre a favor da sociedade. A pessoa que se sentir lesada pode procurar a promotoria e entrar com ação civil pública", informou o advogado.

 

PROCON

O Procon de Diadema informou que a entidade não toma parte sobre violações causadas pelas greves dos ônibus.

A Justiça do Trabalho, sindicatos dos motoristas de ônibus e entidades públicas são responsáveis em conter os abuso e garantir que haja número mínimo de coletivos em circulação. (Bruna Gonçalves)

 

Ainda é cedo para avaliar prejuízos, avalia empresário

 

O presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo, Valter Moura, avaliou que o prejuízo causado pela greve de ônibus deve ser alto, mas que ainda é cedo para mensurar.

"Hoje (ontem) muitas empresas não tiveram o quadro de funcionários completo por conta da paralisação do transporte. Isso gera um problema para as indústrias, já que a falta de funcionários afeta a produção, assim como outros segmentos", enumerou.

Para Moura, a região vive bom momento de desenvolvimento e uma greve como essa afeta toda a população. "Todos têm a perder com a greve. Tivemos crises que foram resolvidas com o diálogo e bom-senso. Acredito que isso deva acontecer para que não cause ainda mais prejuízos." (Bruna Gonçalves)




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