Economia Titulo Previsão
Indústria de máquinas pode começar a demitir
Leone Farias
do Diário do Grande ABC
25/11/2010 | 07:30
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A indústria nacional de máquinas e equipamentos pode começar a demitir a partir do primeiro semestre de 2011, se não houver mudança nos rumos da economia. É o que afirma o presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Luiz Aubert Neto.

Depois da crise global de crédito, que estourou no fim de 2008 e gerou o corte de 20 mil postos de trabalho no setor ao longo de 2009, as fabricantes voltaram a contratar neste ano e, no mês passado, atingiram, pela primeira vez, o patamar pré-crise. Totalizaram, de novo, 250 mil vagas, mesmo número de outubro de 2008, quando as turbulências financeiras mundiais ainda não haviam afetado a atividade.

No entanto, o presidente da Abimaq cita que, embora o número de empregos tenha se recuperado, a receita das fabricantes é 15% menor do que há dois anos. Ele explica que as fábricas brasileiras estão produzindo mais, embora tenham sido obrigadas a reduzir margens de lucro e preços, por causa da concorrência estrangeira. Isso porque se intensificou a entrada de máquinas importadas no mercado nacional.

Nos primeiros dez meses de 2010, o saldo da balança comercial (exportações menos importações) ficou negativo em US$ 13 bilhões, caminhando para alcançar os US$ 15,6 bilhões de deficit projetados pela associação até o fim deste ano.

Isso porque as aquisições de máquinas de outros países cresceram 31,8%, ao totalizarem US$ 20,3 bilhões neste ano até agora, enquanto as vendas de maquinário ao Exterior (US$ 8,9 bilhões de janeiro a outubro de 2010) subiram 18,8%.

DESINDUSTRIALIZAÇÃO- O levantamento da Abimaq traz vários dados que apontam tendência de desindustrialização (ou seja, a substituição da produção nacional pela importação).

Exemplos: em outubro, o faturamento nessa área caiu 9,5% frente a setembro e, pelo terceiro mês seguido, a carteira de pedidos diminuiu. As encomendas representavam 22,5 semanas de produção em setembro, e agora somam 22,1 semanas.

Além disso, a produtividade, medida pelo faturamento dividido pelo número de empregados, está 33% menor do que há dois anos. Segundo Aubert Neto, normalmente o nível de emprego se ajusta à evolução das vendas, ou seja, se não houver reação das encomendas, as empresas começarão a demitir.

Para o presidente da Abimaq, o momento é de preocupação. "Estamos no fio da navalha. O Brasil precisa decidir se vai ser só exportador de commodities. Não existe nenhum país desenvolvido que não tem uma indústria de base forte", acrescenta.

 

Associação pleiteia desoneração fiscal

Para Luiz Aubert Neto, com a invasão de produtos importados e as condições desiguais de competitividade em relação às fabricantes estrangeiras, a indústria nacional corre riscos. Para ele, seria necessário que o setor brasileiro de máquinas e equipamentos fosse desonerado de tributos, como ocorre em outros países.

Outra reinvidicação da entidade é que o PSI (Programa de Sustentação do Investimento) - linha especial de crédito do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), que oferece juros de 5,5% ao ano para a compra de máquinas e que se encerra em março - continue por prazo indeterminado. "A manutenção do PSI é vital."

O dirigente explica que outros países, como o Japão, os Estados Unidos e a Alemanha, oferecem crédito com juros até menores para a aquisição de maquinário.

Ainda segundo Aubert Neto, o Brasil, por ter a taxa de juros básica (a Selic) mais alta do mundo, penaliza as fabricantes. Isso porque o País atrai capital especulativo e, com isso, a entrada de dólares gera valorização do real, o que tira rentabilidade dos exportadores e facilita a importação.




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