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Piano Steinway registra sua história no ABC
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
12/06/2003 | 20:10
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Há cinco anos, a sociedade civil do Grande ABC estava mobilizada em torno de um nobre objetivo: trazer para a região um exemplar Steinway & Sons, um dos pianos mais reputados do mundo. O projeto se concretizou e o resultado foi um avanço enorme na qualidade da agenda musical. O instrumento, modelo Grand Concert D, proporcionou a vinda de pianistas como Nelson Freire, Arnaldo Cohen e Jean-Louis Steuerman.

Também neste ano, a empresa fabricante deste piano comemora 150 anos de sua filial em Nova York. O criador da marca é Henry Engelhard Steinway, que fabricou o primeiro instrumento na cozinha de sua casa, em 1836, na Alemanha. É deste país, da cidade de Hamburgo, que veio o piano que está em Santo André, mais precisamente no Teatro Municipal da cidade.

Este ano, o Steinway foi tocado pelo jovem Rogério Zaghi e por Eudóxia de Barros, ambos em concertos com a Orquestra Sinfônica de Santo André. “O piano é usado com muita parcimônia, pois não pretendemos utilizá-lo muito, mas utilizá-lo bem”, diz o maestro Flavio Florence, titular da Sinfônica andreense.

A programação para o segundo semestre ainda está sendo montada, mas segundo Florence haverá datas para solistas se apresentarem ao piano. Grandes nomes têm sido raridade na agenda recente da orquestra. “Isso ocorre por conta de escassez de recursos, mas é uma situação temporária. A Associação Pró-Música (responsável pela gerência do uso do piano) depende muito das flutuações do mercado”, afirma.

No entanto, esses não são motivos para descuidar da conservação do instrumento. “Ele está em perfeitas condições, e isso não é força de expressão”, diz o maestro. Meses depois de chegar ao Brasil, o Steinway ganhou uma casamata, na qual fica guardado quando não é utilizado. Técnicos especializados cuidam da manutenção. A afinação é feita a cada apresentação – nos ensaios e no concerto – por profissionais reconhecidos no ramo, como Olívio Valarini.

Tirar o piano do Municipal de Santo André não agrada a Florence. “Se precisar sair, que seja pouco, pois transportá-lo envolve o risco de acidente e estragos a longo prazo”, afirma. O instrumento já foi para São Bernardo, São Caetano e Mauá. Esteve também no Theatro Municipal de São Paulo, em uma apresentação de Arnaldo Cohen. “Ele não gostou do piano de lá e pediu este”, afirma Florence.

A campanha – Cohen, pianista carioca radicado em Londres, sabe bem porque o Steinway da região seria melhor para seu concerto. Afinal, foi ele quem o escolheu entre cinco instrumentos que testou na fábrica da Steinway, em Hamburgo. Cohen foi também quem comprou a primeira cota na campanha Um Piano para o Grande ABC.

Iniciada em 20 de março de 1998, a campanha dividiu o valor do piano e os gastos com impostos e transporte, um total de R$ 176 mil, em 88 cotas, número correspondente à quantidade de teclas do instrumento.

Florence diz ter ficado “orgulhoso” por participar da campanha. “O Grande ABC viveu momentos de país civilizado. Foi um movimento que mobilizou a sociedade civil, assim como acontece nos países de maior tradição cultural. A sociedade se organiza e não deixa só para o governo o funcionamento dos grandes equipamentos culturais. Aquela campanha foi um exemplo de cidadania absolutamente incrível”.

A empolgação do maestro não é gratuita. O movimento, organizado pelo Diário, foi absorvido rapidamente por músicos, empresários, intelectuais e outros segmentos da sociedade. Nas duas primeiras semanas foram vendidas 33 teclas. Em 1º de julho, já era paga a primeira parcela. E, cinco dias depois, Cohen fazia os testes para a escolha do piano.

O primeiro concerto, com Cohen e a Sinfônica andreense, ocorreu oito meses depois do início da campanha. O Teatro Municipal de Santo André assistiu primeiramente à execução da peça Soneto del Petrarca nº 104, do húngaro Franz Liszt (1811-1886). A estréia com a orquestra foi com o Concerto nº 5 em mi bemol maior (ou O imperador), do alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827). Uma pré-estréia aconteceu, em agosto, em São Caetano, por conta dos 30 anos do Imes (Instituto Municipal de Ensino Superior).




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