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Igreja acolhe desabrigados há um mês
William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
10/07/2008 | 07:03
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O salão paroquial da Igreja de São João Batista, em Mauá, ainda segue como abrigo provisório para as pessoas que, há exato um mês, deixaram o terreno invadido no Jardim Olinda. As cerca de 30 famílias que têm vivido no local são aquelas que ficaram sem opção alguma de moradia com a reintegração de posse. A situação tem incomodado a Diocese de Santo André, que cobra solução concreta do Poder Público.

O convívio segue normas estabelecidas pelos próprios sem-teto, que antes de irem para a igreja passaram dois meses acampados na área invadida. Banhos de cinco minutos, das 15h às 19h, proibição de cigarro no local e de relações sexuais, além de toque de recolher às 22h, são algumas das "leis" ditadas pelos alojados. A comunidade tem doado alimento suficiente para três refeições por dia - às vezes, quatro, com um café da tarde.

A desempregada Tatiane Aparecida Gonçalves dos Santos, 21 anos, esteve acorrentada às grades do Fórum Municipal no início de junho, como forma de protesto. Ontem, era mais uma entre as pessoas que estão no salão paroquial e buscam solução alternativa até a inclusão em programas habitacionais. "É uma situação humilhante, apesar da boa vontade da igreja", afirmou.

A permanência no local causou mal-estar entre a Diocese de Santo André - responsável pela paróquia - e o Poder Público. O bispo Dom Nelson Westrupp fez ontem um desabafo com aquilo que considera descaso das autoridades. "São feitas reuniões e mais reuniões para dar R$ 200 a cada família, e isso nunca se concretiza. Ficamos perplexos, não podemos aceitar", explicou.

O religioso disse ainda que o salão paroquial tem outras funções e que a situação já passou do limite. "É algo emergencial, então não deveria durar um mês", disse.

A Prefeitura de Mauá se comprometeu a realizar o cadastramento das famílias desabrigadas até amanhã, depois de uma série de entraves burocráticos. A bolsa-aluguel de R$ 200 para moradia está prevista para sair na próxima semana.

‘Atendimento à pessoa não é prioridade'

A falta de comprometimento com o ser humano é apontada pelo bispo Dom Nelson Westrupp como uma das principais falhas de todas as esferas de governo. O atendimento à pessoa não é visto como prioridade. "Preferem construções de vulto, mas se esquecem da casa do necessitado", lamentou.

O bispo de Santo André questiona o papel do Poder Público, em geral, na atualidade. "A arrecadação de impostos tem batido recorde ano após ano, mas a Saúde, a Educação e a Segurança continuam em crise. Em nome da dignidade humana, não podemos aceitar que isso ocorra", criticou.

O bispo ressaltou que a Igreja Católica atua sempre como parceira em situações de emergência - como no caso dos acampados de Mauá -, por ser solidária. Porém, não pode arcar sozinha com a função de dar abrigo aos desassistidos. "Isso compete a quem recolhe o dinheiro da população", afirmou.




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