A montagem do segundo escalão federal mal começou e a disputa por cargos entre o PMDB e o PT já ganhou dimensão de crise política. Com os petistas avançando sobre posições tradicionalmente ocupadas pelo PMDB, os ânimos acirraram-se a tal ponto que o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), teve uma conversa tão áspera com o futuro ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), que beirou o rompimento.

É o que relata dirigente do PMDB, segundo quem o bate-boca telefônico entre os dois foi ríspido nos decibéis e no conteúdo. "Parece que vocês não aprenderam com o mensalão. Depois não venham correr atrás do PMDB para resolver os problemas (do governo e do PT)", disse Alves ao ministro, revoltado com a notícia de que seu partido perderia o cargo mais estratégico do ministério e o comando da Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

Outro peemedebista explica que a referência ao episódio do mensalão foi para lembrar ao ministro o momento mais crítico do governo Lula, quando o apoio do PMDB foi fundamental para manter a governabilidade.

Segundo este interlocutor, o ministro tentou acalmar Alves e contemporizar. "Não se preocupe. Vocês terão tudo lá (no ministério)", teria dito Padilha de acordo com o peemedebista. "Não quero nada. Fique com tudo", reagiu o líder.

O nervosismo de Alves dá a medida exata da pressão que ele tem recebido dos liderados, insatisfeitos não apenas com o quinhão de poder que lhes foi subtraído como com o negociador. Vários deputados avaliam que o líder negociou mal e ainda permitiu que o partido saísse do embate carregando sozinho a pecha de fisiológico, embora todos tenham brigado por espaço.