Cultura & Lazer Titulo
Lui Mendes faz seu primeiro protagonista
Rodrigo Teixeira
Da TV Press
27/07/2003 | 19:16
Compartilhar notícia


Lui Mendes encara Turma do Gueto, que vai ao ar pela Record às segundas-feiras, quase como um recomeço. O ator carioca estava sem aparecer na televisão desde 1998, quando seu personagem Nando deixou a trama da novela Corpo Dourado antes do desfecho final. Desde então, fez apenas uma pequena participação no filme A Partilha, de Daniel Filho. Por isso, Mendes não vacilou quando lhe ofereceram o protagonista do seriado e a estabilidade de, pelo menos, 16 capítulos no ar. “Estou ganhando um salário bacana que dá para sobreviver e morando em um flat em São Paulo, bancado pela produção. É um começar de novo para mim”, diz o ator de 32 anos.

Lui Mendes foi chamado para viver o professor Luís Roberto na terceira fase do programa, após a saída de Netinho de Paula, que encabeçava o elenco.

Além de ganhar o primeiro protagonista de uma carreira que começou em 1993 com o personagem King Kong da minissérie Sex Appeal, da Globo, Mendes comemora o fato de o programa se manter como o mais visto da emissora, alcançando média de 10 pontos e picos de 14.

“O programa tem suas carências de produção, mas aprendi que é preciso se adaptar às situações difíceis para crescer na profissão”, afirma Mendes, que ficou conhecido ao interpretar o homossexual Jefferson na novela A Próxima Vítima (1995), na Globo.

TV PRESS - Por que você ficou tanto tempo sem fazer televisão?
LUI MENDES - Talvez eu tenha errado com pessoas do meio televisivo. Mas quem não errou? Acho que passei por uma fase ruim, estava cansado do que estava virando a profissão de ator, acabei me expondo muito e fiquei desgostoso com as pessoas novas que estavam trabalhando comigo. Não acho que seja um motivo apenas. Digamos que passei por um castigo, mas agora voltei fortalecido.

TV PRESS - Como é protagonizar um programa engajado com a negritude no Brasil?
MENDES - É a oportunidade de falar diretamente com a classe mais carente. Este personagem me coloca na posição de atingir este público mais pobre. Desde que apareci na minissérie, as pessoas nas ruas em São Paulo só me chamam de professor. É uma responsabilidade também. Porque na minha opinião é a oportunidade para os negros se reconhecerem na TV, algo difícil de acontecer, porque a maioria dos personagens negros não tem história própria em novelas e programas em geral. E eu posso, inclusive, enriquecer o texto do personagem, algo impossível para mim na Globo, por exemplo.

TV PRESS - Mas você tem vontade de voltar a atuar em uma produção global?
MENDES - Não é que eu almeje voltar para a Globo. O importante para mim é trabalhar bem para ganhar personagens interessantes e que repercutam junto ao público. Trabalhar com uma estrutura menor do que a da Globo seria um baque para mim, por exemplo, se não tivesse ficado longe da TV e em baixa na carreira. Aprendi que temos de trabalhar com o que temos na mão.

TV PRESS - Você estudou na periferia, como os alunos da fictícia Quilombo?
MENDES - Não. Estudei no Colégio Pedro II, de classe média, na Zona Sul do Rio. A minha família morava na Cidade de Deus, mas eu morava com a patroa da minha mãe – que eu chamo de avó –, e ela só deixava eu ir para lá nos fins de semana. Então, vivia em dois mundos bem diferentes. Lembro que entrei para o Tablado por acaso. Eu ia soltar pipa perto do teatro. Um dia, a Maria Clara Machado estava chegando com sacolas e a ajudei a levá-las para dentro. Ela acabou me levando para o grupo e fiz minha primeira peça com 15 anos.

TV PRESS - Afinal, como é viver finalmente um protagonista negro?
MENDES - Para falar a verdade, tenho até medo de falar sobre isso. Mesmo sendo a primeira produção que encabeço, tenho de me policiar e tomar cuidado com tudo que falo, porque as pessoas podem interpretar mal. Mas acho que o que falta mesmo é vontade dos autores em escrever, porque, quando querem, escrevem bem. O Sílvio de Abreu, por exemplo, criou genialmente uma família negra em A Próxima Vítima sem ser negro.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;