Até mesmo quem ficou decepcionado com o furo que o Metallica deu em 2003 deve concordar: ainda bem que não veio. Passadas crises pessoais, brigas, um álbum tão irregular que hoje é praticamente ignorado e outro encarado como renascimento, a banda que passou pelo Brasil (dia 28 em Porto Alegre; sábado e domingo em São Paulo), é certamente mais coesa e deixou impressões muito melhores do que deixariam há sete anos, quando a turnê do famigerado St. Anger foi cancelada na América do Sul.

Bem-resolvido, o Metallica reconquistou grande parte da vitalidade dos primeiros anos nesta turnê, que divulga o álbum "Death Magnetic", lançado em 2008. Juntos e sóbrios, James Hetfield (vocal), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammet (guitarra) e o integrante mais recente, Robert Trujillo (baixo), são a maior prova de que dar adeus aos anos de loucura não afetou em nada a capacidade de tocar alto e pesado. Nesse sentido e por conta do fôlego impressionante dos quarentões, parecem banda iniciante.

Os quase 30 anos de existência, porém, ensinaram ao quarteto que um dos segredos da vitalidade é manter o respeito com a "família", temor que utilizam hoje para se referir aos fãs nos muitos momentos puxa-saco. Os shows em São Paulo foram exemplo de profissionalismo do grupo: quase nada de atraso (no primeiro dia, foram dez minutos, no domingo, meia hora), seleção farta de sucessos de execução e uma boa dose de resgates dos dois primeiros álbuns: "Kill'em All" (1983) e "Ride the Lightning" (1984). De levar a velharada às lágrimas e impressionar a molecada que conhece a banda apenas dos últimos trabalhos.

Não faltou também muita conversa. "Vocês estão se sentindo bem?" era o mantra de Hetfield. Nem lembrou aquele vocalista que parecia querer se encostar em shows nos anos 1990. Os resultados da mudança não poderiam ser mais positivos: a turnê vem esgotando ingressos por onde passa. Sinal de que o metal está longe de morrer.